PAGINA 9 [ GERAL ]-00000001Há pessoas que se distinguem por suas qualidades e defeitos. Essas são as comuns, a maioria de nós. Mas há aquelas que se destacam pela mansidão de seus gestos e de suas ações, como nossa Mãe, Maria Francisca Teresa, que sempre caminham para um futuro que materialmente sabem que não alcançarão, e, por isso, procuram preparar outras pessoas para aportar numa realidade melhor, onde prevaleçam a generosidade, a tolerância e o perdão. Propõem um mundo de compreensão, de maneira tão discreta que se tornam anônimas na comunidade onde agem, até mesmo em suas próprias famílias. Preferem que outros cheguem avante, renunciando a glória de aparecer como figura de proa, e trilham leve, o seu caminho de bondade.

Nossa mãe nasceu em Caxias, de família estruturada no Cristianismo, nos valores da Igreja Católica. Estudou o Primário, o Ginásio e o curso Normal no Educandário São José das Irmãs Capuchinhas e frequentava a Igreja. Ainda jovem foi professora em Caxias, seus pais pertenciam à Congregação Mariana e desde pequena, Mamãe acompanhava as procissões, participando dos eventos religiosos. Concluído o nível médio, participou de teste e ganhou uma “bolsa” do SESC – Serviço Social do Comércio e veio trabalhar em São Luís em 1959.

Submeteu-se ao vestibular para a Faculdade de Serviço Social, onde concluiu o curso em 1963 e, em 64, fez pós-graduação em São Paulo em Sociologia e Política. Logo após, foi para Brasília, onde exerceu o magistério e, por concurso, entrou para o quadro de Serviço Social do Distrito Federal.

Com a bandeira da modernização, por indicação da professora Mirtes Hayckel, o governo do Maranhão providenciou sua vinda para São Luís, onde ela se engajou na equipe que organizou a Fundação do Bem Estar Social, o Serviço Social do SIOGE e trabalhou com os filhos de hansenianos no Educandário Santo Antônio, dirigido pela saudosa jornalista Maria Inês Saboya.

Na administração do prefeito Vicente Fialho, Mamãe coordenou o Serviço Social de São Luís. Casou-se em 1967 na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no bairro de Fátima, casamento celebrado pelo padre Xavier. Teve três filhos e desde então, dividiu seu tempo entre sua família e suas atividades profissionais.

Se como assistente social inclinou-se para os necessitados, como pessoa defendia as causas das minorias, naqueles anos, totalmente discriminadas; para ela, todos eram filhos de Deus. Procurou orientar seus filhos pautando-se nos valores da Igreja Católica. Quando os colocava para dormir, os embalava com músicas religiosas e repetia sempre que o “alheio é sagrado”, “quem quer cavalo sem defeito só anda a pé” e “o mundo é dos mansos”.

Toda essa mansidão de Mamãe se transformava em coragem na defesa de seus filhos ou do segmento pobre em que atuava. Seus descendentes são unânimes em lembrar que “Mamãe era uma alma forte num corpo frágil”.

Há pouco mais de três anos, já afastada de suas atividades profissionais, nossa Mãe se fragilizou fisicamente e se hospitalizou. O amor que plantou na força da mocidade, colheu em dobro no leito de doente. Seus filhos e netos se fizeram presentes para agradecer à Mãe Tequinha o bom caminho que ela procurou, com desprendimento, ensiná-los. Morreu nos braços de seu neto que, aos prantos, a levou para o Hospital na esperança de resgatá-la da morte. Faleceu em casa, com a tranquilidade com que viveu.

Esforçou-se muito para escapar da morte só para ver seus netos completamente realizados profissionalmente, como hoje estão seus três filhos. Porém, não resistiu para vê-los na plenitude de seus trabalhos, mesmo abrindo um clarão que os iluminou para completar suas trajetórias.

Em seu velório, no último sábado, seus familiares e amigos se fizeram presentes. Irmãos vieram de longe para apresentar seu último adeus e seus filhos e netos agradeceram, emocionados, à mãezinha Teca a maneira bondosa como os orientou para a vida.

A sua tão só existência inspira grandes lições de vida e renova nossa esperança de que ainda exista algo de divino nos corações humanos.

Mamãe traz à lembrança a imagem de um anjo de braços sempre abertos, protetor e vigilante, que a todos acolhe e a tudo perdoa. Nada é capaz de interromper esse amor. Nem a sorte que toma a vida, nem a dor que há na morte. Essa foi uma garantia prestada por Mamãe a vida inteira: de que nem as dúvidas que surgem com a perda, diminuem a certeza de que esse amor sobrevive e que jamais abandona.

Ademário (Marido)
Lítia Teresa (Filha)
Marcus Mateus (Filho)
Ademeire (Filha)
Sarah Teresa (Neta)
Davidh Luís (Neto)

Minha Querida Mãe, meu “Tesourinho”

Não posso conjugar você no passado, pois você, Mãe, está viva no meu presente, no meu futuro e, se não acreditar nisto, irei morrer.

Preciso de você, mãe, onde quer que esteja me abrace, me toque, me beije, e acalme meu coração com suas canções de ninar, pois este tempo que Deus nos deu, foi pouco para vivermos esta singela paixão amorosa, uma vez que você é tudo para mim: é o ar que respiro, é o sorriso do meu sonho, a realização do meu viver, a luz da minha sabedoria, o perfume da minha alegria. Você é meu único e eterno “Tesourinho”. Você, Mãe, é minha filha, minha irmã, minha namorada, minha maior e melhor amiga, você é minha Mãe.

Lhe procuro nas ruas, nas ladeiras, nas praças, onde saíamos para passear, brincar e chorar de tanto sorrir. Lhe procuro na brisa do vento, na escuridão do mar, no nascer do sol e no brilho das estrelas. Lhe procuro em todos os lugares, pois preciso lhe encontrar. Nesta sua nova morada, me vejo pegando nas suas mãozinhas e passeando neste bosque de nuvens brancas, dançando, correndo e pulando como duas criancinhas inocentes e de coração puro, saltitando de felicidade numa só alma.

Você sabe, como sempre lhe falei, que dou minha vida pela sua, que troco tudo por um sorriso seu. Por isso lhe peço que enxugue minhas lágrimas de dor e desespero e me conforte com olhar de ternura. Meu amor por você é tão grande… tão grande… que não cabe neste mundo. Tenho certeza de que Deus abençoa este amor infinito para ser vivido outra vez. Sempre irei lhe proteger onde quer que esteja.

Eu lhe amo, minha vida eterna!
Eu lhe amo, meu tesourinho!

Ademário (Marido)
Lítia Teresa (Filha)
Marcus Mateus (Filho)
Ademeire (Filha)
Sarah Teresa (Neta)
Davidh Luís (Neto)