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Edivaldo ou Castelo…?

Por: Nonato Reis

Em artigo para este JP, publicado em maio deste ano, e intitulado ‘Procura-se um prefeito’, tentei traçar o perfil de gestor para uma cidade como São Luís, com uma população superior a um milhão de habitantes e, por este critério, classificada como metrópole. Naquela época, defini este tema como mais importante até do que a escolha daquele que terá a responsabilidade de governá-la pelos próximos quatro anos. Porque não basta ser prefeito. Há que ter visão política e capacidade para enfrentar desafios de toda ordem.

Por se ter expandido irregularmente, sem obedecer a um plano de crescimento, São Luís foi avançando sobre suas áreas livres, como uma onda desgovernada. O processo de ocupação ocorreu sem levar em conta a construção de vias de acesso para interligação com os corredores urbanos e o oferecimento de serviços básicos como pavimentação, água e esgotos tratados, saúde, educação, transportes, lazer. A ausência do poder público fez com que se multiplicaram as invasões e os conflitos pela posse da terra. Cerca de um terço da população de São Luís não possui o título de propriedade de seus imóveis, o que gera um grave clima de tensão social. Haroldo Tavares é o marco regulatório, quando se tenta definir um ideal de prefeito. Isso nos anos 70.

Ele inaugurou um novo jeito de governar, preparando a cidade para atender às demandas do presente e do futuro. Infelizmente não deixou seguidores. Foi quem primeiro administrou olhando para frente, tentando visualizar cenários e efetuar intervenções que se projetassem no tempo. Teve a ideia brilhante de construir um anel viário circundando a cidade velha. Dá para imaginar como seria hoje o acesso ao Centro Histórico de São Luís sem essa avenida de contorno?

Os prefeitos que o sucederam se limitaram a tocar a máquina burocrática, insensíveis à expansão urbana e à demanda dela decorrente. Prova disso é que as obras mais expressivas, do ponto de vista de infraestrutura, foram realizadas pelo governo do Estado. Aí estão a Vala da Macaúba, hoje imersa em lixo e abandono, os elevados do Trabalhador, da Cohama e da Cohab e avenidas como Holandeses, Guajajaras, Litorânea e Ferreira Gullar. Aos prefeitos coube taparem buracos, fazerem remendos, em vez de ampliarem os horizontes da cidade.

Hoje, quando o eleitor vai às urnas para escolher entre Edivaldo Holanda e João Castelo como prefeito para os próximos quatros anos, a pergunta que realmente importa formular é: que tipo de gestor interessa a uma cidade do porte de São Luís? Ou, para ligar uma ponta com a outra, que atributos os eleitores gostariam de ver no próximo governante desta cidade? Talvez uma forma de responder a este questionamento seja lançando um olhar sobre a paisagem urbana.

Vista de um plano geral, a cidade parece um assombro, com aquela verticalização que tomou conta de bairros como Ponta d’Areia, Renascença e Calhau. Se ajustarmos a visão para um ponto mais específico, os problemas começam a tomar forma. São Luís não tem estrutura de cidade.

Até mesmo bairros considerados nobres, como Renascença e Calhau, carecem da presença do poder público. Os edifícios foram construídos sobre terrenos baldios. Existem áreas imensas sem qualquer urbanização, onde o mato cresce livre como se fosse uma zona rural. O sistema viário é primário, formado basicamente de ruas. Não há praças, parques, ajardinamentos. Quase inexistem avenidas. Faltam equipamentos urbanos, rede de serviços públicos. Salta aos olhos a falta de um sentido orgânico.

Isso acontece porque São Luís não tem sido planejada para suportar o peso das suas necessidades. Um prefeito para esta cidade deve saber observar os espaços e ordená-los, segundo a lógica de ocupação. Desenvolver ações que atendam as demandas atuais e também futuras. Em outras palavras, isso se chama governar com planejamento estratégico.

Aí, salta aos olhos a pergunta que não quer calar: Castelo e Edivaldo têm esse perfil de gestor? São Luís é uma cidade com enormes problemas. O prefeito tem que ser um líder. Mas o que é um líder? É aquele que sabe formar grupos e delegar competência, chamando para si a responsabilidade de acompanhar o trabalho e cobrando a correção de eventuais equívocos. Em última instância, o prefeito deve conhecer a cidade, para saber priorizar as ações e distribuí-las segundo o grau de necessidade.

Volto à questão: Castelo e Edivaldo reúnem esses atributos? Um bom prefeito para São Luís não precisa pensar como um intelectual nem ser um conservador ou um progressista. Essas coisas, que faziam tanta diferença tempos atrás, estão superadas. Até porque o discurso dogmático se esvaziou, quando Jackson Lago exerceu o cargo de governador, e foi sepultado, quando o PT optou por formar essa aliança esdrúxula com o grupo Sarney.

O eleitor parece ter se cansado dos velhos bordões, das críticas exacerbadas e de bodes expiatórios. Experimentou direita e esquerda, testou ideologias e pragmatismos, e viu que sua vida não mudou para melhor por conta dessas escolhas. Eis por que uma massa considerada de eleitores, ao longo da campanha eleitoral, assistiu aos discursos e às propostas dos candidatos com um misto de desconfiança e distanciamento.

Não por acaso, em plena reta final do segundo turno um contingente expressivo ainda não tinha certeza sobre em quem depositar a sua confiança a admitia pender tanto para um lado como para outro. E pelo visto essa dúvida só será dissipada no momento de encarar a urna eletrônica. Porém, mesmo após a divulgação do vencedor deste pleito, a pergunta de antes continuará a martelar a mente de muitos. Edivaldo ou Castelo é o prefeito certo para São Luís? Ou nenhum deles o é?

*Jornalista.

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