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Criminosos mandaram um sinal ao governo e à sociedade

Só as investigações poderão dizer quem armou os assassinos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Pedro Gomes. O crime aconteceu 26 dias depois do “lance de mestre” de Michel Temer, decretando intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro.

Em Brasília,no plenário da câmara dos deputados, parlamentares do PSOL e de partidos de esquerda fazem ato e participam de sessão solene em homenagem a vereadora Marielle Franco, do RJ, que foi assassinada na noite de ontem. Houve várias manifestações de militantes dos direitos humanos e da defesa das mulheres. Pedro Ladeira/Folhapress

Um dia antes de sua execução, Marielle denunciou o assassinato de Matheus Melo, um jovem trabalhador que saíra da igreja, deixara a namorada em casa e ia para o Jacarezinho, onde vivia: “Chega de matarem a nossa gente”, escreveu a vereadora. A família de Matheusacusa uma patrulha da PM de ter atirado nele.

A execução da vereadora revela que os criminosos mandaram um sinal ao governo e à sociedade, demarcando a extensão de seu poder: “aqui a gente manda e mata”. Quando delinquentes se julgam protegidos pela anarquia e, sobretudo, pela desorientação e derretimento da autoridade, esse é um desdobramento natural da crise.

O presidente Michel Temer preferiu o “lance de mestre” da intervenção federal na segurança do Rio a uma natural intervenção ampla e desmilitarizada no governo de Luiz Fernando Pezão e do MDB. Dois episódios de demarcação de território ocorridos com chefes militares merecem ser lembrados.

2018, QUEM MANDA?
A execução de Marielle e Anderson foi uma mensagem da bandidagem pública e privada ao general Braga Netto. Trata-se de serviço de profissionais, tanto pela escolha do alvo como pela própria ação. A ideia de que há “direitos humanos”, mas não podem existir “direitos dos manos” é apenas um trocadilho vulgar. Para os criminosos privados e públicos, esse é o melhor dos mundos. Quando o dilema é ter medo do bandido ou da polícia, não faz diferença temer a um ou a outra.

A intervenção no Rio começou com o exercício demófobo da ameaça de buscas, apreensões e capturas coletivas, seguida pelas retroescavadeiras da prefeitura destruindo quiosques em Vila Kennedy. Brasília continuou produzindo planos e parolagens. Havia até um evento programado para comemorar o primeiro aniversário do “lance de mestre”. Contra a bandidagem do Estado, até agora nada.

Nessas cabeças, uma negra que cresceu em favela do Rio defendendo mulheres pobres e homossexuais é apenas mais uma. Assim como um seringueiro do Acre era apenas mais um. E assim mataram Chico Mendes.

MARÇO: 2018
14 de março de 2018: Marielle Franco, negra e favelada da Maré, conseguiu se formar na PUC, militou no PSOL, elegeu-se vereadora e foi assassinada no Estácio. Morreu também o motorista Anderson Gomes.

Elio Gaspari Nascido na Itália, recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por ‘As Ilusões Armadas’.

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