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Texto do Pr. Hamilton Rocha publicado na PG do dia 08/09/2019

CRURIFRAGIUM

“Então os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele fora crucificado. Mas, chegando a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas” (João 19:32,33).

Pr. Hamilton Rocha*

A lei mosaica determinava que nenhum corpo deveria ficar no madeiro à noite toda e certamente não no sábado (Deuteronômio 21:22,23). O corpo exposto contaminava a terra (Gálatas 3:13).

Com o propósito de abreviar a morte dos condenados os soldados romanos quebravam-lhes as pernas. Isso provocava choque, perda de sangue, asfixia e dores lancinantes. O ato de quebrar as pernas era denominado crurifragium. O crurifragium foi aplicado aos dois malfeitores. Porém, quando foram administrar em Jesus constataram que ele já estava morto. Então, um dos soldados perfurou-lhe o lado com uma lança, e logo saíram sangue e água (João 19:34).

O crurifragium nos faz lembrar que Jesus é o nosso Cordeiro Pascal. O cordeiro que os israelitas sacrificavam para celebrar a Páscoa não poderia ter defeito algum e nenhum de seus ossos poderia ser quebrado (Êxodo 12:46; Números 9:12; Salmo 34:20).

Pessoas no futuro olharão para o traspassado. “Ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram, e todas as tribos da terra se lamentarão por causa dele. Sim. Amém” (Apocalipse 1:7). Parte dessa profecia se cumprirá quando Cristo voltar à terra. Israel se arrependerá e os gentios incrédulos tentarão fugir da ira divina e do Cordeiro (Romanos 11:25-27: Apocalipse 6:15-17).

Somos semelhantes àquele soldado romano que perfurou o corpo de Jesus com uma lança. Nós o traspassamos quando negamos o seu sacrifício, negamos seu ensino, deixamos de honrar nossos compromissos com o Reino e sua igreja.

As pernas de Jesus não foram quebradas, mas quantas vezes temos quebrado nossas promessas ou nossos votos? Algum amigo quebrou a promessa que havia feito? Seu chefe não manteve sua palavra? Mentiram para você? Antes de tomar alguma atitude, responda: Como Deus reagiu quando você quebrou as promessas que fez a Ele?

Dói ser enganado, mas antes de se revoltar pense: Como Deus reagiu quando você mentiu para Ele? Você foi abandonado, esquecido, deixado para trás? Você já negligenciou a Deus? Sempre foi obediente a Ele? Como Deus reagiu?

Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor alemão morto pelos nazistas em razão de sua fé, disse que se Deus não fosse capaz de sofrer, também não seria capaz de amar, pois o amor implica sofrimento. E a dor de quem ama é ver a pessoa destruindo-se e não poder fazer nada, respeitando a liberdade dela.

Nosso Senhor chorou por causa da rebeldia de Jerusalém. Chora por causa dele, com ela e em favor dela. Chora porque sofre com ela.

Por que Deus não se manifestou de maneira clara, de modo que Jerusalém se quebrantasse de joelhos aos seus pés? A resposta é simples: Deus se manifestou. Deus não constrangeu Jerusalém porque a contrapartida do amor é a liberdade da pessoa amada. Deus nos ama e nos deixa livres para responder ao seu amor.

“Eu quis, mas não quisestes” (Lucas 13:34). Como conciliar a soberania de Deus com a liberdade humana?

Um rei declarou guerra a um país vizinho, invadiu as terras e levou para o cativeiro homens, mulheres e crianças. A princesa também foi levada. Logo ele se apaixonou por ela. Porém ela não tinha o brilho nos olhos de uma mulher apaixonada e ele perguntava: O que posso fazer para conquistar o seu amor? Deixando-me voltar para o meu povo, dizia ela. Mas se eu deixar você partir talvez eu perca você para sempre, dizia o príncipe. Mas ela retrucava: Se eu ficar aqui cativa e não tiver minha liberdade, o senhor jamais terá o meu amor. Mas se eu for e voltar, serei sua para sempre.

Há uma velha canção francesa que diz: “L’amour est l’enfant de la liberté”. O amor é filho da liberdade.  Sei que Deus me ama e também quero muito amar a Deus. Esforço-me para usar minha liberdade de ir e voltar para Ele.

Jesus não vai morrer novamente em uma cruz. A obra da Redenção está concluída. Não quero ser como aquele soldado romano que quis praticar o crurifragium em Jesus, porém o  perfurou com uma lança. Não quero traspassá-lo com minhas ações nem quebrar minhas promessas. Que eu posso sempre voltar para os braços do Pai.

• Pastor da Igreja Batista do Calhau em São Luís do Maranhão

 

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