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Uma questão de números

Por Abdon Marinho (advogado)

E o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) joga um balde de água na propaganda ufanista do atual governo. Mais um dado negativo a se juntar a nossa vasta coleção de tragédias.

Agora, foi divulgado que o cidadão maranhense possui uma expectativa de viver dez anos menos que um cidadão catarinense. Neste quesito, expectativa de vida, o Maranhão toma de volta a lanterna do estado de Alagoas.

A propaganda acerta em dizer que o estado é de gente guerreira. Deve ser por saber que vai viver bem menos – estatisticamente – que a média dos cidadãos brasileiros.

É verdade que nos últimos 35 anos a expetativa de vida dos maranhenses evoluiu positivamente, saltou de 57,5 em 1980 para 69,7 em 2013. Apesar disso ainda ficou 5 anos abaixo da média nacional e 10 anos abaixo da média do Estado de Santa Catarina, o melhor colocado no ranking.

Em todo caso, já representa um avanço, se considerarmos que a expectativa de vida do Maranhão em 1980 era praticamente a mesma dos primeiros séculos da Era Cristã e, até, inferior a de muitos países durante o período conhecido como Idade Média. Hoje, estamos no mesmo patamar de Filipinas, Guatemala, Indonésia, Iraque, Micronésia, Quirguistão e Rússia.

A enxurrada de propaganda do governo que se despede bem que podia esclarecer como esses números do IBGE são tão díspares da realidade dourada que tentam vender. Como é possível aceitar que o Maranhão – para onde aoorreram milhares de nordestinos em busca de melhores dias –, esteja, em quesito tão importante, atrás de Alagoas, que, nem de longe, possui riquezas como as nossas?

Há que registrar, ainda, que Alagoas melhorou a expectativa de vida em 14,7 anos, enquanto que no Maranhão o aumento foi de apenas 12,2 anos, no mesmo período de 1980 a 2013.

A propaganda oficial trata de ocultar esse tipo de informação assim com que, apenas a região metropolitana de São Luís, com 1,4 milhões de habitantes, já registrou, até novembro, 979 homicídios. Isso significa, segundo fontes abalizadas, que se mata seis vezes mais aqui que na capital de São Paulo, com 11 milhões de habitantes. Mata-se mais, inclusive, que países como a Colômbia, que já foi sinônimo de violência por conta da produção de narcóticos.

A violência brutal é um dos fatores a justificar a baixa expectativa de vida do maranhense. A maioria dos assassinatos são de jovens com menos de 20 anos. Outro dia foi assassinado um com apenas 12 anos. O governo não entende assim, acha que a violência é sinônimo de desenvolvimento. Vê-se que não fala coisa com coisa.

Assim como na questão da violência e da baixa expectativa de vida, os atuais governantes tentam faturar feitos que não são seus e que tampouco correspondem a realidade. Dizem, por exemplo, que retiraram 2 milhões de maranhenses da pobreza extrema. Ora, essas pessoas sairam da estatísticas dos que passavam fome graças ao programa do governo federal ‘Bolsa Família”. São pessoas que não sairam da miséria, apenas mudaram a relação de dependência. Quase todos voltarão a engrossar as fileiras dos famélicos caso algum dia esse programa deixe de existir.

O governo estadual, não satisfeito em apropriar-se de um dado que não é seu, segue na mesma cantilena do governo federal de que é possível combater miséria com distribuição de esmolas. Estão equivocados, só se combate a miséria com produção, com a inserção destas pessoas que vivem de bolsas e seguros – os mais variados –, na geração de riquezas, com trabalho.

Números positivos são tão escassos que proporciona situações inusitadas. Apareceram entanto faturar os dados positivos do acesso educação, quando na verdade os dados eram de 2010 e referiam-se, por óbvio, aos governos de José Reinaldo tavares e Jackson Lago.

O governo acha é um grande feito manter os gastos com pessoal dentro dos limites estabelecidos na Lei de Responsabilidade Fiscal. Ora, manter isso é, na verdade, nada além de sua obrigação e com certeza, privando a população de serviços essenciais, não é à toa que o Maranhão possui uma dos menores contingentes policiais do Brasil, estando bem longe da per capita considerada satisfatória. A mesma coisa acontece com o número de médicos onde também temos uma per capita baixa, professores que faltam para inúmeras disciplinas, agrônomos e técnicos que não existem para assistirem os produtores.

Em resumo, os dados positivos que o governo planta na sua mídia – de que entregará o estado com as contas em equilíbrio –, é fruto de distorções administrativas, pois faltam médicos, policiais, professores, engenheiros, técnicos e diversos outros profissionais nos quadros da administração. Tanto isso é verdade que, no apagar das luzes, o governo está chamando diversos concursos para o próximo governo realizar. Ou seja, faltam profissionais em funções essenciais de segurança, saúde, educação, produção ao passo que o governo mantinha/mantém centenas de pessoas em cargos comissionados, muitos deles, recebendo sem a devida contraprestação laboral.

O Maranhão, em 31 de dezembro de 2014, encerra um ciclo que durou quase meio século. Quase cinquenta anos de equívocos e políticas, quase todas desconectadas do interesse público, fazendo com que o estado que outrora, por suas riquezas, era a esperança do Brasil à situação em que se encontra hoje, em último lugar em quase tudo que é indicador social, atrás até de Alagoas, em expectativa de vida. Com certeza, não temos muito do que nos orgulhar.

Abdon Marinho é advogado.

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