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Um museu apocalíptico

Quando o país comemora os 30 anos do fim da ditadura militar não são boas as lembranças que nos trazem a Fundação da Memória Republicana – o Museu de Sarney – que, estatizada desde 2011, já custou R$ 8 milhões ao Estado para manter o Convento das Mercês, um patrimônio histórico e cultural tomado ao povo de São Luís. Sua única função é guardar documentos, imagens e homenagens relativos ao período em que Sarney ocupou a Presidência da República.

Lembra a derrota do Movimento pelas “Diretas Já”, lembra a morte de Tancredo Neves e lembra a assunção de José Sarney ao cargo de presidente do Brasil. A partir daí tivemos que enfrentar a maior inflação da história do país, assistir ao engavetamento da CPI da Corrupção e suportar a pose de um presidente que só sentia bem cercado de generais. E vieram os primeiros “planos econômicos” corroer todos os ganhos dos trabalhadores brasileiros e até a vitória do corrupto Collor de Melo.

São lembranças que não fazem parte do acervo da Fundação. Por exemplo, a concessão irresponsável e sem critérios de canais de rádio e TV para garantir um ano a mais de mandato ao então presidente José Sarney que, por toda força, quis garantir para si o mesmo tempo de mandato dos generais da ditadura: seis anos. Lembra esta Fundação que nos cinco anos na Presidência, Sarney pouco ou quase nada fez pelo Maranhão e seu povo, talvez apenas iniciar a Ferrovia Carajás que até hoje não foi concluída.

A abrupta tomada do Convento das Mercês mereceu muitos protestos e ações na Justiça desse Estado, mas o todo poderoso coronel em roupas civis curvou o Poder Judiciário e a Assembleia Legislativa do Maranhão e acabou estatizando seu Museu, obrigando o povo maranhense a pagar por lembranças que o país inteiro faz questão de esquecer.

Um Museu da Memória Republicana não pode ficar restrito apenas às lembranças de um único presidente, principalmente se representa um inexcedível culto à personalidade e uma verdadeira inversão da real memória desse Estado e do país. E, principalmente, o Maranhão sabe o que recordar depois de 50 anos de mandos e desmandos de uma dinastia que revogou todos os princípios da democracia para aqui e alhures se manter no poder.

Naquele Museu não há documentos referentes à Lei de Terras e suas consequências para o trabalhador rural; não está ali o discurso no melhor estilo “Terra, Família Propriedade” que deu curso à ditadura; não consta de seu acervo a pobreza absoluta dos maranhenses, nem os subsídios ao latifúndio e a diáspora dos trabalhadores rurais tangidos pela polícia dos que aqui governaram sob comando de José Sarney.

A privatização, portanto, tem uma razão maior de ser: a Fundação da Memória Republicana esconde a verdade, muitas verdades que a fariam ainda mais apocalíptica do que já é. (Editorial do JP)

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