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Sarney chora

Emocionado, José Sarney (PMDB-AP) despediu-se da Presidência do Senado com um longo discurso em que fez um balanço dos seus 58 anos de história legislativa, citou projetos aprovados ao longo do último ano e os desafios que a Casa deve enfrentar em 2013. Em dois momentos, o senador chorou e foi bastante aplaudido ao final de sua fala nesta sexta-feira.

Momentos antes de abrir a votação para a escolha do novo presidente, Sarney cumprimentou o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), falando dele já como eleito e não como candidato. “Sua eleição a presidente da Casa mostra a confiança de seus pares, e nos dá a garantia de um mandato em que o Senado Federal seguirá seu caminho de transparência e equilíbrio democrático. Meus votos de êxito em suas tarefas.”

José Sarney defendeu Renan, sem mencionar as acusações contra ele, dizendo que seu colega peemedebista é “uma das mais expressivas lideranças de nosso partido”. “Eleito senador em 1994, 2002 e 2010, tem sido um legislador criterioso, com importantes iniciativas, como a do Estatuto do Desarmamento, um articulador hábil e um poderoso formador de consensos.”

Exaltando o próprio perfil, que classificou como conciliador, Sarney ressaltou sempre ter trabalhado em conjunto com a mesa diretora da Casa e com as lideranças. “Como democrata, sempre a todos ouvi, procurei compreender a posição dos adversários, respeitar as opiniões divergentes, soube que todos temos uma contribuição a dar, busquei incansavelmente o diálogo e a conciliação, harmonizar os conflitos. Assim, a democracia é para mim um modo de vida.”

Sarney, que presidiu o Senado por quatro vezes, frisou ainda que o “Parlamento sofre hoje, em todo o mundo, críticas da mídia e incompreensão da sociedade”. Ele atribui o fato à velocidade com que as informações circulam nos dias atuais. “Parece que as leis podem ser feitas sem o complexo processo de examinar suas repercussões e alternativas, ouvir os especialistas e a sociedade, formar consensos e maiorias. Contrastam com o tempo do Legislativo os tempos do Executivo e os do Judiciário, que podem decidir por um ato solitário.”

Sarney explicou o motivo de sua emoção naquele momento: “Estava encerrando uma etapa da minha vida. Jamais vou ser presidente do Senado novamente.” Sarney se despede: 58 anos a favor de quem estiver no governo, 58 anos a serviço de si mesmo.

Renan frauda a história ao exaltar Sarney

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), novo presidente do Senado, prometeu que a Casa será autônoma na relação com o Executivo — a autonomia do peemedebismo tem a moralidade um taxímetro. Disse ainda que vai criar uma comissão da transparência, ou qualquer coisa desse gênero.

No discurso de posse, dirigiu um agradecimento especial a José Sarney (PMDB-MA), o presidente que sai:

Foi ele (Sarney) que nos conduziu da escuridão da ditadura para a liberdade democrática”.

Uau!

Renan entende de história o que entende de ética. Vejam que coisa! Sarney, o homem que presidia o PDS, que comandou o partido na derrota da emenda das diretas; que assinou um artigo na Folha de S. Paulo, então, defendendo entusiasticamente o direito que sua legenda teria conquistado nas urnas de eleger o presidente no Colégio Eleitoral, este homem se tornou, na versão de Renan, o Diógenes do regime democrático, a iluminar a escuridão com a sua lamparina perscrutadora!

Ora, vá plantar batatas, senador Renan Calheiros!

Na Presidência da República, relevo, Sarney não foi especialmente intolerante. Aliás, sua atuação como senador, tudo considerado, foi mais deletéria do que como chefe do Executivo. Mas daí a ter sido aquele que nos conduziu à democracia…

Sarney foi, quando muito, passageiro de um comboio. E só assumiu o papel de protagonista num determinado período porque beneficiado pelo acidental. Foi um caso típico, para assombrar a teoria, de Fortuna descasada da virtù.

Os que nos conduziram à democracia foram aqueles que, pacientemente, construíram e alimentaram a resistência pacífica à ditadura. Sarney foi usuário do regime ditatorial e, porque é Sarney e soube trair os seus na hora certa, acabou como um dos principais beneficiários da democratização. (Reinaldo Azevedo. Vídeo: Prof. Hostílio Caio)

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