Fechar
Buscar no Site

Salvemos o Maranhão

O que está acontecendo no Maranhão é simplesmente inaceitável. Não desconheço que, em todo o Brasil, existe um quadro lúgubre e sombrio nos sistemas prisionais dos estados e gigantescas dificuldades na própria segurança pública. Mas, evidentemente, o Maranhão está num patamar acima nessa tragédia nacional. Estupros de presos e familiares que os visitam, assim como decapitações, não podem ser considerados acontecimentos dentro de um padrão normal, mesmo no quadro de quase barbárie que caracteriza nossas prisões.

Dominado há mais de 50 anos por uma oligarquia cevada pela ditadura militar e que infelicita o seu povo, a terra de Gonçalves Dias tem os piores indicadores socioeconômicos do país. A tragédia que ocorre nas prisões e na segurança pública, também ocorre na educação, na saúde, na assistência social e em outras tantas esferas.

É a receita de sempre: a oligarquia vive à tripa forra e o povo, na miséria.

Quando surgiram as primeiras fotos de presos decapitados, o chefe do clã reagiu afirmando que, no Maranhão, a violência estava restrita às prisões e que as ruas viviam um clima de tranquilidade. Além de mentirosa, a informação é escandalosa. Como se nas prisões não estivessem pessoas cujos direitos também não devessem ser respeitados.

Para infelicidade do velho cacique, em seguida começaram os atentados nas ruas, com incêndios de ônibus com passageiros dentro – o que já levou à morte de uma menina e a queimaduras graves em muitas outras pessoas. Um desses ônibus foi atacado na Vila Zequinha Sarney, que, como quase tudo no estado, tem o nome de um integrante do clã.

Para azar de Sarney pai, ficou patente que a violência não estava circunscrita aos presídios.

Depois de um providencial sumiço, a governadora, filha do chefe do clã, apareceu. De início, culpou um antigo secretário. Depois, passou a afirmar que o Conselho Nacional da Justiça (CNJ) seria responsável pelas dificuldades, por ter feito um relatório denunciando as violações de direitos humanos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, onde morreram 60 presos em 2013.

O cenário maranhense já tipifica a hipótese de intervenção federal – parece ser esse o entendimento do Procurador Geral da República – nos termos do artigo 34, da Constituição da República. Por força de alianças eleitorais, a oligarquia tem sobrevivido. Já está mais do que na hora de se pensar menos em resultados eleitorais e mais no sofrido povo maranhense, condenado ao longo desses anos à miséria e à ignorância.

Não há apelos por governabilidade que justifiquem esse afago nos oligarcas. Esperemos que 2014 seja o ano da redenção.

O povo do Maranhão merece.

Wadih Damous é presidente da Comissão da Verdade do Rio e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB

O conteúdo deste blog é livre e seus editores não têm ressalvas na reprodução do conteúdo em outros canais, desde que dados os devidos créditos.

mais / Postagens