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Quem disso usa, disso cuida

Por Chico Viana (médico e vereador de São Luís)

Confesso aos leitores que nunca tive vocação para escudeiro, e fico sempre com um pé atrás quando alguém se arvora como tal. Quando, desvairada e apaixonadamente, sem nenhuma dignidade pessoal, empenha sua credibilidade e o seu respeito nesta tarefa nada nobre. Infelizmente, no Brasil, em geral, e no Maranhão, em particular, há uma execrável concepção que tem medrado, tornando-se um critério consolidado no julgamento das pessoas: quem não elogia não é amigo; quem critica é um inimigo figadal que merece ser dizimado, pela petulância de ter seus próprios conceitos e livre arbítrio. Claro, quem elogia, a princípio, pode até ser considerado um amigo; depois, para que a fila ande, apenas mais um serviçal.

Tenho sempre isso em mente, quando me disponho a contrapor-me a factóides, mentiras que tantas vezes ditas tornam verdade; ao sofisma, às meias verdades, e assim o faço sem me alinhar incondicionalmente a ninguém, usando apenas o meu bom senso. Mesmo porque os radicais, e biliosos, que sempre acham defeitos no adversário (inimigo) e bondades no correligionário (amigo), nunca se deram bem com o passar do tempo. Terminam por ser repetitivos, e monótonos em suas cantilenas, seja de qualquer lado, ou facção. Há, entretanto, ocorrências que não dá para a gente ficar calado. Uma comichão ética nos impulsiona a repor os fatos, e não as versões. Um fato: o então governador do Maranhão, em pleno gozo de suas prerrogativas, faz convênios com várias prefeitura para a realização de obras adredemente apontadas e detalhadas no documento. A Prefeitura de São Luis também foi incluída neste rol; teve dinheiro disponibilizado, e, como é de lei, depositado no Banco do Brasil. O governador, porém, é derrubado, assume outro, que, unilateralmente, anula todos os convênios, e pede os recursos de volta. O prefeito não concordou, ouviu sua Procuradoria e decidiu recorrer à Justiça com o escopo de provar que nada havia de errado, que o convênio era um ato de pleno direito, feito por uma autoridade em gozo de suas prerrogativas e poderes. Não gastou o dinheiro, o recurso foi transferido de um banco oficial, para outro, a Caixa Econômica, e está sendo objeto de questionamento na Justiça, que, até agora, não determinou o seu destino.

Algumas prefeituras, depois de devidamente acordadas com o governo, devolveram os recursos, que pouco tempo dormiram nas burras do tesouro estadual. Imediatamente, foram devolvidos, com o mesmo objetivo, e através de um convênio igual. Óbvio que somente aqueles que se submeteram a uma aliança, literalmente comprada com os recursos públicos, o que resultou na reeleição do atual governador, foram contemplados. O prefeito foi convidado a ir ao palácio, e foi, no zelo dos interesses do município. Lá, propuseram-lhe fazer a devolução dos recursos com a promessa de que tudo seria refeito. Só que, da lavra da Procuradoria, ele levou na algibeira, um convênio igual, pronto, ao termo das assinaturas. Quando lhe foi dito que os recursos retornariam da mesma forma, e no mesmo quantitativo, assim que fosse formalizada sua restituição, o prefeito esgrimiu o novo convênio e topou na hora: toma lá da cá! A governadora não aceitou e contrapropôs: não devolveria a verba, mas se comprometia a fazer as obras nele previstas.

Ora, amigos, o prefeito não é trouxa, e é um gato escaldado pelos caldeirões do grupo no poder. O prefeito se recorda de que, quando o senador José Sarney era presidente e sua esposa, d. Gardênia, assumiu a prefeitura derrotando um candidato seu, patrocinado por uma estrutura nunca vista numa eleição municipal, deixaram como espólio um prédio saqueado e completamente destruído por um incêndio criminoso. Até contas do Fundo de Participação do Município foram bloqueadas para pagar débitos fiscais que ela não fez, numa situação igual a todas as prefeituras do país, mas que só nossa, na ocasião, foi penalizada.

Na cidade hoje, de ponta a ponta, consta que o prefeito sumiu com os recursos. A mídia concentrada na mão de aliados é poderosa, e transforma, em um passe de mágica, deslavados embustes em cristalinas verdades.

Um repórter me pergunta: – O que que o senhor acha do sumiço dado pelo prefeito nos R$ 73 milhões de reais? -Setenta e três milhões de onde? – Um dinheiro que ele pegou do Estado, e escondeu…. É isso que todo mundo sabe, infelizmente, mas um dia a verdade será reposta, mesmo que não seja agora com a matraquear das rotativas, e a algaravia da mídia eletrônica, rádios e TVs, a impedir que a população ouça e veja os fatos claramente, e não a versão distorcida.

Como dinheiro sumido, se o prefeito proclama que o município o tem sob sua posse, esperando só uma decisão final da Justiça para devolver, ou aplicá-lo nas obras que a cidade precisa? Em definitivo, não foi tomada nenhuma decisão, e ele a espera para cumpri-la.

Mas quem disso usa, disso cuida, e justifica-se a obsessão do atual governo por sumiços. Entre 1995 e 1996, pagou U$ 33 milhões, cerca de R$ 100 milhões na época, hoje aí por R$ 500 milhões, para a construção de uma estrada Paulo-Ramos/ Arame, com 126 kms de extensão. O dinheiro não sumiu, foi recebido pelas construtoras EIT e Planor. Para fazer bonito, a autoridade fez sumir foi a estrada, que nunca existiu. Construíram-na anos depois: foi paga duas vezes, E quase sumiram com R$ 1,3 bilhão, já na boca da caçapa, de recursos da Sudene para a construção de uma siderúrgica, a Usimar. Mal deu tempo de cavar um sumidouro em um terreno, onde só havia uma placa e um tapume. Lá sumiram R$ 44,2 milhões.

Agora, para não dizerem que não sou isento, de vez em quando, em vez de sumir, o dinheiro aparece. No começo de março de 2002, acharam no escritório da Lunus 26.900 cédulas de R$ 50, um total de R$ 1.3 milhão. Apareceram nove donos, mas no fim o dinheiro ficou na mão de quem achou; afinal, achado não é roubado; quem perdeu foi descuidado. Ou não?

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