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Quando um sonho se realiza

Por Yglésio Moyses

Eu frequento o Socorrão 1 desde os tempos de acadêmico. Tenho um grande carinho pelo hospital. É um sentimento muito maior que o fato de estar como Diretor do Hospital, porque como Diretor, você sabe que pode durar alguns dias, meses, anos, enfim: você tem a certeza de que não é eterno no cargo e que cada dia só lhe resta trabalhar o hoje pensando em 10 anos pra frente e sempre colocando o coletivo na frente do individual.

Temos que ter em mente que de trata apenas de um cargo político, portanto podemos ter algum tipo de limitação ao nosso trabalho e temos que ter em mente que somos apenas um hospital e não toda a Saúde, que somos parte do Sistema e não O SISTEMA, portanto dependemos de muitas coisas ao redor estarem funcionando pra que nosso trabalho seja perfeito. Se nós atendemos bem a todas as pessoas que nos procuram e outros lugares não fazem da mesma forma, ao invés de termos mais vagas, teremos mais corredores superlotados. Mesmo com todos os problemas dos seis meses, creio que avançamos bastante na adversidade.

Fizemos bastante? Fizemos sim. Fizemos suficiente? É claro que não, a população merece muito mais, os funcionários também e a Instituição ainda tem muito a avançar.

Yglesio

Estamos mudando alguns setores de local do hospital para uma casa próxima (por sinal, conseguimos reduzir em 25% o valor do aluguel, economizando 30.000 reais por ano pra Prefeitura) , de modo a ter novas áreas para que os funcionários tenham onde repousar no seu horário de descanso (lembro que todos tem direito a um momento de descanso). Em breve isso estará pronto.

Quanto aos pacientes, não há mais falta nas escalas médicas, conseguimos em tempo recorde no município fazer um processo seletivo que vai reduzir bastante o déficit de profissionais de enfermagem, psicologia, fisioterapia. Quem ganha com isso são os pacientes e os colegas de trabalho, que ficarão menos sobrecarregados. Os nossos pacientes hoje tem mais médicos pra serem vistos, antes não tínhamos plantonista fixo na área vermelha, que atende os casos mais graves. Hoje temos plantonista e isso nos dá muita tranquilidade. Sabemos que salvamos muitas vidas com apenas essa ação.

Os pacientes, funcionários e acompanhantes hoje comem melhor do que comiam antes, não é uma comida de restaurante, mas é uma boa comida. Às sextas-feiras muitas vezes temos uma deliciosa feijoada.

Os colegas médicos e enfermeiros da urgência hoje tem um segurança pra regular a entrada dos pacientes e para garantir a segurança no atendimento. Eu lembro que foi uma das nossas primeiras ações. Sempre quando eu estava no plantão isso me incomodava, vez por outra um paciente chegava alcoolizado tentando bagunçar o plantão ou algumas vezes ameaçar a equipe. Hoje, seis meses e alguns dias depois de ter assumido o desafio, fico feliz de meus colegas estarem mais seguros e os pacientes também. Lembro que temos um Serviço Social bem mais motivado hoje porque exerce as funções da profissão e não coisas que não lhes pertencia e era “empurrada”.

É claro que não temos a ilusão de agradar todo mundo. No início, quando se busca arrumar a casa de verdade e não ficar apenas maquiando a realidade, é claro que não conseguimos agradar a todas as pessoas. Seria muito fácil ir atendendo cada interesse, mas com isso sem dúvida quem sofreria mais seria a população e a Instituição como um todo.

Fomos chamados algumas vezes de ditatoriais, mas entendemos o direito de todos nos criticarem e agradecemos a essas pessoas que nos criticam: é pela crítica que nos mantemos humanos, é a crítica que nos salva de acharmo-nos infalíveis.

Pra quem não sabe, é um prédio com mais de 50 anos de idade, feito sem qualquer planejamento. A estrutura é a pior possível, isso é resultado de muitas reformas falsas que nunca mudaram por exemplo, a parte estrutural do hospital. Na verdade, pro Socorrão 1 ter JEITO, torna-se necessário um hospital de igual tamanho ou maior pra podermos reforma-lo como ele precisa e merece.

Por enquanto, temos um hospital mais limpo do que antes e não temos mais aquela nuvem de moscas de antes, que tanto nos incomodava desde a época da reforma. O restante da parte sanitária começamos em setembro com a reforma. Teremos mais leitos de UTI (o dobro), um centro cirúrgico e uma central de material dentro dos melhores padrões. Voamos com arquitetos, fomos assistidos por engenheiros no trajeto e assim conseguiremos dar mais leitos de UTI pra São Luís. Quantas vidas não serão salvas daqui em diante com mais UTIs? É indescritível a sensação de participar disso.

Fazer uma reforma no Socorrão 1 nunca é fácil. Estamos aguardando até hoje o processo de troca do piso da rampa, desde a nutrição até a Enfermaria Cirúrgica. Coisas da burocracia, infelizmente.

Por ser um prédio pequeno e pouco funcional, se você quiser desativar 10 leitos pra fazer uma pequena reforma no hospital, demoram até 3 semanas pra liberar essa enfermaria, pois os pacientes ficam muito tempo e diariamente chegam dezenas de novos doentes de todos os cantos do MA. Lembrando que a maioria são graves e não dá pra simplesmente mandá-los pra unidades de menor complexidade hospitalar. Seria preciso um novo Socorrão… Seria necessário conseguir realizar um sonho…

Depois de 6 meses de muito trabalho, estamos iniciando um novo momento para a cidade de São Luís. Mantivemos uma das coisas mais importantes que fizemos de maneira silenciosa. Pra realizar esse sonho, era preciso muito esforço, visão e obstinação. Eu lhes digo, amigos: conseguimos. A cidade conseguiu…

Andando ali próximo ao hospital, indo visitar a casa do Arquivo Médico do Socorrão, eu nunca tinha prestado atenção antes, mas como aquela paixão da sua vida, que você olha pela primeira vez e pensa: essa paixão eu vou viver. Eu entrei numa paixão irremediável com esse terreno, o único terreno livre do Centro de grandes dimensões (mais 2000 m2), o único terreno que daria pra construir da melhor maneira possível um novo Socorrão, um hospital novo, abrigando os sonhos e o merecimento de todos que ali trabalham, dando condições dignas e um leito para tirar cada uma das pessoas que luta contra a morte de maneira humilhante no meio de um corredor. Sim, eu confesso: uma parte de mim morre todo dia quando vejo pessoas ali naqueles corredores. Dói na alma não ter todas as ferramentas pra consertar as coisas, mas quando não se tem as ferramentas, cabe a nós consegui-las.

E nós conseguimos colocar a bola em jogo: o terreno foi decretado de utilidade pública e será desapropriado utilizando o orçamento do Hospital Municipal Djalma Marques.

Hoje eu já consigo ver um novo hospital lá na frente desse espaço-tempo, com cerca de 250 leitos, 50 deles de UTI pra resolver nos próximos 10 anos a demanda do hospital.

Eu vejo no meu coração a alegria de saber que o seu José e a Dona Maria não vão morrer por falta de UTI… Eu projeto na minha cabeça a sensação de de dever cumprido ao saber que o jovem Raimundo não precisa trocar de roupa no meio do corredor, que ele terá um leito e banheiro dignos pra usar e que a menina Antonia vai ter sua intimidade preservada.

Para os funcionários, vejo um local novo, limpo, planejado, informatizado, dentro das normas de ergonomia e higiene pronto para eles. Vejo locais para lanchar dignamente, um local adequado para o repouso, enxergo uma internet de banda larga interligando todo o hospital, agilizando os processos, diminuindo erros, economizando papel e protegendo a natureza. Vejo 180 vagas de garagem subterrâneas para que as pessoas não tenham seus veículos roubados nas ruas por trabalharem no hospital ou irem lá visitar alguém. Vejo as pessoas que construindo o hospital tendo o seu esforço recompensado… eu tenho essa esperança. Basta cada um de nós trabalhar pra isso, dentro ou fora da administração. É preciso dar as mãos e esquecer as diferenças.

Hoje, o terreno é de utilidade pública e em breve estaremos nele, pois a Justiça garantirá o direito da coletividade e saberá indenizar de maneira justa os antigos donos do terreno. Hoje, quem é vitoriosa é a população de São Luís, que merece todo o nosso esforço. Essa vitória é pra cada um de vocês que nos lêem agora : de cada conhecido seu e de cada desconhecido também.

Para os que pensam que não começamos, já foi iniciado o projeto arquitetônico, fruto da parceria vitoriosa do Socorrão 1 e a Secretaria de Urbanismo, na pessoa do Secretário Antonio Araújo e sua competente equipe de arquitetos. Definimos a estrutura básica do hospital. O Socorrão antigo e o Socorrão novo um dia serão interligados por uma passarela como essa do Instituto do Coração(INCOR) de São Paulo ou por um túnel, ambos irão garantir a segurança na interligação entre os dois blocos. Será a maior revolução da Saúde no município na sua história. Um projeto ousado, mas não por isso terá de ser caro. O importante é a honestidade na condução da obra, o essencial é acreditar que ela é possível. Como já dizia uma das minhas frases favoritas : “o impossível é nada”. Só precisamos amar genuinamente o que fazemos, só precisamos ter vontade de realmente fazer diferente. Sem discursos: só agir está de bom tamanho.

De um desenho meio borrado que fiz mostrando a idéia na casa do Prefeito até a presente data, eu só posso dizer: valeu à pena acreditar nessa idéia e agradeço a Deus por ter acreditado e dado para mim esse sopro de inspiração incrível, juntamente com a força de vontade de tantos companheiros de trabalho que nos ajudaram a tornar esse grande sonho possível. Só depende de nós! Em frente, sempre!!! Sem ter medo do amanhã, construímos o nosso dia-a-dia.

Socorrão foto

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