Fechar
Buscar no Site

Prefeito de São Paulo volta a dar aulas e alega solidão

O Globo – “Se alguém organizar essa bagunça pode ser candidato a prefeito em 2016”. Arrancando riso da plateia de cerca de 60 alunos da pós-graduação da Ciência Política da USP, Fernando Haddad descreveu assim a complexidade de temas e assuntos do curso que dará, cuja primeira aula foi nesta segunda-feira. Há 12 anos, Haddad não entrava em uma sala de aula. O prefeito propôs a seus alunos que tragam questões da cidade. À frente de uma gestão aprovada por apenas 20% dos paulistanos e sem pertencer a nenhuma corrente dentro do PT, Haddad vislumbra uma difícil campanha de reeleição. Sob artilharia de Marta Suplicy, ele está distante do partido. Admitiu não ter conversado com ninguém sobre o protesto de domingo na cidade. Em tom de piada, revelou aos alunos certa solidão no cargo:

— Uma das razões pela qual eu quis dar esse curso é para poder conversar com alguém sobre o meu trabalho – afirmou, sorrindo, na sala 105 do prédio das Ciências Sociais.

Satisfazendo a curiosidade dos alunos, Haddad falou sobre o cotidiano de gestor. Um dos problemas que apontou foi o lobby:

– O lobby é um terror. O dia inteiro assedia a equipe, tem que fazer toda uma blindagem dos funcionários – relatou.

O motivo, segundo ele, é que todas ou quase todas as decisões que toma afetam interesses financeiros no município.

Durante o curso, Haddad mesclará o estudo de clássicos da sociologia, como Karl Marx e Max Weber e leituras contemporâneas sobre a questão urbana, como David Harvey. Embasado nos teóricos, ele defendeu decisões de sua gestão que provocaram polêmica na cidade, como o aumento no número de corredores de ônibus:

– Quando você pergunta para uma pessoa calma se ela acha que faz sentido o ônibus ficar preso no congestionamento, ela diz que não. O problema é que ninguém tá calmo nesse debate porque afeta o dia a dia das pessoas – justificou. Segundo o prefeito, os corredores aumentam o valor das áreas urbanas na periferia.

Ainda sobre o tema, em crítica indireta à gestão de José Serra (PSDB) no governo de São Paulo, ele disse que a construção de duas faixas de rolamento na Marginal Tietê traz efeito imediato, mas não de longo prazo, porque estimula mais carros a irem para as ruas:

– Hoje há mais trânsito lá do que antes. Por causa do ciclo político, eleitoral, as pessoas são estimuladas a tomar decisões irracionais. Fazer política é criar, embora isso possa não ser recomendável do ponto de vista eleitoral.

A disciplina de Haddad, chamada Economia e Política das Cidades, levou também à discussão sobre moradia. O prefeito foi criticado depois que, dada a aliança eleitoral, ele instalou na Secretaria Municipal de Habitação, José Floriano de Azevedo Marques, do PP e considerado indicação de Paulo Maluf:

– Teve toda aquela coisa (polêmica) de que o PP cuida da habitação. Não, sou eu. Isso é na minha mesa – afirmou e completou: – Do ponto de vista da governança das moradias, em dois anos (a cidade) é outro mundo. No que dependia da prefeitura, a prefeitura fez.

Haddad disse ainda que entende que as pessoas prefiram morar na Favela do Moinho, na região central da capital, a viver em uma unidade do Minha Casa, Minha Vida, em Carapicuíba. O acesso a serviços públicos e a emprego e os problemas de mobilidade explicariam a decisão dos que preferem morar em um barraco a ter um teto de alvenaria. Esse é um dos motivos para que, segundo Haddad, exista uma “indústria” de ocupações de sem-teto na cidade, que inclui cobrança de condomínio de áreas invadidas:

– E se o cara não pagar, é expulso e colocam outro no lugar dele – explicou.

Para evitar o problema, Haddad disse que a prefeitura agora está processando donos de imóveis que não impedirem invasão de suas propriedades.

O prefeito questionou o formato do programa Minha Casa, Minha Vida, que vende as unidades populares aos moradores de baixa renda. Segundo Haddad, como os valores de mercado das casas às vezes superam o preço social cobrado pelo governo, o programa corre o risco de que os moradores revendam as casas. O prefeito afirmou que isso já acontece, por exemplo, no Jardim Edith, na zona sul de São Paulo.

O conteúdo deste blog é livre e seus editores não têm ressalvas na reprodução do conteúdo em outros canais, desde que dados os devidos créditos.

mais / Postagens