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Prefeito anuncia licença para tratar dependência de álcool

Folha de São Paulo

O prefeito da cidade canadense de Toronto, Rob Ford, anunciou nesta quarta-feira (30) que irá tirar um período de licença do cargo para tratar de sua dependência de álcool.

“Este é um dos momentos mais difíceis da minha vida. Tenho um problema com o álcool. Tenho lutado contra isso já há algum tempo”, disse Ford, candidato à reeleição em outubro.

O anúncio de Ford, que também suspenderá a campanha temporariamente, ocorre após o jornal “Toronto Globe & Mail” divulgar um novo vídeo em que o prefeito aparece supostamente fumando crack.

A gravação teria sido feita no último fim de semana na casa da irmã do prefeito, Kathy, que reconheceu recentemente sua dependência de drogas. Segundo o jornal, o vídeo foi gravado por um traficante de Toronto.

Ford ganhou os noticiários internacionais no ano passado em polêmicas envolvendo drogas, aparições bêbadas em vídeo, acusações de assédio e declarações desconcertantes.

Em maio de 2013, foram divulgadas imagens que o mostravam fumando crack, o que foi admitido alguns meses depois com uma declaração controversa. “Fumei crack, OK? Sou viciado? Não. Experimentei? Talvez, numa das minhas situações de estupor alcoólico”, disse o prefeito em novembro. Na época, o prefeito manteve-se no cargo, apesar das pressões para que renunciasse.

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‘ESTUPOR ALCOÓLICO’

Filho de um empresário e político, Ford começou a trabalhar no negócio da família (fábrica de etiquetas Deco, vendas anuais de US$ 100 milhões) depois de deixar a faculdade de ciência política.

Em 2000, ele se casou com a namorada do ensino médio, Renata, com quem tem hoje um casal de filhos. Vereador em Toronto por dez anos, assumiu a prefeitura em 2010.

Sua gestão foi polêmica desde o início: logo no primeiro ano, gastou US$ 400 mil para remover ciclovias cuja instalação custara US$ 59 mil e se recusou a comparecer à Parada Gay de Toronto, ações que o indispuseram com setores mais à esquerda.

Seus problemas com álcool e drogas, porém, só começaram a ficar evidentes em maio de 2013, quando imagens que o mostravam fumando crack vieram à tona. O vídeo fazia parte da investigação policial sobre um amigo de Ford acusado de tráfico e extorsão.

Em novembro, após meses dizendo que as alegações eram “ridículas”, Ford viu-se obrigado pela polícia –que informara ter cópia do vídeo– a reconhecer que consumira a droga. E admitiu que poderia também estar bêbado: “Fumei crack, OK? Sou viciado? Não. Experimentei? Talvez, numa das minhas situações de estupor alcoólico”.

Logo apareceram outro vídeo –cheio de palavrões, em que Ford ameaça matar uma pessoa não identificada–, outra confissão de culpa do prefeito (“eu estava extremamente embriagado”) e outro pedido de desculpas aos eleitores.

Em seguida, descobriu-se que ex-assessores seus o acusaram de “comportamento impróprio” numa festa em 2012, incluindo cocaína, prostitutas, alusões racistas a um motorista de táxi, insultos sexistas a assessoras e a alegação de que teria feito sexo com uma delas, Olivia Gondek.

A resposta do prefeito chocou ainda mais a família canadense: “[A acusação] diz que eu queria ‘comer a xoxota dela’. Eu jamais diria uma coisa dessas. Sou casado e feliz e tenho mais que o suficiente para comer em casa”.

Na sequência –adivinhe–, Ford pediu desculpas pela “linguagem inaceitável” (vídeo com os “greatest hits” do prefeito, editado pelo jornal “The Guardian”, termina com cinco pedidos de perdão).

Para coroar um mês difícil, o prefeito tornou literal seu estilo “trator”: na sessão da Câmara que votou a redução de seus poderes, ele investiu contra manifestantes nas galerias e, no caminho, atropelou a vereadora Pam McConnell (é verdade que a ajudou a se levantar em seguida).

Depois da admissão do uso de crack, em vez de cair, a aprovação do prefeito subiu 5%. No fim de 2013, embora a maioria dos eleitores da cidade pedisse sua renúncia, 40% elogiavam sua gestão.

Para a jornalista americana Hadley Freeman, Ford representa a “parte insatisfeita” de Toronto, avessa aos liberais de classe média-alta. Esse segmento vê o prefeito como trabalhador, apesar da riqueza dos Ford, e homem de família, apesar das acusações de traição e sexismo.

O investimento na imagem de “cara comum”, por oposição à elite, é o que explica sua popularidade, analisa Freeman, que lembra a ex-governadora do Alasca e resume: “Rob Ford é Sarah Palin com um cachimbo de crack”.

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