Ivete Sangalo cobrou R$ 650 mil de uma prefeitura do interior do Ceará para apresentar um show de inauguração de um hospital. E muitos vêm em sua defesa afirmando que ela não tem culpa, que a culpa é única e exclusivamente do prefeito interessado em oferecer pão e circo ao povo. No caso, pela altura do cachê, veio pão, manteiga maionese, circo, teatro e cinema e, preferencialmente, televisão.

Pobre prefeito! Se ele tivesse ideia do que se faz no Maranhão quando se trata de pão e circo; soubesse ele dos R$ 8 milhões doados à Beija-Flor de Nilópolis ou pelo menos do que foi gasto em toalhas para Roberto Carlos não pisar no chão, escarneceria de seus detratores. Se, por um momento, lembrasse que nessa São Luís sem médicos, sem hospitais, sem mercúrio cromo nem esparadrapo, sem parcerias, pagaram turbinas de dinheiro em espetáculos gratuitos para as maiores estrelas do mundo pop do país engasgarem no ano novo e nos 400 anos, processaria de imediato os que o condenam.

Vai ver esse prefeito nem conhece as terras férteis da Europa e do Novo Mundo aonde o Boizinho Barrica conseguiu chegar com dinheiro público. Não tem ideia de que existe um lugar em que os donos do pão e do circo são os mesmos há muito tempo. Ele não sabe que o que se gasta e ganha de dinheiro público com festas no Maranhão daria para construir uns 300 mil hospitais. Ele não sabe que aqui não tinha hospital, mas tinha carnaval e que agora não tem nem carnaval nem hospital.

Somos, senhor prefeito, dominados por radiolas e sotaques que a todos ensurdecem politicamente. Mas enquanto os governantes não decidem se é melhor ser temido ou ser amado, enquanto sabem que não é necessário ter qualidades, mas apenas aparentar tê-las, confiando no deplorável Maquiavel, Ivete Sangalo canta aqui, A Beija-Flor canta aqui, Jorge Benjor canta aqui, Roberto Carlos canta, sem pisar aqui para um povo que não tem onde curar uma dor de barriga nem concluir uma gravidez.

(JM Cunha Santos)