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Onze partidos já estudam se juntar em federações para fazer frente ao novo União Brasil

Duas semanas após o Congresso derrubar o veto presidencial e manter a possibilidade de os partidos se organizarem em federações, algumas das maiores legendas do país iniciam negociações: PP, PL e Republicanos abriram conversas nesse sentido, assim como o MDB com o Avante e o Solidariedade. Os movimentos ocorrem logo após a criação do União Brasil, resultado da fusão entre DEM e PSL, que deverá ser a maior agremiação da Câmara assim que for oficializada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que deve ocorrer no início de 2022. Também há negociações envolvendo Cidadania, Rede e PV, e, na esquerda, do PCdoB com o PSB.

Na semana passada, o ministro-chefe da Casa Civil e presidente licenciado do PP, Ciro Nogueira, trabalhou em duas frentes. Ele conversou com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e enviou mensagem ao presidente do Republicanos, Marcos Pereira, sugerindo que as três legendas se unam numa federação, com o objetivo de eleger uma bancada expressiva no Congresso nas eleições de 2022. A ideia é assinar uma “união estável” entre os três partidos que já compõem a base do governo e normalmente votam juntos em boa parte dos temas, como, por exemplo, em pautas econômicas.

O eventual nascimento dessa tríade é uma tentativa de reequilibrar as forças no Congresso e, com isso, fazer frente ao recém-formado União Brasil, que só depende da chancela do TSE para existir, de fato. Uma vez oficializada, a nova legenda deverá contar com 81 deputados federais. Somados, PP, PL e Republicanos teriam 116 deputados federais (42 do PP, 43 do PL e 31 do Republicanos), mais 12 senadores (7 do PP, 4 do PL e um do Republicanos), além de aumentar o tempo de propaganda na TV. Essa última alteração pode abrir caminho para o presidente Jair Bolsonaro ingressar no PP, com o qual tem negociado, para disputar a reeleição em 2022.

O Congresso aprovou em agosto um pacote de mudanças nas regras eleitorais, entre elas a que permite as siglas se organizarem como federações. Com isso, na prática, elas podem formar uma só agremiação, inclusive nos processos de escolha e registro de candidatos para os pleitos majoritários e proporcionais e, no cumprimento das cláusulas de desempenho. Ao optarem por esse caminho, contudo, elas precisarão caminhar juntas tanto na campanha quanto nos quatro anos seguintes. Bolsonaro chegou a barrar a proposta, mas o Legislativo derrubou o veto no final de setembro

Nas negociações para se unirem em uma federação, PP, PL e Republicanos manteriam a autonomia sobre o controle dos seus fundos partidários e eleitorais. Isso significa que cada legenda gerenciaria seu próprio recurso, apesar de o dinheiro ser usado para eleger políticos pela aliança entre as siglas. A previsão orçamentária do PP em 2021 é de R$ 53,7 milhões; a do PL é de R$ 51,3 milhões; e a do Republicanos, R$ 48 milhões. As tratativas, entretanto, ainda estão em fase preliminar, dizem os dirigentes das três siglas a interlocutores.

Valdemar Costa Neto tem afirmado a aliados ver dificuldades para concretizar a união porque, de certa forma, o movimento engessaria os partidos, visto que precisariam se manter juntos também nas eleições municipais de 2024. Na avaliação do cacique do PL, a união, mesmo que temporária, dificultaria a vida de alguns políticos. Em conversas com deputados, Marcos Pereira também se mostra reticente ao plano. A pessoas de sua confiança, no entanto, ele diz que levará a ideia para ser debatida em reunião com o restante do partido na próxima terça-feira, em Brasília.

Bolsonaro é empecilho

A possível chegada de Bolsonaro ao PP também pode ser um empecilho. Hoje, as siglas têm a opção de liberar seus diretórios estaduais a apoiarem o candidato mais conveniente naquela região, com a possibilidade de darem palanque inclusive ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provável adversário do presidente da República no ano que vem. Bolsonaro vem afirmando a aliados que tem 99% de chances de acertar sua filiação ao PP.

Em outra mesa de negociações estão MDB, Avante e Solidariedade. Dirigentes das três siglas já conversaram sobre a possibilidade de uma união temporária. Chegaram, inclusive, a esboçar cálculos de como ficariam os cenários nos estados. Reservadamente, no entanto, eles admitem que é difícil a união sair do papel. Atualmente, o MDB tem 34 deputados, Avante tem oito e Solidariedade tem 13. Juntos, somariam 55 parlamentares na Câmara.

Na visão de participantes das discussões, um eventual acordo beneficia o MDB, mas gera dificuldades para os demais. Por isso, as chances de prosperar são baixas. Presidente do Solidariedade, Paulinho da Força diz que os estudos estão em fase muito preliminar. Ele admite ainda que mantém conversas com outras siglas, como o PDT.

Já o presidente do Avante, Luis Tibé, foi mais categórico e descartou a possibilidade de uma federação com o MDB.

— É difícil compor com os estados — justificou.

Siglas menores também discutem laço temporário

Diversos partidos de esquerda e centro mantêm conversas sobre a formação de federações no ano que vem. As tratativas ocorrem principalmente entre Cidadania, Rede e PV. Também há possibilidade de uma união entre PSB e PCdoB. Os dirigentes admitem, no entanto, que é cedo para bater o martelo.

— Estamos ainda tentando aprender, estamos ouvindo muita gente para escolher o nosso caminho. É uma coisa nova. Depois, ainda será necessário lidar com as resistências regionais — ponderou o presidente do PV, José Luiz Penna, cuja legenda já iniciou conversas com o PSB, PCdoB, Cidadania e Rede.

O Cidadania, por sua vez, já abriu diálogo com a Rede, além do próprio PV. No passado, as legendas cogitaram uma fusão, mas a ideia não prosperou. A expectativa agora é que a união possa ser viabilizada por meio da federação.

Integrantes de outras legendas também sinalizaram interesse em dialogar com o Cidadania, a exemplo do Podemos, embora as conversas tenham estagnado.

— Eu seria até favorável a uma união com o Cidadania, porque isso pode ajudar a coligação nas majoritárias. Não vejo dificuldade, não —disse o líder do Podemos no Senado, Alvaro Dias (PR).

Recentemente, o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) publicou uma foto ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afirmou que os dois trataram do assunto.

“Conversarmos sobre as federações partidárias, a conjuntura política atual e de que forma podemos a trazer a esperança para o povo brasileiro. A democracia vencerá”, escreveu Almeida, sem deixar claro sobre qual proposta de federação teriam tratado.

Outro partido que não descarta uma união é o PDT. O presidente da sigla, Carlos Lupi, disse que a fase é “de muita conversa, mas nada definido”.

— O processo está muito cedo, acabou de ser aprovado. A federação obriga a ter uma unidade nacional que não é simples —declarou Lupi.

O grande articulador da aprovação das federações e posterior derrubada do veto foi o PCdoB, de olho numa aproximação com o PSB, já que se via ameaçado pela cláusula de barreira. Pela regra, só terá acesso ao fundo partidário e ao horário eleitoral gratuito partidos que atingirem 2% dos votos válidos para a Câmara na eleição do próximo ano, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação ou conseguirem eleger 11 deputados distribuídos em nove estados. O Globo

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