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O fim da esbórnia oficial

Os bônus litúrgicos e mordomias de um governante foram dispensados pelo governador Flávio Dino. E é até natural o espanto dos barões assinalados que, quando no domínio da nação maranhense, se acostumaram a escorregar no mármore de carrara dos palácios e a abastecer o próprio estômago com nobres iguarias só permissíveis aos imperadores, nababos e, vez por outra, a doleiros e executivos de grandes empreiteiras do Brasil.

É estranho mesmo, para um Maranhão em que até ontem os amigos do poder faziam surgir mansões do nada e seguranças cruzavam os ares do país a bordo de jatinhos alugados com dinheiro público, que um governante dispense a suntuosidade do Palácio dos Leões e vá morar com sua família num apartamento de sua propriedade. Estranho, mas um exemplo irrefutável de desprendimento nessa terra pobre, de gente pobre e indignada diante dos gastos do sarneisismo e com a esbórnia oficial.

Com as festas regadas a lagostins e champagnes francesas, enquanto o governo não tomava conhecimento do piso salarial dos professores e até gasolina faltava nas viaturas da Polícia Militar. Um governante que não ocupa a Casa de Veraneio com jantares e almoços principescos para comemorar, quem sabe, a falta de acesso do povo à Justiça é, de fato, uma figura estranha ao universo dos lordes acostumados a comer as sobras e excessos dos que se refestelavam no poder.

Um governador em voo de carreira, que se nega a tomar do dinheiro do povo e pagar 50 mil reais por alugueis de jatinhos é, para esses lordes, alguém que não merece admiração porque com ele só o povo se identificará. Esse governador, preocupado mais em reduzir os índices de criminalidade que em alimentar colunistas com caviar russo, que prefere o discurso social aos benefícios da liturgia, sabe que foi eleito pelos que comem arroz com feijão e, talvez por isso, se sinta melhor sentado ao lado do motorista que o elegeu.

Trata-se, pois, de deixar bem claro que estamos diante de uma nova ordem política, de governar um povo que amargou durante muitos anos a ausência de um governo que com ele realmente se importasse; trata-se de impor limites aos gastos da máquina pública e de, como primeiro mandatário do Estado, absorver a consciência dessa nova ordem.

Acabou a esbórnia oficial, acabaram-se os festejos nos cofres públicos, as comissões degradantes, os privilégios de casta.

É preciso vencer essa tendência do Estado para o esbanjamento de recursos públicos. Pelo Estado perdulário paga o povo com falta de saúde, segurança e educação. É preferível um governador em voo de carreira, que um povo correndo de medo dos gastos do governador. Como, aliás, aconteceu durante muito tempo no Maranhão. (Editorial do JP)

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