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O começo da História

Se para o filósofo nipo-americano Francis Fukuyama o fim da Guerra Fria poderia representar o fim da História, talvez caiba provincializar essa tese em termos de Maranhão e indagar como reagirão as instituições públicas, os advogados, promotores, juízes, associações e políticos ao fim da era Sarney.

Sabemos que, na esteira de todas as improbidades permitidas, as instituições públicas, sob domínio de meio século de uma única família, pouco ou quase nada de bom geraram em termos de ética e dignidade. Uma pergunta inevitável é se será possível congelar a corrupção pré-existente como condição cultural no estado, esvaziar, por exemplo, a mentalidade dos prefeitos que vêem como únicas formas de se manterem no poder a agiotagem e o escambo eleitoral com recursos públicos.

A tarefa dos sucessores da era Sarney é gigantesca: organizar social, econômica e politicamente, a partir de novos propósitos e resguardando princípios, o estado do Maranhão. A diferença é que aqui não se trata de uma tese que possa ser contestada ou aplaudida, mas da aspiração de sete milhões de pessoas e que se concretizou com a eleição de Flávio Dino, mas que, para ser mantida, precisará do esforço conjunto e da compreensão de toda a sociedade maranhense.

Para Fukuyama, o declínio dos regimes fascistas e comunistas garantiu o triunfo do sistema capitalista – o liberalismo ocidental que exportou o consumismo para a China e para a Rússia. O provinciano e diminuto Maranhão, entretanto, lida com questões mais práticas. Tem gente precisando comer, gente precisando estudar, gente precisando de mais saúde e segurança. Ele tratava do fim da História; nós temos uma História para começar. Vamos precisar, inclusive, construir uma nova consciência política no Maranhão. E isso é apavorante porque talvez não dependa apenas de vontade.

Um aforismo keynesiano afirmava que “a longo prazo, todos nós estaremos mortos”. Mas o que, de toda essa filosofia política que arrancou do poder a família Sarney, será possível realizar a curto prazo?

Alguns haverão de achar absurda essa comparação que envolve as grandes potências do mundo e o provinciano estado do Maranhão. Mas um estado que passou tanto tempo na condição de celeiro de todas as pobrezas e quase campeão de corrupção no Brasil precisa estar atento à História. O estado mais pobre do Nordeste brasileiro é, sem dúvidas, um dos estados mais pobres do mundo. Nem mesmo direito à liberdade, na acepção universal da palavra, e à democracia limpa podemos dizer que tivemos. E é assustador pensar que talvez não sejamos mais capazes de conquistar nada disso.

A verdade é que não podemos acreditar que é possível reconstruir o Maranhão política e administrativamente a curto prazo, nem esperar estar mortos para incendiar essa realidade. Precisamos começar nossa História. Para tanto, a primeira atitude é decretar o fim da improbidade. (Editorial do JP)

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