Fechar
Buscar no Site

O câncer na República dos salteadores

Em entrevista ao portal IG, o governador eleito, Flávio Dino, defendeu a instauração de uma Constituinte exclusiva para tratar das reformas política e tributária. A reforma tributária é como um calo num sapato apertado para o povo brasileiro, que paga, muitas vezes sem retorno, a maior carga de impostos do mundo. A reforma política pela primeira vez se assemelha inevitável em vista do descarrilamento do trem da corrupção exposto pela operação Lava-Jato.

A organização criminosa de políticos, doleiros e executivos de empreiteiras, que não é de hoje, revelada nas investigações, impõe a reorganização político-administrativa do país. Habitamos uma República de salteadores que não pode ser mantida sob pena de fulminar a normalidade democrática ou, no mínimo, levar o país a um estado de insolvência civil. No prescindir da ética no trato com a coisa pública, por parte das mais insuspeitas autoridades, a revolta popular já desconhece nível de instrução e classe social. E não são poucos os que começam a temer pelo que possa vir a acontecer no Brasil.

Ao desembeste da corrupção institucionalmente instalada que, não fosse a presença incontestável de uma “Nova Justiça”, o patriotismo do Ministério Público e a competência da Polícia Federal, estancaria a maior estatal do país, a reforma política não é inadiável, mas deve ser também inevitável. Ao tempo em que o valor das ações da Petrobrás cai como manga podre, o governador eleito acredita que corruptos e corruptores serão punidos. Com a agravante de que, desta vez, os agentes econômicos estão sendo investigados e grande parte deles está na cadeia. Sem a reforma política, entretanto, tudo o que terá sobrado dessa gosma antiética será a punição. Sem ela (a reforma), outros agentes públicos e econômicos e outros doleiros estarão aptos a repetir este que é o mais triste episódio da história política brasileira.

Sobra à evidência, conforme frisou Miguel Reali, que o financiamento privado de campanhas eleitorais torna irrecuperável o sistema político. E o escândalo da Petrobrás expõe o câncer generalizado do sistema político brasileiro. Reali, a exemplo de Flávio Dino, também defende uma Constituinte do sistema político, mas a exigência das reformas extrapolou os umbrais da intelectualidade mediana e chegou aos movimentos sociais, aos sindicalistas e às comunidades.

Pode até ser que o povo não compreenda a influência nefasta do poder econômico nas eleições, mas já entende que a corrupção tem a máxima culpa dos hospitais entupidos, das escolas ultrajantes, de todas as fomes e misérias que moram sem pagar aluguel neste país. Os protestos de junho de 2013 são um indicativo perfeito dessa compreensão.

No Brasil, há pessoas ruins que têm a coragem de roubar recursos da merenda escolar das crianças. E vão existir enquanto a punição não for rigorosa, enquanto a legislação subestimar práticas criminosas, enquanto o sistema político for irrecuperável e não se eliminar o mais maligno câncer do Brasil: a corrupção. (Editorial do JP)

O conteúdo deste blog é livre e seus editores não têm ressalvas na reprodução do conteúdo em outros canais, desde que dados os devidos créditos.

mais / Postagens