Nigeriano diz que não volta para África após polêmica sobre racismo
Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
O estudante nigeriano Nuhu Ayúba, de 21 anos, diz que “nunca sofreu tanta humilhação na vida” como os momentos em que diz ter sido alvo de preconceito e racismo em sala de aula na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Ele está há três meses no Brasil para estudar e, em entrevista ao G1, afirma que não pretende retornar à África mesmo após a polêmica.
“Acho que isso pode não dar em nada na faculdade, mas espero que a Justiça faça alguma coisa. Meu advogado abriu um processo criminal contra o professor. Mesmo com tudo isso, não vou voltar para a Nigéria agora, tenho que terminar o curso. Só volto para lá depois, para ajudar meu país”, afirmou Ayúba.
Natural de Bauchi, a nordeste da capital Abuja, o jovem está em São Luís estudando engenharia química, curso que tem duração de cinco anos na UFMA. Ele veio ao Brasil por meio do Programa de Estudante-Convênio de Graduação (PEC-G), do Ministério da Educação, que oferece oportunidades de formação superior no Brasil para alunos de países em desenvolvimento.
O caso do estudante foi divulgado na noite de segunda-feira (4) pelo Jornal da Globo.
“Nunca passei por uma humilhação como essa na minha vida, me senti muito mal. Essa pessoa não sabe o que faz, e é só ele que faz isso. As outras pessoas aqui gostam de mim, me querem muito bem”, acrescenta Ayúba.
O estudante diz que sofre há algum tempo de preconceito e racismo por parte do professor José Cloves Verde Saraiva, que aplica as aulas de cálculo vetorial no curso de
engenharia química na UFMA. Segundo Ayúba, o professor vem “humilhando-o na frente de outros alunos”.
O aluno afirma ter escutado frases como “quantas onças você caçou no seu país?” e “você veio para cá em navio negreiro?”. Segundo a namorada de Ayúba, Marinilde de Oliveira, o nigeriano passou a sofrer de depressão com as provocações e nunca revidou.
O G1 pediu à UFMA os contatos do professor, mas a universidade informou que ele não usa telefone celular e que não esteve na universidade nesta terça-feira (5). O G1 tentou contato por email com ele, mas ainda não obteve retorno.
Em nota divulgada à imprensa local na segunda-feira, o professor pediu desculpas e disse que o aluno pode ter interpretado mal o que falou (leia íntegra da nota abaixo).
Coração na África
Ayúba diz que, se o professor Saraiva continuar dando aulas, ele pode pensar em pedir transferência para outra universidade brasileira. O que não passa por sua cabeça é desistir.
“Gosto muito do Brasil e o que consegui é uma oportunidade. Mas meu coração está na Nigéria, é meu povo, é meu país, mas vou ficar aqui até terminar o curso”, afirma ele.
Segundo a namorada, Ayúba não contou aos parentes sobre o problema no Brasil. “Ele é de família bem-sucedida na Nigéria. A mãe faz faculdade de jornalismo e é psicóloga. Ele tem outros três irmãos que moram com a mãe em Bauchi e eles ainda não sabem o que aconteceu aqui”, afirma Marinilde.
Abaixo-assinado
Os colegas criaram na internet um espaço para “abaixo-assinado contra o crime de racismo na UFMA. Eles dizem que, por mais de uma vez, o professor afirmou que o jovem deveria “voltar à África” e “clarear a sua cor”.
Após as denúncias, a reitoria disse que “solicitou à Pró-reitoria de Recursos Humanos a instalação imediata de um processo administrativo, assim como comunicou sobre o caso ao Ministério Público, solicitando que o mesmo seja apurado”. A UFMA não afastou o professor das aulas, disse a assessoria de imprensa da universidade.
O advogado do nigeriano, Nonnato Massom, afirma que aguarda providências da UFMA e defende o afastamento imediato do professor. Ele pediu Ministério Público Federal que determinasse à Polícia Federal a abertura de inquérito sobre o caso.
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