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Na Nova República, Sarney só não emplacou ministros com Collor

Presidente da República por cinco anos e quatro vezes no comando do Senado, Sarney fez indicações para Itamar, FHC e Lula

Adriano Ceolin, iG Brasília

Ao chegar à Presidência da República em março 1985, José Sarney não nomeou nenhum ministro. Ele era o vice de Tancredo Neves, que morreu sem tomar posse, e que já havia definido (e negociado) todos seus principais auxiliares. Sarney cumpriu compromissos de Tancredo para evitar desgaste político. Aos poucos, porém, colocou seus nomes. De lá para cá, no período chamado Nova República, Sarney sempre emplacou ministros. A única exceção foi no governo Collor (1990-1992).

A mais recente conquista de Sarney ocorreu na semana passada, com a mudança no Ministério do Turismo. Ele indicou Gastão Vieira no lugar de Pedro Novais. Os dois são deputados pelo PMDB Maranhão, que é comandado há anos pela família Sarney. Nesta reportagem, o iG conta como ex-presidente da República (1985-1990) conseguiu influenciar governos, indicando pessoas de confiança para cargos estratégicos ao longos dos últimos 26 anos.

Conspiração contra Collor

Sarney trabalhou nos bastidores contra o presidente Fernando Collor, o político que havia ganhado a Presidência da República, em 1989, com duras críticas ao governo dele. Na votação do impeachment, Sarney ajudou a conquistar votos no PFL (atual DEM), que mantinha o apoio a Collor. Com a renúncia de Collor, o vice Itamar Franco tomou posse. Por indicação de Sarney, nomeou como ministro da Integração Regional (hoje Nacional) Alexandre Costa, então senador pelo PFL do Maranhão.

Costa ficou no cargo até setembro de 1993. No ano seguinte, disputou a reeleição no Senado e venceu mais uma vez. Ele concorreu na chapa composta com Edison Lobão, também para o Senado, e Roseana Sarney, para o governo do Estado do Maranhão. Todos saíram vencedores. Inclusive o próprio José Sarney, que havia mudado seu domicílio eleitoral para o Amapá para ganhar uma cadeira de senador por aquele Estado pela primeira vez.

FHC e Sarney Filho

Em 1994, foi ieleito presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB). De imediato, Sarney aderiu ao governo tucano. Em entrevista ao iG em março deste ano, Sarney contou que FHC pediu que ele indicasse o ministro da Cultura. Sarney, porém, recusou a oferta e pediu para indicar um nome para a Presidência da Eletronorte. Desde então, Sarney só aumentou sua infliuência no setor elétrico.

Sarney Filho, ex-ministro do Meio Ambiente de FHC, conversa com Isabela Teixeira, atual titular da pasta

Ainda durante o governo FHC, Sarney emplacou seu filho caçula no Ministério do tucano. Em janeiro de 1999, Sarney Filho, ainda filiado ao PFL, foi nomeado ministro de Meio Ambiente. Ele ficou no cargo até março de 2002. Atualmente, Sarney Filho é deputado pelo PV do Maranhão.

Dono da vaga de Dilma

Naquele ano, contrariando a decisão do seu partido — o PMDB, que indicara o vice na chapa de José Serra (PSDB) — Sarney apoiou o então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já no primeiro turno. Com a vitória de Lula, Sarney pavimentou a sua volta ao comando do Senado. Em fevereiro de 2003, foi reeleito presidente da Casa. Em princípio, não indicou nenhum ministro, mas manteve seus espaços no setor elétrico.

Num primeiro momento, o PMDB ficou fora do governo Lula. O ingresso deu-se apenas em janeiro de 2004. Naquele ano, Sarney emplacou Silas Rondeau como presidente da Eletrobras. Após o escândalo do “mensalão”, em julho de 2005, José Dirceu foi demitido da Casa Civil. Para seu lugar, Lula nomeou Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia. A mudança abriu espaço para Rondeau ficar com o lugar de Dilma na pasta de energia, o cargo mais alto do setor elétrico no País.

Lobão de Lula e Dilma

Rondeau ficou no governo até maio de 2007, quando acabou demitido após a revelação de que participou de esquemas de fraudes de licitação e tráfico de influência. O nome do ministro apareceu nas investigações da Operação Navalha, da Polícia Federal. Com saída de Rondeau, Sarney indicou outro aliado histórico: o senador Edison Lobão (PMDB-MA), que sofreu diversas críticas por não ter na época nenhuma experiência na área.

Mais uma vez fez valer a opinião de Sarney, Lobão foi nomeado ministro e só deixou o cargo em março de 2010 para disputar mais um mandato no Senado naquele ano. Reeleito, voltou a ser automaticamente cotado para reassumir o Ministério de Minas e Energia. Com o apoio de Sarney de novo, Lobão voltou ao comando da pasta em janeiro deste ano.

Ainda começo do mandato de Dilma, Sarney apoiou o nome de Pedro Novais como ministro do Turismo. Nesse caso, entretanto, foi fundamental também a indicação do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Contudo, a dobradinha também ajudou a emplacar o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), primo de Henrique, no comando da pasta da Previdência. A nomeação serviu também para evitar que Garibaldi disputasse a presidência do Senado contra quem? Sim, Sarney.

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