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Minha mãe e Sarney, por Ricardo Noblat

Nos anos 80, como colunista do Jornal do Brasil, bati duro no governo Sarney.

Meu tio, dom José de Medeiros Delgado, fora arcebispo do Maranhão por mais de 20 anos. Casara Sarney com dona Marly, batizara os três filhos deles e casara Roseana.

Estava morrendo em uma clínica do Recife e minha mãe velava por ele quando tocou o telefone do apartamento. Era Sarney, então presidente, querendo notícias.

Quando minha mãe se identificou como Eunice Noblat, Sarney perguntou:

– O que a senhora é de Noblat?

– Sou mãe dele.

E, rapidamente, minha mãe acrescentou:

– Mas gosto muito do senhor e ouço sempre seu programa semanal no rádio.

Sarney espalhou a história em Brasília por meio do colunista Carlos Castelo Branco, o Castelinho do Jornal do Brasil.

– Você não gosta de Sarney, mas sua mãe gosta – disse-me Castelinho brincando.

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Alguns meses depois, no Recife, perguntei à minha mãe:

– A senhora costuma ouvir o programa do presidente no rádio?

– Raramente – ela respondeu.

– E por que a senhora disse ao presidente que ouvia?

– É para que ele se lembre do que eu disse se pensar um dia em lhe fazer algum mal – respondeu.

Uma vez, escrevi que o governo dele estava ameaçado por um mar de lama capaz de dar inveja ao mar de lama que tragou o governo de Getúlio Vargas.

Sarney chamou Sepúlveda Pertence, então Procurador Geral da República, e disse que eu deveria ser processado.

Pertence deixou o assunto esfriar. Depois de alguns dias consultou Sarney:

– É para processar mesmo o Noblat?

– Deixa prá lá – respondeu Sarney.

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