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Militar que investigou Sarney na ditadura o acusa de ‘corrupto’

CHUMBO GROSSO

Hoje com 78 anos, o coronel reformado do Exército Márcio Matos Viana Pereira também classifica o ex-presidente Lula de ‘apedeuta’ (ignorante) e despreza o passado da presidente Dilma – uma ‘terrorista empedernida’, segundo o militar

OSWALDO VIVIANI (JP)

O coronel reformado do Exército Brasileiro Márcio Matos Viana Pereira, 78 anos, enviou um e-mail ao Jornal Pequeno, no qual responde reportagem publicada no jornal O Globo, no domingo passado (16), intitulada “Comissão de investigação arquivou denúncias contra amigos do regime, mas devassou contas de opositores”. Na reportagem, o senador José Sarney (PMDB-AP) é citado como exemplo de político que, por ser aliado dos militares que estavam no poder, teve denúncias contra ele arquivadas pela Comissão Geral de Investigações [CGI; órgão criado pela ditadura para apurar denúncias de corrupção política].

O nome do coronel Viana Pereira – um maranhense de São Luís, que trava, em artigos publicados na internet, um combate feroz contra esquerdistas e políticos corruptos em geral – é mencionado como o militar (então capitão de Infantaria) que entregou a seu comandante direto, em São Luís, um dossiê de 17 páginas, com 25 documentos anexados.

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Sob o título “Corrupção na área do Estado”, o texto elencava uma série de denúncias contra a administração do então governador Sarney.

O dossiê foi enviado ao braço maranhense da CGI, submetido à sede da comissão no Rio e arquivado meses depois, sem provocar investigações.

A comissão ignorou o documento, que, entre outras denúncias, acusava Sarney de superfaturar uma obra, desviar recursos de outra e pagar mais por um terreno da Arquidiocese, com o suposto objetivo de agradar ao clero.

O dossiê do capitão foi anexado a outro caso que a CGI analisava, sobre uma dispensa de licitação autorizada por Sarney para construir a estrada entre Santa Luzia e Açailândia. Nada foi investigado, e as acusações do capitão foram engavetadas.

Ao arquivar o inquérito sobre a falta de licitação, o relator da CGI reconheceu que Sarney errou e pontuou que a dispensa ocorreu em “circunstâncias controvertidas”, mas concluiu que não era atribuição da comissão reprimi-lo.

Em nota enviada ao Globo, Sarney afirmou que Viana Pereira o perseguia. Segundo Sarney, o militar o acusava de “estar cercado de comunistas”. “As denúncias demonstram que o senador teve que enfrentar um duro combate desse grupo militar”, diz a nota enviada ao Globo.

Agora, Viana Pereira responde, por meio de um texto intitulado “Uma resposta que se impõe”, no qual diz que a nota enviada por Sarney ao jornal fluminense “abusa da mentira”. O militar também afirma que Sarney “construiu fortuna pela corrupção, granjeando prestígio nacional por ser mestre insuperável em tramar traições e em mentir”.

Sobrou também para o ex-presidente Lula, classificado por Viana Pereira de “apedeuta” (“pessoa sem instrução, ignorante”, segundo o dicionário) e até para a presidente Dilma Rousseff, pela qual o militar diz ter respeito, mas “abomina” sua imagem e o seu passado, “por ter sido uma terrorista empedernida”.

Veja o texto do coronel da reserva:

“Uma resposta que se impõe

Em razão dos 50 anos de aniversário do vitorioso movimento militar de 1964, o jornal O Globo, na ânsia incontida de prestar serviço ao governo Dilma, valendo-se da abertura dos Arquivos do Exército, resolveu provar haver sido facciosa a atuação da CGI, criada para apurar e julgar as denúncias resultantes de IPMs instalados pelos governos militares, porquanto foram arquivados ou julgados em função das pessoas indiciadas e não das culpabilidades apuradas, segundo afirmava.

Exemplificou, então, o jornal O Globo, no dia 16/03/2014, que os senhores José Sarney e Antônio Carlos Magalhães, quando governadores do Maranhão e da Bahia, tiveram os IPMs, cujos relatórios afirmavam a existência de corrupção em seus governos, arquivados, enquanto os IPMs envolvendo os senhores João Goulart e Leonel Brizola, cujas provas não eram tão incisivas, foram aceitos pela CGI.

O jornal O Globo citou-me nominalmente, por ter sido o Oficial encarregado do IPM escolhido como exemplo para denegrir a imagem da Revolução, quando da varredura realizada nos Arquivos abertos pelo Exército. Em reposta, o Senador Sarney e os seus comparsas, objetivando desacreditar as denúncias constantes do aludido IPM e também para aumentar o seu prestígio junto à presidente Dilma, ao apedeuta Luís Inácio Lula da Silva e todo o grupo de esquerdistas que, de maneira incompetente, amesquinham e atropelam a Administração Pública Federal, tentaram apresentar-me como um radical obcecado contra comunistas. Senti daí a necessidade de responder.

Teria muito para escrever, se o meu objetivo fosse dissecar essa pandemônio intitulado de governo petista. Este artigo, porém, tem por objetivo responder à nota publicada no O Globo [e reproduzida no Jornal Pequeno de 18/03/2014], atribuída ao Senador Sarney e seus prepostos assessores.

A nota, cuja autoria não é clara, abusa da mentira como peça acusatória. Bem ao estilo Sarney, a nota sofisma, e invertendo os fatos e asseverando inocência, afirma ter sido o senador Sarney vítima de minha perseguição, porquanto, como expoente da linha dura do Exército, considerava amigos seus como perigosos comunistas. De maneira incisiva afirmou ter o senador ficado marcado por prosseguir amigo dos acusados de comunistas e por não haver prestado solidariedade ao Ato Institucional número 5 (AI 5).

Objetivando demonstrar valentia, procurou fazer os brasileiros acreditarem que não prestou a solidariedade exigida dos governadores ao AI 5, para marcar posição contrária. Isso é uma deslavada mentira! A atitude tomada por ele naquela ocasião, longe de expressar coragem, ao contrário, registra mais uma empulhação arquitetada para enrolar e que surtiu efeito. A Revolução exigia que os governos estaduais prestassem solidariedade ao AI 5. Em atitude típica de velhaco, o senador viajou e o General Arthur Carvalho, então Presidente da Assembleia Legislativa, na ausência do Doutor Dino, vice-governador, que se encontrava fora do estado, assumiu o governo e prestou a solidariedade exigida, em nome do Estado do Maranhão.

Afirmo que as denúncias constantes no relatório do IPM para o qual fui encarregado, ao contrário do alegado, longe de serem vazias ou movidas por perseguição, fundamentavam-se em documentos que revelavam a prática de atos de improbidade administrativa.

Tenha coragem moral para assumir os fatos, senador! Não minta! À época, eu era o oficial de Informação da guarnição e acompanhava todos os fatos. O senador Sarney procura deixar clara a minha aversão ao comunismo e isso é a mais cristalina das verdades. A mentira é que, ao contrário do que foi afirmado, eu não tinha aversão nenhuma a comunistas e sim, a terroristas, a traidores da pátria, sequestradores, assaltantes de bancos e de quartéis e a ladrões do erário público, razão de voluntariamente ter servido no Doi/Codi e na ESNI/SNI para combatê-los.

Como eu não sou como o senador, pois assumo e afirmo o que fiz e penso, deixo claro que respeito à presidente Dilma, mas abomino a sua imagem e o seu passado, por ter sido uma terrorista empedernida, assim como desacredito do senador, por ser adversário notório da verdade e nada haver feito pelo desenvolvimento do Maranhão, quando Presidente da República.

Sempre afirmei que nenhum dos presos no 24º BC era terrorista, e apenas três considerava realmente comunistas, embora apenas ideológicos. Esse é o motivo de jamais haver, como encarregado de IPM, arrolado ninguém por crime de subversão.

A Revolução de 64 foi o que de melhor ocorreu no Brasil, pois a Pátria deu um salto de qualidade, porquanto, utilizando o Planejamento Estratégico, programas eram elaborados, levantamentos estratégicos eram seguidos e o Brasil avançou, cresceu e se desenvolveu.

Havia ordem, respeito e segurança. Havia emprego e fé no amanhã. Porém, infelizmente, a Revolução falhou, principalmente porque, preocupada com a subversão, descuidou-se do combate à corrupção, permitindo que pessoas como o senador Sarney crescessem no cenário nacional.

São passados 45 anos e, apesar de haver escrito um livro intitulado “Direito de Opinar”, nada escrevi em relação ao que tivera conhecimento por força da função militar desempenhada e também por achar que a anistia já cobria esses fatos.

Assim, acredito, deva ser o procedimento ético dos dignos; dos que não receiam Comissões da Verdade por ter a consciência limpa; dos que têm a coragem de afirmar ser a Comissão Nacional da Verdade um órgão legal, mas imoral, por ser espúria, injusta e parcial.

O senador Sarney não poderá afirmar nada disso, por saber que é acusado de haver construído fortuna pela corrupção, granjeando prestígio nacional por ser mestre insuperável em tramar traições e em mentir.

Desculpem os maranhenses, mas fui provocado, razão da resposta ser uma exigência!”

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