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José Sarney parte para o ataque

Do Congresso em Foco

Sarney brinca com as críticas seguidas que recebe: “Virou moda bater no Sarney” – Paulo Negreiros

Aos 81 anos, o ex-presidente da República e atual presidente do Senado e do Congresso Nacional, José Sarney (PMDB-AP), não é homem de passar recibo. Destratado por um coro de 100 mil vozes no Rock in Rio, saiu-se com esta: “A contestação está no DNA do rock”.

Sarney sobreviveu a tudo. À crise dos atos secretos, a denúncias de problemas administrativos no Senado e à repercussão causada pelo envolvimento do seu filho Fernando em uma investigação da Polícia Federal. Alheio à pressão popular, o Senado, que na legislatura anterior havia arquivado as denúncias feitas contra ele, no início deste ano o reconduziu à presidência.

Nada mais parece abalar Sarney. Ele diz estar acostumado a apanhar. “É bom bater no Sarney”, ironiza. Fala em aguardar o julgamento da história. Mas o homem que cultiva a fama de conciliador também sabe atirar.

Ao receber em seu gabinete a Revista Congresso em Foco, para a qual esta entrevista foi feita originalmente, disparou contra a oposição, os partidos políticos e o próprio Legislativo. Leia abaixo alguns pontos da entrevista.

Congresso em Foco – Qual o legado que o senhor acredita que deixará nas suas gestões à frente do Senado?

José Sarney – Minha participação dentro do Senado sempre foi procurando buscar a modernidade. Levantei a ideia da informatização em 1972. Forcei naquela época para que fosse criada uma comissão da qual saiu o Prodasen. Depois, quando fui presidente da Casa, a minha primeira providência foi justamente a de dar transparência para ajudar o povo brasileiro a acompanhar mais. Montei todo um sistema de informatização do Congresso, com televisão, rádio e agências de notícias. Fiz naquela vez a primeira reforma administrativa. Na segunda também procurei fazer a reforma administrativa. Acho que o Senado é muito mais enxuto, melhorou bastante. Agora estamos trabalhando numa outra etapa de futuro, que é justamente de gestão de programas estratégicos. Não devemos esquecer que, pela própria singularidade da máquina administrativa do Congresso, temos 81 repartições periféricas da administração central, que são os gabinetes dos senadores. Eles têm independência para nomear, admitir e administrar.

Na área legislativa, o que o senhor acha que deixa de mais importante?

Primeiro, a reformulação dos nossos códigos, que também é uma ideia de modernidade. Nós estabelecemos comissões com juristas. Já saímos com o Código Civil e o Código de Processo Penal. Estamos trabalhando no Código de Defesa do Consumidor, que está terminando agora. Vamos partir para a Lei das Execuções Penais, que é uma coisa que o Brasil está devendo. Nosso sistema penitenciário é uma coisa trágica. Minha ideia é constituir uma comissão de grandes experts para analisar a federação. Hoje a federação é uma ficção e uma palavra dentro da Constituição, mas na realidade ela não está estruturada em termos modernos.

Muitos críticos do senhor fazem referência ao fato de seu grupo político exercer um longo domínio no estado do Maranhão, e aquele estado não ter se desenvolvido nesse período tanto quanto outros. Como o senhor enfrenta essa crítica?

De certo modo, essa crítica é nova. Passou a existir depois que perdemos a eleição no Maranhão. Uma maneira de desqualificar a minha participação na vida pública nacional era desqualificar o estado. Então venderam ao Brasil essa ideia de que o Maranhão é um estado miserável, quando na realidade o IBGE tem 3 mil índices. Nós temos alguns índices que são péssimos, também os outros estados têm índices péssimos. Mas quero dizer que o Maranhão é o 16º estado do Brasil em PIB [Produto Interno Bruto], está na frente do Mato Grosso. Fala-se que o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] do Maranhão é baixo. É realmente baixo, muito baixo. Agora, o Brasil é a 7º economia do mundo. E qual a posição dele no IDH? Está na 81ª posição. Nem por isso se vai dizer que o Brasil é um país miserável. O Maranhão, pelo contrário, é um estado que hoje tem as maiores possibilidades naquela região. A infraestrutura que nós criamos no Maranhão é a melhor dos estados do Nordeste. Tiramos ele do século XIX. Esse foi um processo político que foi assimilado pela grande mídia porque é bom bater no Sarney, dá visibilidade isso, pela minha longa vida política, em que sempre atuei como um conciliador nos momentos mais difíceis da história do Brasil. Fui um homem que procurou ajudar o país na transição democrática, o colar social dentro da Constituição foi feito por mim. Sempre procurei influenciar essa visão social e solucionar crises. Minhas escolhas aqui dentro da Casa também têm sido neste sentido, do homem tranquilo, do homem prudente, do homem paciente.

Que imagem o senhor acredita que o brasileiro, de maneira geral, tem do senhor?

Não sou a pessoa certa pra julgar. A história é que vai me julgar. No contingente, cada um de nós sofre os problemas diários. Como não se pode falar mal do Lula, porque o Lula já não está presente, não se pode falar mal da Dilma, porque é a nossa presidente, restou Sarney para ser o ponto de crítica nacional.

Teve algum momento em que o senhor ficou particularmente indignado ou particularmente atingido por críticas ao longo desses quase 60 anos de vida pública?

Na Presidência da República, sofri um combate muito grande. No meu discurso de saída, fiz uma avaliação em que digo que o tempo corrige até as críticas mais violentas feitas. Todos os excessos são corrigidos. Quando leio a história do Brasil, vejo a proporção que ela vai construindo e a possibilidade que a pessoa tem dentro da sua vida política. Também me vejo assim. Um dia o Chico Caruso me perguntou como eu via as charges dele. Respondi: como se eu fosse uma terceira pessoa.

O senhor acredita que sua imagem como homem público será revista no futuro?

Não tenho dúvida de que serei julgado pelo que fiz e não pelo que não fiz. Eu gosto de um verso do Miguel Torga, sobre o Afonso de Albuquerque, que foi vice-rei das Índias. “Do que fiz e do que não fiz, não cuido agora; as Índias todas falarão por mim.”

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