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Entrevista com Flávio Dino: Todos contra Sarney

Flavio-Dino

Com uma vitória confortável sobre a oligarquia de José Sarney já no primeiro turno no Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) tornou-se não somente a esperança do povo que lhe cedeu os votos pelo fim de uma era de tragédia social, mas o primeiro comunista brasileiro a galgar o posto de governador. A eleição de Dino com 63,54% dos votos reflete a insatisfação geral com a dinastia Sarney, apoiada pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

O anseio dos maranhenses venceu diferenças ideológicas com união de água e vinho em uma espécie de enfrentamento geral aos sarneyzistas. Essa situação política específica do Maranhão está refletida na eleição: ao mesmo tempo em que o povo se lixou para o candidato apoiado pelo PT, Lobão Filho (PMDB), também deu a Dilma Rousseff uma das mais expressivas votações estaduais, 78,76% dos votos (mais de 2,4 milhões) – o próprio Dino reforça essa dicotomia entre local e nacional ao também apoiar Dilma no segundo turno.

Com o vice tucano, Carlos Brandão, e uma coligação de muitos matizes – mas um só coro –, Dino lidera essa frente com planos de fincar um modelo de governo de participação e empoderamento popular, e superar, definitivamente, mais uma página de abandono social e desmandos da história maranhense que, como ele diz, “vem trocando de coronel desde a proclamação da República”.

(…)

Caros Amigos – Como você avalia essa vitória? Como vocês construíram isso aí no Estado? Qual elemento você acha que foi importante nessa conquista? A insatisfação com o Sarney?

Flávio Dino – Sobretudo essa questão dos indicadores sociais do Maranhão, essa absurda disparidade entre o que o Maranhão é e o que ele pode ser. O fato de nós termos os piores indicadores sociais do Brasil, ao mesmo tempo em que temos o 16o PIB (Produto Interno Bruto), mostra que há algo de muito errado. Maranhão rico, povo pobre. Esse é o fator estrutural que fez com que a nossa mensagem tivesse muita força. Uma insatisfação do povo com essa atuação em que o Estado sempre é submetido às promessas do futuro. O Maranhão é um estado, na versão oficial, na versão deles, que estaria crescendo. Mas esse crescimento não chegava e não chega à casa das pessoas. Falta água, falta moradia, falta educação de qualidade. Esse é o fator estrutural. É a contradição entre essa riqueza potencial do Maranhão e a realidade que a população vive. Agora, evidentemente, a partir desse fator estrutural, nós tivemos algumas questões conjunturais. Houve um profundo desgaste do sistema de poder oligárquico com a crise da penitenciária de Pedrinhas e a partir daí, uma sucessão de episódios: a compra de lagosta com dinheiro público, a prisão do Alberto Youssef em São Luís, fazendo negócios com o governo do Estado, que foi amplamente noticiado. Então, esses fatores ajudaram a ampliar essa insatisfação da sociedade, que já vem desde muitos anos. Em 2006, o Jackson Lago ganhou da Roseana; em 2010, fizemos praticamente metade dos votos, 49,92%, apenas oito centésimos impediram a realização do segundo turno. Eu fiz 30% dos votos e o doutor Jackson fez 19,42%; os outros partidos somaram 0,5%. Então, nós já vínhamos numa trajetória de acúmulo dessas eleições anteriores. Até que agora conseguimos catalisar mais claramente essa insatisfação da população, transformar isso numa aliança política ampla, plural, e num programa que foi construído a partir de uma ampla mobilização. Eu passei um ano viajando pelo Estado em uma versão similar a Caravana da Cidadania, que o Lula fez no começo dos anos 90. Nós fizemos aqui um movimento de diálogos pelo Maranhão, seminários, plenárias, visitas. De modo que conseguimos unificar a oposição não sarneyzista e levamos a eleição para um plebiscito: sim ou não à continuidade dos Sarney. E conseguimos construir as condições políticas para transformar o primeiro turno em um segundo turno, o que era o nosso objetivo. Por várias razões: eles têm muito mais poder de mídia, poder econômico e a gente preferia uma eleição em um turno só.

Leia a entrevista completa na edição 212 de Caros Amigos nas bancas ou loja virtual

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