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Em grampo, Sarney tenta promover aliado de Cachoeira

Do site Congresso em Foco

“O cara tá avisado, já”, responde o presidente do Senado a um ex-servidor do Palácio que tentava promoção na Infraero, de acordo com grampo da PF. O problema é que esse ex-servidor é acusado de facilitar a entrada de mercadorias contrabandeadas para a quadrilha do bicheiro

Ex-porteiro da Presidência pedia, segundo a PF, interferência de Sarney para se tornar superintentende da Infraero

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), aparece em diálogos captados pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo. Em um deles, é ele mesmo quem fala. Em outros, ele é mencionado pelos interlocutores. No grampo em que aparece a voz de Sarney, ele atua em favor da promoção de um servidor da Empresa de Infra-Estrutura Aeoroportuária (Infraero), que estava cedido à Presidência da República quando o presidente era Sarney, para trabalhar na portaria. Ocorre que o servidor, Raimundo Costa Ferreira Neto, conhecido como Ferreirinha, segundo a investigação da Polícia Federal, facilitaria a entrada de produtos contrabandeados nos aeroportos para a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Nas demais conversas em que Sarney é mencionado, outros membros da quadrilha de Cachoeira conversam sobre um método de incineração de lixo de tecnologia da Alemanha. E dizem que “o pessoal do Sarney” teria interesse em comprar a parte deles no negócio.

Em nota ao Congresso em Foco, o presidente do Senado disse que o pedido de promoção de Ferreirinha “não foi atendido” pela Infraero. Mesmo questionado especificamente sobre isso, a assessoria de Sarney não responde na nota se ele sabia das ligações de Ferreirinha com o grupo de Cachoeira, embora, em conversas com a reportagem, seus assessores neguem essa possibilidade. Além do próprio Sarney, são citados nos grampos o deputado federal Sarney Filho (PV-MA) e Adriano Sarney, neto do presidente do Senado. Eles aparecem nos grampos sobre sobre lixo. Sarney nega que sua família tenha negócios no setor de resíduos sólidos. Também negam qualquer envolvimento com as pessoas do grupo de Cachoeira que são flagradas nas conversas.

Na conversa monitorada pela PF, Ferreirinha e Sarney falam sobre o cargo na Infraero

Porteiro superintendente

De acordo com Sarney, Ferreirinha trabalhou com ele como porteiro no Palácio do Planalto durante seu mandato presidencial (1985-1990). Estava cedido pela Infraero. Os grampos da PF mostram uma conversa entre ele, que vinha sendo monitorado por fazer parte do esquema de Cachoeira, com Sarney no dia 31 de março de 2011, às 11h37. Ferreirinha fala primeiro com um assessor de Sarney chamado Vanderlei, que passa o telefone para o próprio presidente do Senado. O ex-porteiro presidencial reclama que sua promoção não saiu. E menciona mudanças nos aeroportos de Brasília e do Rio de Janeiro. Sarney responde: “Mas o cara tá avisado, já”. Não se sabe quem seja “o cara”.

Em um diálogo anterior, de 18 de março de 2011, Ferreirinha conversa com o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Maias de Araújo, o Dadá, araponga que fazia trabalhos de espionagem para o esquema de Cachoeira. Na conversa, eles tratam da liberação de mercadorias no aeroporto de Brasília. De acordo com o juiz da 11ª Vara Federal em Goiânia, Paulo Augusto Lima, há indícios de que Raimundo Costa prestava o serviço de facilitar a entrada de contrabando para o grupo de Cachoeira “mediante vantagem”.

No meio da conversa, os dois terminam por falar em José Sarney. Ferreirinha diz que o presidente do Senado á havia conversado com “Meirelles”. A PF supõe que possa ser o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles). É porque, na sequência, fala-se que Meirelles pediu para Sarney procurar Gustavo do Vale, ex-diretor do BC na gestão de Meirelles e atual presidente da Infraero. Para a PF, o objetivo era “aparentemente indicar Raimundo Costa Ferreira Neto”, um ex-porteiro da Presidência da República, para uma Superintendência Regional” da Infraero.

Segundo a PF, Ferreirinha ambicionava um cargo de "superintentende"

Na nota, Sarney não respondeu se conversou com “Meirelles” sobre a promoção de Ferreirinha. O ex-presidente do Banco Central não retornou os contatos feitos com seus assessores. Hoje, ele é presidente da J&F, holding do grupo JBS, que recentemente comprou a empreiteira Delta Construções, também envolvida com Cachoeira.

Sarney não foi, porém, a única tentativa de Ferreirinha para tentar a promoção. Um dia depois da conversa com Sarney, ele ligou, o dia 1º de abril de 2011, para o ex-diretor da Infraero Rogério Bazelatti. Ele comenta que a nomeação não tenha sido. “Eu fui com o véio, né?”, diz Ferreirinha, provavelmente referindo-se ao presidente do Senado. Bazelati responde: “Você foi no cargo errado, e não com a pessoa errada”.

Na sequência da mesma conversa, o ex-porteiro afirma que, apesar dos reveses, está “tranquilo”, uma vez que tinha “até o apoio até do senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM-GO). Demóstenes hoje está ameaçado de perder o mandato por conta das evidências do seu envolvimento com a quadrilha de Cachoeira. “Tem cara até da oposição”, vangolria-se Ferreirinha.

“Não conheço Sarney”

Procurado pelo Congresso em Foco, Raimundo Costa, o Ferreirinha, dá uma versão que difere da versão dada em nota pela assessoria de Sarney. Ele não quis comentar as acusações feitas pela PF, de desvio de mercadorias para facilitar a atuação da quadrilha de Cachoeira. “Eles vão ter que provar o que dizem. Não sou eu que tenho que provar”, afirmou Ferreirinha.

Em seguida, embora apareça em grampo falando com Sarney e o presidente do Senado admita que houve a conversa, Ferreirinha negou qualquer relacionamento com o presidente do Senado. “Eu não conheço Sarney, eu não conheço ninguém”, disse. Ferreirinha, que tem 34 anos de Infraero, negou ainda ter trabalhado na Presidência da República. Como se não bastasse a própria conversa com Sarney, há outro grampo em que ele diz a um interlocutor que, naquele momento, estava chegando na casa do presidente do Senado.

Ferreirinha pediu à reportagem que procurasse a Infraero e a PF para esclarecer o assunto. O site não conseguiu contato com Gustavo do Vale ou com a assessoria da Infraero.

Grupo de Sarney supostamente quis comprar negócio

Integrantes da quadrilha dizem em grampo ter acesso ao gabinete de Sarney Filho

Diálogos captados pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo apontam para um suposto interesse de familiares do presidente do Senado, José Sarney, de uma empresa que usaria uma técnica importada da Alemanha para a incineração de lixo. Segundo uma das conversas grampeadas, o lobista Dagmar Alves conversa com Gleyb Ferreira, uma espécie de “faz-tudo” de Carlinhos Cachoeira.

A intenção era marcar uma apresentação de negócios na Delta. Segundo a gravação, ele queria mostra à empresa, que também opera no ramo de coleta de lixo, uma tecnologia alemã para incineração de lixo.

Em 29 de abril, outra conversa gravada pela PF mostra Gleyb dizendo para usar uma pessoa chamada Eduardo para interceder no negócio. Ele é, segundo a PF, um suposto assessor do gabinete de Sarney Filho (PV-MA). Na conversa, diz-se que ele teria nfluência no Instituto Brasília Ambiental (Ibram), onde segundo a PF, o grupo de Cachoeira pretendia pagar propinas para regularizar uma fazenda grilada em Brasília.

Em outra conversa, em 27 de julho de 2011, Dagmar afirmou a Gleyb que “o pessoal daqui” em conjunto “com o do Sarney” pretende “comprar a parte deles no negócio”. A gravação não deixa claro que tipo de negócio é, nem quais integrantes do clã Sarney estão envolvidos.

As conversas apontam para uma tentativa de ligação de pessoas do grupo de Cachoeira e a Delta com a família Sarney. A gravação traz Gleyb dizendo ter “acesso direto” ao gabinete do deputado Sarney Filho (PV-MA) em Brasília. É citado também nas conversas José Adriano Sarney, filho do deputado e neto do presidente do Senado. Um grampo de 14 de julho mostra uma pessoa identificada como Rodolfo dizendo a Gleyb ser necessário resolver “o negócio da moto” e afirmando ter conversado com “o filho de Sarney”. A PF suspeita que a conversa era, na verdade, sobre Adriano Sarney. “Adriano?”, pergunta a PF no inquérito.

Dagmar e Gleyb falam sobre o negócio do lixo

De acordo com as assessorias do senador José Sarney (PMDB-AP) e do deputado Sarney Filho, a família não possui qualquer negócio com a Delta, com Carlinhos Cachoeira ou com o lobista Dagmar Alves. Também disseram desconhecer a presença de um assessor chamado Eduardo no gabinete na Câmara e quais são os negócios referidos pela Polícia Federal. As assessorias negaram que a família tenha atividades relacionadas à coleta de lixo. Sobre o negócio da moto, a assessoria de Sarney Filho disse desconhecer do que se trata.

"Pessoal do Sarney" quer comprar o negócio

Defensores

A reportagem não conseguiu falar com o advogado Márcio Thomaz Bastos , defensor de Carlinhos Cachoeira, preso desde 29 de fevereiro. Não foram localizados os defensores de Gleyb Ferreira e Idalberto Matias, presos nas Operação Monte Carlo, e Dagmar Duarte, preso na Operação Saint-Michel . A reportagem também não localizou Rogério Bazelati, ex-diretor da Infraero e amigo de Ferreirinha.

A íntegra das notas de José Sarney e Sarney Filho

A nota de José Sarney:

1. Ferreirinha já trabalhava no Palácio do Planalto – funcionário cedido pela Infraero – quando o senador José Sarney lá chegou para exercer a presidência. Hoje Ferreirinha atua no aeroporto – em cargo de 4º ou 5º escalão – e pediu a interferência do senador Sarney para uma promoção. É esse o assunto do dialogo em questão. O pedido não foi atendido.

2. A família Sarney não tem negócios com lixo, nem com empresa citada. O senador Sarney não conhece nenhuma das pessoas relacionadas no diálogo em questão.

As respostas de Sarney Filho:

1- A família Sarney tem negócios com a Delta, Carlinhos Cachoeira ou com o lobista Dagmar Alves? Qual?
Não

2- Qual era a “parte no negócio” que a família gostaria de comprar?
A pergunta fica prejudicada pela anterior

3- A família Sarney cuida de empreendimentos na área de resíduos sólidos (lixo)?
Não

4- Algum desses projetos usa tecnologia de incineração de lixo da Alemanha? Algum usa tecnogia de incineração por plasma?
A pergunta fica prejudicada pela anterior

5- Quem da família toca esses eventuais negócios?
Também prejudicada pelas duas anteriores

6- Qual a relação do deputado e de Adriano com Gleyb e Carlinhos Cachoeira?
Nenhuma

7- O deputado ou o Adriano ajudaram em algum tipo de pendência no Ibram? Fizeram alguma intermediação entre eles e a direção do Ibram?
Não

8- Quem é Eduardo, assessor citado nas conversas obtidas pela PF? Qual a relação dele com Gleyb e Carlinhos Cachoeira?
Desconheço

9- Que negócios são esses referidos na gravação da PF?”
Desconheço

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