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Em clima de plebiscito, eleição pode marcar fim da era Sarney no MA

Folha de São Paulo

“Nos últimos 50 anos, transformaram o Maranhão numa monarquia. Nessa nova história, o povo vai ser rei”, diz o narrador, enquanto um garçom fictício deixa um palácio com uma coroa na bandeja para aclamar anônimos nas ruas.

A imagem abre a última propaganda de TV de Flávio Dino (PC do B) e resume o tom da campanha que ameaça encerrar a hegemonia do grupo político do senador José Sarney (PMDB-AP), à frente do Estado em 44 dos últimos 48 anos.

“É para representar a saída da oligarquia, 50 anos cansou”, dizia na última sexta (3) o garçom Igor Yorimar, 25, com uma mala de viagem tomada por adesivos do senador Lobão Filho (PMDB), candidato da situação. Yorimar se disse filiado ao PC do B há dois dias.

O advogado Dino, 46, ex-deputado federal e presidente da Embratur no governo Dilma, tem 59% dos votos válidos, segundo Ibope desta sexta-feira (2).

Na liderança desde o início da campanha, é favorito para vencer no primeiro turno diante dos 38% de Lobão Filho, apoiado pela governadora Roseana Sarney (PMDB), no poder desde 2009.

Com passagens pelo Senado desde 2008 na suplência do pai, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia, PMDB), Lobão Filho, 50, virou candidato em abril, quando o secretário de Infraestrutura de Roseana, Luis Fernando Silva, desistiu da disputa após não decolar nas pesquisas.

Diz ter recebido um telefonema da governadora na cama dum hospital, história que repetiu a cada comício para tratar a candidatura como uma “missão divina”.

No palanque, assumiu a defesa do legado dos Sarney, com ataques ao discurso de “mudança” proposto por Dino e ao “comunismo” do rival.

PLEBISCITO

Não conseguiu, contudo, evitar o predomínio do clima de plebiscito na campanha, impulsionado pela campanha do PC do B. “Impusemos essa pauta. Não quisemos discutir o governo Roseana, mas o cansaço pelo tempo do grupo deles no poder”, afirmou o gaúcho Juliano Corbellini, marqueteiro de Dino.

“No Maranhão com roubo estamos 20 pontos na frente. Imagina na urna”, dizia Corbellini no Twitter na quinta (2).

Encenado ou não, o otimismo do marqueteiro contrastava com o tom de Lobão Filho após seu último comício, na quinta, em Pinheiro, terra de Sarney. “Eu não queria ser governador, mas não podia deixá-los [aliados] órfãos”, disse à Folha, após se despedir de correligionários.

Com imposição da direção nacional petista, o PT do Maranhão se coligou a Lobão Filho, mas a aliança desagradou a uma ala local, que se dedicou a desgastar a candidatura peemedebista.

Dino foi quem mais gastou na campanha: R$ 5,6 milhões, de acordo com a segunda prestação parcial. Lobão gastou R$ 3,3 milhões. As duas campanhas declararam mais receitas do que gastos.

Com uma coligação de 18 partidos, Lobão teve 9min31s em cada bloco de propaganda. Dino, com nove partidos, teve 5min59s.

O jornal “O Estado do Maranhão”, fundado por Sarney, deu tratamento preferencial à candidatura de Lobão Filho. Divulgou diariamente, e sempre com enfoque positivo, suas agendas de campanha e pronunciamentos, enquanto criticou propostas de Dino e se referia a ele como “comunista”.

DENÚNCIAS

Na reta final, a campanha do PMDB apostou em denúncias contra Dino. A primeira, há duas semanas, foi um relato em vídeo de um detento do presídio de Pedrinhas, palco de barbáries que minaram a gestão Roseana.

O preso acusou Dino de planejar um assalto, mas no dia seguinte à divulgação disse ter recebido ofertas de benefícios para citar o candidato. As imagens foram reproduzidas pela TV Difusora (afiliada do SBT), de Lobão Filho, e o diretor do complexo de Pedrinhas foi afastado.

Pouco depois, a Polícia Federal fez uma revista num avião que esperava Lobão Filho para embarcar no interior do Estado.

Agentes vasculharam aeronave e tripulação após denúncia anônima de dinheiro a bordo. Nada foi encontrado, e Lobão Filho e o PMDB nacional gritaram -o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado divulgaram notas de repúdio.

No episódio mais recente, Roseana apresentou uma gravação que a campanha do PMDB citou como prova de que o presidente do Tribunal de Contas do Estado cooptaria prefeitos para Dino.

O presidente do TCE negou, e Roseana, de até então participação discreta na disputa, disse ter feito a gravação numa ligação ao chefe do TCE que caíra em espera, quando percebeu que ele tratava de “política de forma não convencional”.

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