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Da Crusoé: Em live, Josimar atrai eleitores com sorteio de… dinheiro

Da Revista Crusoé – Flagrado pela Polícia Federal com maços dinheiro no curso de uma investigação em que é suspeito de desvio de verbas públicas, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, filiado ao PL, mesmo partido de Jair Bolsonaro, fez uma live de fim de ano com um sorteio para premiar eleitores com — acredite — dinheiro.

A live foi transmitida em 20 de dezembro, a partir de uma praça de Maranhãozinho, a pequena cidade do estado do Maranhão que empresta o nome ao deputado e onde ele iniciou sua carreira política.

Ao pé de uma árvore de Natal iluminada, com um vistoso relógio dourado no pulso, Josimar de Maranhãozinho sorteou, ao todo, cerca de 50 mil reais — para contemplar um número maior de participantes, a dinheirama foi dividida. Alguns ganharam 500 reais. Outros, até 2 mil (assista, abaixo, a trechos da live).

Pré-candidato ao governo estadual, o deputado federal estrelou o sorteio ao lado da mulher, a deputada estadual Detinha, e de seus três filhos. Um boneco de Papai Noel se movia, sorridente, por detrás do clã, que envergava um figurino em nada condizente com a dura realidade da maioria dos moradores da região — o primogênito vestia uma camisa da grife italiana Armani.

A técnica de sorteio era um tanto rudimentar: tiras de papel eram retiradas de um cesto verde acomodado sobre um tamborete. Para participar, bastava que os interessados deixassem o nome completo e o telefone nas redes sociais de Maranhãozinho, via mensagem direta. Trata-se de uma uma prática manjada na política, que permite a candidatos montar um cadastro de eleitores para, por exemplo, enviar mensagens de campanha.

No papel de animadores da live, Maranhãozinho e Detinha disseram que o dinheiro do sorteio tinha origem em doações de “amigos” e “parceiros”, muitos dos quais foram identificados com gratidão durante a transmissão. Eram, na maioria, políticos aliados (muitos deles também filiados ao PL) que, assim como o próprio deputado, têm interesses nas próximas eleições.

O sorteio foi transmitido nos canais de Maranhãozinho na internet. À medida que a live avançava, mais “doadores” eram anunciados. “Aldo Brown, de Porto Rico do Maranhão, diz aqui que vai doar mil reais (para serem sorteados). Obrigado prefeito Aldo! Mil reais!”, comemorou o parlamentar, logo depois de ler uma mensagem que acabara de receber em seu celular.

Para além dos espectadores que assistiam ao “show” pela internet, havia uma plateia presencial, de cerca de 40 pessoas. O esforço para esconder o objetivo eleitoral da empreitada era praticamente nenhum. Antes de o sorteio começar, foi apresentado um vídeo em que um narrador desfiava feitos recentes da dupla Maranhãozinho-Detinha na região, como a inauguração de uma praça de eventos na localidade de Monção.

Ao longo do sorteio, a mulher de Maranhãozinho lia comentários supostamente postados nas redes por quem acompanhava a live. “Tá todo mundo aqui dando palminhas, viu Josimar? Pessoal falando: ‘Eita glória, esse deputado é maravilhoso, meu futuro governador. Josimar de Maranhãozinho, o melhor do Maranhão’”, disse ela em uma das ocasiões.

“Quando o povo quer e Deus diz amém, não tem jeito”, respondeu de pronto o deputado, alvo de pelo menos dois inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal, nos quais é investigado pela suspeita de embolsar verbas de emendas parlamentares que ele próprio e outros congressistas enviam para municípios maranhenses.

“Vamos sortear mais 500 reais, do vereador Jadson”, anunciou Detinha na sequência. A live contou com a bênção de um padre da região. “Pode contar com minhas orações, nosso futuro governador”, disse o religioso, sem cerimônia.

A certa altura, Maranhãozinho se empolga: desde o início da pandemia, era a primeira vez que uma de suas lives contava com público in loco — sim, a exemplo do agora correligionário Jair Bolsonaro, ele costuma fazer transmissões frequentes para seus eleitores.

Girando o dedo indicador, como se desenhasse um círculo no ar, o deputado dá o comando: “Passa a câmera. É a primeira vez que fazemos uma live com plateia. Produção, dá um 390 pra mostrar tudinho”.

No universo paralelo de Maranhãozinho, que parece desconhecer limites (inclusive os da legislação eleitoral), até a circunferência tem mais que 360 graus. O Brasil real se supera sempre, até nos absurdos.

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