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Assassino de Décio Sá teria feito acordo com delegados, diz jornal

Uma das reviravoltas no caso se deu por conta da mentira do pistoleiro Jhonatan sobre a arma do crime. Ele afirmava que havia jogado no mar, mas após reportagem do Jornal Itaqui-Bacanga sobre o caso, em que uma fonte revelou o paradeiro da arma, o assassino mudou sua versão e a arma foi encontrada.

Matéria publicada no jornal Itaqui-Bacanga, de São Luís

O rumo tomado nas investigações que buscam elucidar o assassinato do jornalista Décio Sá, começa a dar sinais de descrédito devido às inúmeras contradições até agora não respondidas com clareza em relação ao que foi afirmado nos depoimentos prestados à polícia.

Logo de cara, uma das principais reviravoltas no caso, diz respeito ao destino dado a arma utilizada pelo assassino, já que em seu primeiro depoimento Jhonatan Sousa afirmou que teria sido jogada no mar quando viajava no ferry-boat de volta ao Pará.

A informação mentirosa do assassino, prestada no depoimento foi revista após matéria publicada pelo Jornal Itaqui-Bacanga na edição do dia 28 de junho, onde uma fonte que pediu para não ter sua identidade revelada e que teve acesso a pelo menos, dois dos investigados, revelou que Jhonatan teria dito: “Eu matei o jornalista foi com uma pistola antiga que eu tinha há muito tempo. Depois, ao subir o morro da Litorânea, eu enterrei [a arma] na areia e marquei o local. Dias depois voltei lá no local e não a encontrei mais onde eu tinha enterrado. Agora tão dizendo que a arma é desse capitão que está preso. Nada a ver. Tão armando tudo”.

Logo após a nova versão do paradeiro da arma ter sido divulgado pelo Jornal Itaqui-Bacanga, o pistoleiro Jhonatan mudou a versão de seu depoimento e diferentemente do que disse nos primeiros interrogatórios, voltou atrás e negou que tivesse jogado a arma na Baía de São Marcos, confessando que havia enterrado a pistola nas areias da duna por onde fugiu, depois de executar o jornalista.

Jhonatan contou também que pretendia voltar ao local onde tinha deixado a arma para buscá-la. No entanto, o pistoleiro afirmou ter ficado com medo de retornar e ser localizado pela polícia. De fato, a primeira versão de Jhonatan não se sustentava. Tanto que exatamente uma semana após a veiculação da matéria pelo Jornal Itaqui-Bacanga, uma equipe de policiais civis e peritos foi ao local indicado por Jhonatan; acompanhados pelo pistoleiro, que teria auxiliado nas buscas à pistola.

Segundo informações divulgadas na imprensa, Jhonatan teria apontado, de forma precisa, o local onde havia enterrado a arma – ao lado de um arbusto, no alto da duna usada por ele como rota de fuga.

Mais surpresas

Já na manhã da última quarta-feira (11), novos informações voltaram a mudar o rumo das investigações, já que foi amplamente divulgado pela imprensa que a arma que deu fim a vida do jornalista não seria de uso exclusivo da Polícia. Este novo dado pode descartar de vez a participação do ex-subcomandante do Batalhão de Choque da PM, Capitão Fábio Aurélio Saraiva Silva, como um dos envolvidos no caso, provando assim mais uma vez que as investigações não apontam para o rumo certo, ou pelo menos estão atravessadas.

Também foi divulgado que uma nova perícia na arma será realizada no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília. Somente após o resultado da perícia é que a Secretaria de Segurança do Estado do Maranhão deverá se pronunciar sobre o caso.

Já quanto às balas usadas pelo pistoleiro, um laudo da Perícia Técnica teria confirmado que as cápsulas encontradas no local do crime seriam de quatro lotes diferentes, todos pertencentes às Polícias Civil e Militar do Maranhão.

Roteiro macabro da execução

Realizada na semana passada com grande aparato policial, a reconstituição da morte de Décio Sá, ao invés de esclarecer o crime, acabou gerando mais questionamentos sobre a dinâmica dos acontecimentos, e acendeu o sinal amarelo, chamando atenção para o fato de que muita coisa ainda precisa ser esclarecida neste caso.

Perguntas como:

Décio fora atraído para o bar Estrela do Mar?

Alguém pode ter ligado para saber se Décio Sá estava mesmo no Estrela do Mar?

Alguém marcou o encontro para aquele lugar propositadamente?

As perguntas acima, ainda não respondidas, levam a indagação de que mais pessoas poderiam estar envolvidas no caso, levando-se em conta que o assassino pode ter recebido informação sobre a localização exata do jornalista, pois no seu depoimento, Jhonatan contou que ao seguir o jornalista, perdeu seu carro de vista, e após estar na Avenida dos Holandeses, resolveu então, sem mais nem menos ir para a Avenida Litorânea, onde por sorte encontrou o jornalista.

É fato que com a perda da visualização do carro de Décio, seria uma tarefa difícil decidir que deveria ir para a Litorânea e mais difícil ainda localizar o carro de sua vítima em meio à extensão da Avenida Litorânea, o que sugere uma triangulação, ou seja, a vítima pode ter sido induzida para ir àquele local, ou ter sido perguntada sobre sua localização. Em ambas as hipóteses, haveria a participação de uma terceira pessoa, que pode ter repassado, mesmo que de forma indireta, a localização do jornalista ao assassino.

Pistoleiro teria feito acordo com delegados

A mesma fonte que revelou ao Jornal Itaqui-Bacanga, as declarações de Jhonatan sobre o paradeiro da arma mudando assim o rumo das investigações, afirmou também detalhes que rumam as investigações para um vergonhoso cenário de parcialidade. De acordo com a fonte, um homem que esteve preso no mesmo local com Jhonatan de Sousa Silva, o assassino de Décio Sá, teria conversado com o pistoleiro. Ele revela que Jhonatan lhe disse que alguns delegados o teriam ensaiado a mencionar o nome do deputado Raimundo Cutrim e de outras pessoas ainda não reveladas.

Em troca, os delegados soltariam o primo do assassino Gleison Macena Sousa, na ocasião, também foi preso pela polícia. Jhonatan teria afirmado que o seu primo não tem relação nenhuma com este crime.

A fonte que falou com Jhonatan Silva ― depois que os depoimentos foram vazados ― disse ao JIB que o assassino revelou ter recebido proposta de acordo por parte dos delegados que conduzem as investigações. “Eles querem um acordo. E eu vou aceitar”, dissera Jhonatan. A mesma fonte conversou com o preso que disse ter falado com Jhonatan e, segundo afirma, a informação do tal “acordo” foi confirmada por ele.

Não se sabe, ainda, qual é o acordo que os delegados propuseram ao assassino confesso. Mas as informações da fonte batem com os comentários da Colunaço do Pêta, do Jornal Pequeno, edição de domingo, 24. Segundo a coluna, Jhonatan de Sousa Silva teria sido ensaiado para, na hora de depor, envolver o nome do deputado Raimundo Cutrim. Só que, no seu depoimento, o pistoleiro teria claudicado um pouco, dando entender de que se esqueceu do que fora ensaiado pelos delegados. Por isso titubeou nas respostas que se referiam ao nome Raimundo Cutrim.

Visita estranha com presentes

Em meio aos fatos divulgados na imprensa sobre a suposta intervenção de delegados, e suspeitas de indícios de manipulação nas investigações do caso Décio Sá, está a visita, no mínimo estranha, dos delegados Jefrey Futado (que preside o inquérito) e Robert Larrat, ao pistoleito Jhonatan Sousa na carceragem da polícia federal, no bairro da Cohama em São Luis, no dia 23 de junho, dois dias depois do vazamento do depoimento do assassino citando o suposto envolvimento do deputado Cutrim.

Na visita, os delegados levaram presentes para o assassino, uma escova de dentes e dois livros. Eles permaneceram cerca de 1h30 com o pistoleiro, já que entraram às 18h20 e só saíram às 19h50.

Desvios dos fatos

Tudo indica que estão querendo desviar as atenções ― e parece que isso já é fato ― e dar um rumo diferente no que concerne aos verdadeiros mandantes do assassinato do jornalista Décio Sá. Sendo assim, alguns detalhes devem ser observados. Um deles, por exemplo, é o fato de que no primeiro depoimento vazado não aparece “Raimundo Cutrim” na fala de Jhonatan Silva, e sim “Cutrim”.

Somente nos posteriores aparece “Raimundo Cutrim” e, depois, “deputado Raimundo Cutrim”. É como se, com a claudicação do assassino no primeiro depoimento ensaiado, tivessem tentado “corrigir” a situação intencional nos depoimentos posteriores. Segundo a coluna do Pêta, a idéia de envolver o nome de Raimundo Cutrim nas investigações do caso Décio Sá, surgiu depois que souberam que o deputado teria feito negócio com Júnior Bolinha. No entanto, conforme a fonte que conversou com Jhonatan, o assassino lhe disse: “Bolinha nunca me falou em Cutrim. Nem em capitão nenhum. As únicas pessoas que ele me falou que estavam mandando matar o jornalista eram ele mesmo [Júnior Bolinha] e um tal de “Neguinho”, que eu não conheço… Só sei porque ele me falou”. Neguinho, citado por Jhonatan, ainda está solto.

Manipulação. Na mesma semana, chegou também à redação do JIB uma informação que está sendo checada e se for verdadeira, comprovará fortes indícios de manipulação nas investigações do caso Décio Sá.

A fonte informou, ainda, que o tal sigilo das investigações tem um objetivo: “manipular os fatos”. Segundo conta a fonte, o preso que falou com Jhonatan lhe disse: “Esse moleque [Jhonatan] tá vacilando… caindo na onda de delegado”.

Outra frase de Jhonatan, dita à fonte do JIB, que precisa ser averiguada é: “Quando Bolinha foi com o Neguinho, não me falou o nome de mais ninguém. Não sei por que envolveram o nome desse deputado”.

Já em entrevista publicada no Jornal ‘O Estado do Maranhão’, na edição de quinta-feira (12 de julho), o assassino afirmou que não tinha certeza se Júnior Bolinha teria mesmo citado o nome do deputado Raimundo Cutrim.

Diante de tudo, o momento é delicado e exige que o secretário de segurança, Aluísio Mendes, reveja as investigações. Se for o caso, o secretário deve afastar os atuais delegados para que outros assumam e conduzam o processo sem parcialidade. Pois, segundo a fonte, parte desses delegados já teve problemas com o deputado Cutrim. Não pode ser que os delegados estejam sendo orientados e, ao mesmo tempo, orientando os investigados.

O denuncismo exacerbado que permeia as investigações, já rendeu reações fortes, como a do deputado estadual Raimundo Cutrim (PSD), que ao falar sobre a citação do seu nome, por Jhonatan de Sousa Silva, criticou o secretário de Segurança Pública do Maranhão, Aluísio Mendes, e chegou a chamá-lo de moleque. “Não aceito o que esse moleque, travestido de secretário, quer fazer comigo. Isso é uma falta de respeito”, argumentou Raimundo Cutrim, falando, ainda, sobre o encaminhamento de um ofício para a Comissão de Investigadores, se colocando à disposição da justiça para esclarecimentos.

O deputado foi muito seguro no seu pronunciamento, e mostrando indignação ainda fez questão de apontar várias falhas no depoimento de Jhonatan Silva e o chamou de “papagaio ensaiado”.

Situação complicada — Com essa situação, ficam mais complicadas as investigações em torno da morte do jornalista Décio Sá. Principalmente porque, entre os investigadores ― segundo fontes com lentes focadas no processo das investigações ― um punhado de gente se aproveitou da situação para envolver o nome do deputado e delegado federal Raimundo Cutrim e, possivelmente ainda, de outras pessoas.

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