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As razões de Dilma para segurar Lupi

Por Kennedy Alencar

A divisão política do PDT, a intenção de enfraquecer feudos partidários e não parecer refém da imprensa foram as três principais razões da sobrevida de Carlos Lupi na pasta do Trabalho. Sobrevida temporária, ressalte-se de passagem.

Pesou menos, mas pesou um pouco, a simpatia pessoal de Dilma por Lupi, que foi companheiro de partido da presidente quando ela pertencia ao PDT de Leonel Brizola.

No PDT, predomina a sensação de que Lupi não tem as credenciais de Brizola para se comportar como caudilho. Se com Brizola tal imagem já era ruim para o partido, é um desastre com Lupi. Nesse contexto, prosperou a contestação interna ao manda-chuva da sigla.

O deputado federal Brizola Neto (RJ) e o senadores Pedro Taques (MT) e Cristóvam Buarque (DF) são bons quadros do PDT que pregam, com razão, uma renovação partidária. Mas Lupi não quer ceder espaço.

Ele deixou a presidência pedetista quando a Comissão de Ética da Presidência, no governo Lula, recomendou que evitasse acumular esse cargo com o de ministro. Foi uma saída de fachada. Na prática, continuou a dar as cartas no PDT. Lupi deixou na presidência um aliado, André Figueiredo, amigo do ministro que, hoje, anda meio louco para dar uma de Brutus.

No tiroteio de acusações de má conduta, Lupi obteve, por ora, a façanha de segurar o movimento que contesta sua permanência no ministério e no leme partidário. A presidente não ignorou essa falta de unidade, o que ajudou o ministro do Trabalho. Sem consenso no partido, Dilma poderia abrir uma outra crise com seus aliados.

As quedas em série de ministros de pastas comandadas pelo mesmo partido havia tempo levaram Dilma a refletir sobre uma reforma ministerial que promova, além da troca de nomes, uma mudança de posições entre as siglas que sustentam seu governo.

No episódio Orlando Silva, houve uma incipiente articulação para tirar o Ministério do Esporte do PC do B e dá-lo ao PT. A contrapartida seria uma troca na Cultura para abrigar os comunistas. Mas vazou antes da hora, as reações negativas foram rápidas, e Dilma abandonou a ideia.

Para realizar uma reforma que acabe com feudos, a presidente precisaria do maior número de cadeiras disponíveis. É complicado envolver na reforma as oito mudanças que já aconteceram no primeiro escalão. Os ministros que entraram em campo ao longo do ano continuarão onde estão.

Cinco pastas receberam novos titulares devido a suspeitas de corrupção: Casa Civil, Transporte, Agricultura, Turismo e Esporte. Na Defesa, Celso Amorim assumiu o lugar de Nelson Jobim devido a desacerto político. Ideli Salvati deixou a Pesca pela Secretaria de Relações Institucionais para Dilma tentar melhorar sua articulação política. O titular anterior da secretaria, Luiz Sérgio, recebeu o ministério de Ideli como prêmio de consolação.

O Trabalho foi esvaziado nos últimos governos e tem 86% do seu orçamento anual (R$ 52 bilhões) carimbado. Leia-se: destinações fixas. Mesmo assim, é um ministério cobiçado politicamente. As DRTs (Delegacias Regionais do Trabalho) estão sob a sua alçada. E o ministro pode dar um empurrão para verbas de repasse para convênios com ONGs e centrais sindicais. Enfim, é uma pasta interessante para as negociações de qualquer reforma ministerial. O PT adoraria voltar a ocupá-la.

Administrar a imagem de que a decisão de degola depende mais dela, a presidente, do que da imprensa ajudou Lupi a obter gás. A versão de faxina implacável estimulada na queda de Alfredo Nascimento dos Transportes gerou incômodos perigosos quando a vassoura se aproximou do PMDB.

Orlando Silva acabou de cair. A saída de Lupi no calor de reportagens estimularia, na visão do Palácio do Planalto, a ideia de uma presidente refém das pressões da mídia. Dilma não gosta de receber de jornalistas conselhos de como governar.

PLANO B

Se um fato novo agravar a situação de Lupi, uma opção é deixar um interino no Trabalho até a reforma ministerial.

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