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As cinzas do carnaval do Governo Roseana Sarney

Por Hugo Freitas*

O polêmico e histórico desfile da Beija-Flor ainda vai gerar muita discussão. O Governo do Estado emitiu Nota na manhã desta quinta-feira (23) agradecendo “o carinho, o empenho e o comprometimento da escola com o Estado”.

A Nota do governo elogia a agremiação carnavalesca pelo fato das “histórias, lendas e cultura únicas” de São Luís terem sido “muito bem representadas no enredo”, desejando a continuidade da escola de Nilópolis em realizar “projetos tão empolgantes e espetaculares”.

Por fim, a Nota do Governo Roseana Sarney é taxativa e certeira: “O desfile de 2012, com certeza, ficará marcado na memória dos maranhenses que são apaixonados por sua terra”.

Disso não resta a menor dúvida. Crê-se que esta é a primeira vez na história do Maranhão, e de São Luís, que governistas e oposicionistas comungam e compartilham o mesmo sentimento de frustração, de decepção e de crítica ao governo Roseana Sarney, que investiu algo em torno de 10 milhões de reais para mostrar as “histórias, lendas e cultura únicas” da cidade, e acabou vendo outra coisa.

O governo considera que os 400 anos da cidade de São Luís foram “muito bem representados” no enredo da escola de samba Beija-Flor, esquecendo-se ou não levando em consideração o fato de, justamente neste quesito, “Enredo”, a escola não ter recebido nenhuma nota 10, na apuração realizada nesta quarta-feira (22) no sambódromo do Rio, o que contribuiu para o “decepcionante” 4º lugar na classificação geral.

A expectativa de muitos era de ver a Beija-Flor, campeã do ano passado, ser novamente campeã este ano com um enredo que traria para a avenida aquilo o que a história tradicional contada pelos “letrados” maranhenses legou à população: “a única capital fundada por franceses”, casarões, “lendas, magias e mistérios”, “Atenas Brasileira”, “o português melhor falado”, artistas, poetas, intelectuais e o próprio Sarney, que sequer foi mencionado.

Já que o governo de sua filha patrocinou a escola, não seria nenhum espanto até mesmo vê-lo desfilando na avenida, considerando-se que ele já foi governador do “Maranhão Novo” (1966-1970) e presidente da Academia Maranhense de Letras.

Sem dúvida alguma, como afirma a Nota do Governo do Estado, “O desfile de 2012, ficará marcado na memória dos maranhenses que são apaixonados por sua terra”.

Se nunca houve consenso no Maranhão em relação à política praticada pelo grupo familiar dominante há quase cinco décadas, bastando lembrar que nas últimas eleições para o cargo de Governador do Maranhão Roseana Sarney e Flávio Dino praticamente dividiram o Estado ao meio, com a discutida vitória da atual governadora por apenas 0,08% de votos de diferença, esta é a primeira vez que tanto os favoráveis aos sarneys quanto os oposicionistas apertaram as mãos e disseram em uníssono: “Jogaram nosso dinheiro no lixo”.

Enquanto a oposição alardeava o infame investimento de 10 milhões de reais para uma escola de samba pelo governo que se retroalimenta de propaganda e o mesmo não faz pela Saúde, Educação, Saneamento e Transporte Público no Estado com o pior IDH do país, os favoráveis ao governo entristeceram-se ao não contemplarem a história que “São Luís merecia”, a dos poetas, casarões, brincadeiras e danças folclóricas. Pelo contrário, ficaram “chocados” ao verem uma história de negros e escravos e das manifestações culturais afro-brasileiras serem expostas na tela da Globo para o mundo inteiro ver.

Será este o começo do fim? Será que isso vai se transmutar em votos nas próximas eleições estaduais, daqui a dois anos? Será que os favoráveis aos sarneys esquecerão esse desfile que não massageou o ego das elites aristocráticas dominantes e que não falou da “identidade de São Luís” e votarão no candidato da oposição “só de mal”? Será que foi um tiro no pé do próprio governo esse milionário e irresponsável “investimento”? Será este o Carnaval mais cinzento da história da vida de Roseana Sarney, cuja empolgação pelos 400 anos de São Luís pode ter sido reduzida a pó? Só o tempo dirá!

*Historiador, Sociólogo e Jornalista

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