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A farsa do PIB e o reconhecimento dos Sarneys de que o MA é o estado mais pobre

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Maranhão, junto com o Piauí, continuam sendo os estados mais pobres do País

O jornal da família Sarney estampou em manchete, neste domingo, afirmativa de que o Maranhão não é mais o estado mais pobre do país. Nos próximos dias, certamente o título deve ser espalhado em outdoors, inclusive em Brasília.

O tema pobreza do Maranhão é um dos assuntos que mais aborrece o senador José Sarney. O coronel odeia quando divulgam que seu estado natal, comandado há quase cinco décadas por seu grupo, é pobre. Segundo o ex-presidente da República, não passa de sofisma da oposição para prejudicá-lo. Invenção dos seus adversários, queixa-se.

Sem mais nem menos, mais que de repente a oligarquia reconhece que o Maranhão é um estado atrasado, pouco desenvolvido e que necessita de avanços.

Quando o jornal do senador José Sarney assevera com destaque, em primeira página, que passamos a ser os penúltimos no ranking de pobreza, ganhando somente do Piauí, é porque, então, éramos os mais pobres, como dois mais dois são quatro. Reconhece o que todos sabiam, mas que a própria oligarquia insistia em esconder.

Para justificar a saída do Maranhão de pior para “menos ruim”, basearam-se no fato de o Produto Interno Bruto (PIB) do Maranhão ter saltado de R$ 45,2 bilhões em 2010 para R$ 52,1 bilhões em 2011. O PIB per capita do estado registrou crescimento, saindo de R$ 6.888,60 em 2010 para R$ 7.852,71 no ano seguinte.

Apesar do Maranhão ter aumentado sua participação no PIB per capita, com uma variação positiva de 1,3%, o PIB per capita do estado equivale a apenas 36% do PIB nacional.

PIB per capita é o produto interno bruto, dividido pela quantidade de habitantes de um determinado lugar. O PIB é a soma de todos os bens desse lugar.

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O resultado, que não condiz com a condição de miséria e atraso vivido pelo povo do Maranhão, reflete os questionamentos que, há algum tempo, vêm sendo feitos por especialistas sobre a insuficiência do PIB como instrumento para medir o progresso e o bem-estar dos países.

O lado social não pode ser medido pelo PIB. Nisso, o Maranhão ainda é o pior em relação aos outros estados da federação.

Por exemplo, o Maranhão disputa com Alagoas a última colocação no Índice de Desenvolvimento Humano. Duas cidades do Maranhão – Fernando Falcão e Marajá do Sena – são detentoras dos piores IDHs do Brasil. O Maranhão é também o estado em que a população tem o menor índice de esperança de vida ao nascer. Das 100 cidades com pior IDH, 20 são do Maranhão. Das 100 cidades com melhor IDH, nenhuma é do Maranhão. Em renda, o Maranhão fica em ultimo lugar, com índice de 0,612.

Da população de 6,5 milhões de habitantes, 1,7 milhão de maranhenses está abaixo da linha de miséria (ganham até R$ 70 por mês). Ficamos em penúltimo lugar na avaliação geral feita pelo Atlas do Desenvolvimento, divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o PNUD (Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento no Brasil), ficando à frente apenas do estado de Alagoas, que obteve resultado 0,631. No ranking apresentado pelos institutos, o Maranhão obteve nota 0,639 – numa que varia entre 0 e 1. Possuímos a segunda pior taxa de mortalidade infantil do país, apenas atrás de Alagoas, com 29 crianças com menos de um ano mortas para cada mil nascidas vivas.

Um dos principais argumentos é que o PIB não leva em consideração temas urgentes, como saúde, pobreza, mudanças climáticas e uso dos recursos naturais, sendo, portanto, necessário definir instrumentos capazes de medir o desenvolvimento das nações de forma mais efetiva, que contemplem não só a produção econômica, mas também outros aspectos relevantes.

A economista americana Hazel Henderson levantou críticas ao modelo do PIB há pelo menos 20 anos. Segundo ela, o critério da riqueza per capita disfarça as desigualdades vigentes, pois a métrica do PIB considera apenas o resultado da atividade econômica sem levar em conta as chamadas externalidades: os custos social e ambiental envolvidos na produção da riqueza.

De acordo com o professor e pesquisador da Faculdade de Economia e Administração da USP, José Eli da Veiga, o PIB usado como indicador de qualidade de vida, de bem-estar, de prosperidade, de progresso, é um equívoco total. Se o número de acidentes aumenta, o PIB também aumenta, porque haverá pessoas sendo atendidas em hospitais; se a população carcerária aumenta, exigindo gastos públicos para manter esse povo todo na cadeia, o PIB aumenta também.

Para o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o indicador econômico Produto Interno Bruto (PIB) é insuficiente para medir o grau de desenvolvimento sustentável do país por não incorporar avaliações dos custos ambientais e sociais. Segundo ele, é preciso um novo paradigma econômico que reconheça a paridade entre os três pilares do desenvolvimento sustentável. O bem-estar social, econômico e ambiental são indivisíveis.

Portanto, não será um PIB, algo que na verdade está aquém das nossas possibilidades (mas que é o dado que o grupo Sarney se agarra para tentar justificar que o estado está melhor) que vai mudar a nossa realidade. Ele é fruto da presença aqui da Alcoa, da Vale, da mineradora de ouro Aurizona – atividade portuária, extrativismo mineral, comércio imobiliário – que quase nada deixam aqui, mas que aumentam o indicador. Ou seja, não há distribuição de renda, apesar do PIB em crescente.

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Afinal de contas, quanto mais cresce o PIB, maior a riqueza gerada pelo país em questão? Não é bem assim. O PIB é uma adição de bens e serviços vendidos e comprados, sem nenhuma distinção entre os que são ou não benéficos para a sociedade. Despesas com acidentes, poluição, contaminações tóxicas, criminalidade ou guerras são consideradas tão relevantes quanto investimentos em habitação, educação, saúde ou transporte público. Exemplos disso são economias oriundas da destruição, das guerras e acidentes ambientais, que movimentam bilhões de dólares e euros em custos diretos e indiretos e são contabilizadas erroneamente no verde, e não no vermelho, tais como o furação Katrina e a Guerra do Iraque, para citar exemplos mais recentes que serviram para girar a fortuna do PIB americano.

As estatísticas mostram, também, que o PIB não é significativamente correlacionado com vários dados, como o desemprego e as desigualdades econômicas, variáveis que são, no entanto, freqüentemente citadas como importantes para a sociedade “que vai bem”.

O PIB tem recebido muitas críticas, que já vêm de alguns dos mais conhecidos economistas, incluindo os laureados com Nobel de Economia (por exemplo, Simon Smith Kuznets, Daniel Kahneman, Robert Solow, Joseph Stiglitz, Amartya Sen e Muhammad Yunus), mas é claro, não foi inventado para medir o progresso, o bem-estar ou a qualidade de vida, mas tão somente para medir o crescimento econômico, que é meio sem o qual não se atingem tais fins.

A economista Hazel Henderson entende, por exemplo, que o padrão de riqueza das nações deve incluir, além de recursos financeiros, ativos da Natureza e os capitais social e intelectual dos povos. Assim, definir em que consiste a riqueza de um país se tornou uma tarefa que exige o exame de vários aspectos econômicos, sociais e ambientais. Sob essa perspectiva, índices elevados de PIB não são mais garantia de desenvolvimento sustentável. Não sabemos, simplesmente olhando a média do PIB, como essa renda é repartida entre as pessoas do lugar. O desenvolvimento econômico de um país é condição necessária, mas não é suficiente para que ocorra o desenvolvimento social e a melhoria nas condições de vida de sua população. A destruição, por exemplo, da Floresta Amazônica é uma atividade que faz avançar o PIB mundial (valor da madeira e do trator para derrubá-la etc.). Em parte alguma se contabilizam a perda do patrimônio natural que resulta disso, nem suas diversas consequências sobre o clima, a biodiversidade, o longo prazo e as necessidades das gerações futuras. Ou seja, o PIB não contabiliza as perdas do patrimônio natural, mas contabiliza positivamente sua destruição organizada.(Fonte: Jean Gadrey. Os Novos Indicadores de Riqueza).

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