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Texto do Pr. Hamilton Rocha ( IBCalhau- São Luis) Publicado na Pagina Gospel do Jornal pequeno do dia 15/12/2019

UMA MANJEDOURA PARA O CORDEIRO DE DEUS

 

“E ela teve seu filho primogênito; envolveu-o em panos e o colocou em uma manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2:7). “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como ovelha muda diante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Isaías 53:7)

                                                                                                Pr. Hamilton Rocha*

 

Ao que tudo indica só havia uma estalagem em Belém. Era uma espécie de albergue. Recinto amplo, protegido por muralhas, coberto, onde os peregrinos podiam, a preço módico, proteger-se do vento, da chuva e do frio. No centro havia uma cisterna para os animais. Estava lotada.

 

A solução foi uma gruta, onde se alojavam animais. Um estábulo. Ou presépio, que teria, segundo a tradição, 12m X 3m altura X 4m largura. Não é certo que houvesse animais lá dentro naquela ocasião. O boi e o jumento ali aparecem por informação de evangelhos apócrifos, que se inspiraram na profecia: “O boi conhece o seu Senhor é o jumento o dono da manjedoura” (Isaías 1:3). A tradição confirma também a gruta (Justino, o mártir, 150 a.D.

 

José improvisou uma manjedoura com pouco de feno e palha onde depositou carinhosamente o recém-nascido que chorava. Aquele vagido ultrapassou os limites daquela gruta para ecoar na história. Nunca uma criança, que ainda não fala, falou tão alto e com tanta eloquência como aquela. Não foi um vagido, foi um brado. Um brado como outro, e só outro, haveria igual: quando em vez da manjedoura, foi numa cruz e nela aquele menino, feito homem exclamou, para morrer logo depois: “Está consumado”.

 

Cristo precisou de uma estalagem para nascer. De uma estalagem que nem era grande coisa; apenas uma hospedaria. E nem isso ele teve. Mas teve uma manjedoura.

 

À falta de uma estalagem – não havia lugar para eles na estalagem – aquela estrebaria foi um excelente lugar para Jesus nascer. Não havia outro melhor. Aquele estábulo foi o local indicado pela Providência para que se consumasse o evento do Natal.

 

Será? Não seria melhor que Jesus nascesse noutro ambiente? Mais limpo, mais digno, mais aristocrata? Num palácio, onde nascem os reis, ele que é o Rei dos reis? Senão num palácio, pelo menos naquela estalagem onde não houve lugar para ele?

 

Não. Tinha que ser. Porque ele era o Cordeiro, e um cordeiro pode nascer num estábulo. “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Como o cordeiro da antiga dispensação deveria ser perfeito, sem mancha, assim o cordeiro da nova dispensação.

 

Cristo não teve pecado, pois qualquer pecado que ele cometesse o indisporia com a missão que o trouxe ao mundo. A impecabilidade ou imaculabilidade de Cristo foi declarada por ele próprio quando perguntou à multidão: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (João 8:46). E atestada pelos seus discípulos e amigos mais íntimos. E aceita pelo consenso universal.

 

Ele era perfeito porque não poderia deixar de ser, uma vez que sendo homem era Deus a um tempo: Deus-homem (Teantropo).

 

Pedro, o apóstolo, que o conheceu de perto, escreveu dele que era um cordeiro imaculado e incontaminado (I Pedro 1:19).

 

O cordeiro destinado ao altar. Holocausto. Expiação. Expiação é remissão. É sentença cumprida e devolução do culpado à liberdade por estar ele quite com a justiça.

 

O pecador é esse culpado que teve a sua culpa extinta porque alguém cumpriu a pena por ele. No Velho Testamento era um cordeiro e no Novo Testamento outro cordeiro, o Cordeiro de Deus. O primeiro morrendo num altar, o segundo morrendo numa cruz.

 

O cordeiro do Velho Testamento era, pois, um antítipo de Cristo. A sua pré-figura. Ou o seu arquétipo. O cordeiro que vai a caminho do sacrifício sem protestar ou sem abrir a boca, como escreveu o profeta Isaías.

 

Ora, para um cordeiro nada melhor do que uma estrebaria, não uma estalagem e muito menos um palácio.  É no curral que o Pastor guarda o seu rebanho.

 

Os hóspedes que tomaram conta da estalagem de Belém, deixando na rua aquele menino que estava para nascer, não sabiam, não podiam saber, que uma manjedoura tinha que ser o berço do Messias.

 

É que tinha que ser. Por determinação da Providência. Aquele menino devia ser pobre e tão pobre como o menino mais pobre. Não tendo para nascer sequer uma enxerga, mas dividindo com os animais o berço em que veio ao mundo. Um berço de palha. De feno. Leito para ele e comedouro para os animais. Uma manjedoura para o Cordeiro de Deus.

 

     A ovelha não é muda: bala. Balido que pode ser triste ou alegre. Quando a ovelha está em perigo, seu balido chega a ser um grito de socorro. Cristo foi essa ovelha muda. Que permaneceu em absoluto silêncio até mesmo nas horas mais difíceis. É o que nos diz o texto sagrado (Isaías 53:7). Cristo foi como uma ovelha muda perante seus tosquiadores.

 

Tosquiar é cortar a lã de um animal. Lã que é muito apreciada se for de ovelha ainda nova. Operação que se realiza pelo menos uma vez por ano: a ovelha é deitada no chão e submetida a ação de tesouras ou de aparelhos mecânicos, como acontece hoje. Nenhum animal gosta disso. E reclama. E defende-se. E esperneia.

 

Pois com Jesus a tosquia foi não para tirar-lhe o pelo, mas a pele. E ele não abriu a boca. Por quê? Não se deu conta do mal que lhe faziam? Ou porque ele tivesse medo até de gritar? Ou seria resignação, sofrendo em silêncio?

 

Não. É que havia outras ovelhas, muitas, cujo destino iria depender da cordura daquela ovelha. Uma ovelha muda salvando ovelhas desgarradas. Por isso o nosso texto é precedido de outro: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair a maldade de todos nós sobre ele” (Isaías 53:6).

 

Para que as ovelhas tresmalhadas voltassem ao redil seria preciso o sacrifício daquela ovelha. E ela aceitou ser o preço dessa redenção, eis porque não abriu a boca, como se precisasse ser arrastada para a imolação.

 

O Cordeiro sabia o fim que o esperava no matadouro, mas não opôs resistência aos seus magarefes. Deixou-se levar, deixou-se abater: Como um cordeiro foi levado ao matadouro.

 

O Calvário começa em Belém. A cruz é uma projeção da manjedoura. Sem encarnação não haveria redenção. O Calvário não foi apenas uma sinistra empreitada dos homens, mas um plano eterno de Deus. Nem aconteceu por acaso, mas premeditadamente. A ovelha sabia disso e ficou quieta. Muda. E com isso salvou muitas ovelhas desgarradas, trazendo-as de volta ao aprisco, de onde nunca mais sairão.

 

  • Pastor da Igreja Batista do Calhau em São Luís do Maranhão

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