Sobre ser bom

JOSÉ LUIZ OLIVEIRA DE ALMEIDA
Corregedor-geral da Justiça
E-mail: [email protected]
Dezembro é um mês especial, cheio de cores, luzes e, acima de tudo, de esperança, pois que é o mês em que se comemora o nascimento de Cristo, daí que, para mim, é mais uma grande oportunidade para perquirir sobre a bondade humana, e tudo o mais que dela decorre: empatia, atenção, gestos nobres, humildade, amor e compaixão.
Pois bem. Sobre a bondade humana, a verdade é que nós nos desacostumamos de praticá-la, na medida em que, não raro, cuidamos apenas dos nossos interesses, pouco importando a vida do semelhante, escapando da nossa percepção que a bondade não é um sacrifício, mas, ao contrário, uma vantagem evolutiva que permitiu à espécie humana sobreviver.
Na verdade, não só nos desacostumamos de ser bons, como também passamos a encarar a bondade com certa desconfiança, quando deveria ser vista como efetivamente é, ou seja, como uma ação capaz de transformar a vida das pessoas.
Nesse sentido, sempre que alguém nos surpreende com um gesto bondoso, somos levados a uma certa desconfiança, para, ressabiados, indagar: O que tem por trás dessa ação? Que interesse moveu beltrano ou sicrano à prática de atos de bondade?
E assim agimos e pensamos por que, infelizmente, a sociedade está doente, admitamos. Nesse cenário, para cada ação bondosa corresponde, quase automaticamente, uma reação de desconfiança, simplesmente por que deixamos de acreditar no ser humano, daí que toda atitude revestida de alguma virtude gera em nós alguma inquietação, uma vez que deixamos de entender a bondade como uma força transformadora, para, ao revés, enxergá-la fruto das nossas decepções – como ações movidas por interesses mesquinhos e oportunistas.
Vivemos, assim, tempos estranhos, nos quais julgamos o semelhante, não pelo que ele verdadeiramente é, mas em face da nossa falsa percepção da realidade, que nos leva a crer que todos são maus e que tudo são ações oportunistas, fruto das avaliações equivocadas que fazemos, calcadas nas nossas pré-compreensões, nos nossos preconceitos e pré-julgamentos.
Diante da nossa canhestra percepção da realidade, seguimos a vida desconfiando de tudo e de todos, tornando as relações muito mais complexas do que deveriam ser, razão pela qual acabamos por construir as nossas relações sob uma grave e perigosa sensação de que, por trás de toda ação/omissão, há sempre algum interesse inconfessável.
Eu, de meu canto, observador atento das relações entre as pessoas, não perdi a fé no ser humano, por isso continuo apostando na sua bondade, sem a qual a sociedade não sobreviveria, afinal, felizmente, não são poucos aqueles que aprenderam com Cristo a amar o próximo incondicionalmente.
Fazer o bem, sem olhar a quem, tem sido a minha obsessão, ciente, como diz a canção popular, de que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã (Legião Urbana).
A despeito das desconfianças geradas pelas complexas relações sociais, o que todos testemunhamos é a reafirmação da bondade humana nas mais singelas manifestações como, por exemplo, o gesto de alguém que cede seu lugar para um idoso no transporte coletivo ou de um desconhecido que ajuda outrem a carregar as compras de supermercado ou a atravessar a rua.
A bondade humana, importa anotar e destacar, é uma força poderosa, movida pelo amor, pela empatia e pela compaixão, capaz de impactar profundamente a vida das pessoas e da sociedade, razão por que é difícil compreender como alguém, podendo agir com bondade, escolhe não fazê-lo.
Por experiência própria, sei que, ao ajudar o semelhante, ao praticar um ato de bondade, nos sentimos mais conectados ao próximo, e, por consequência, mais felizes, ante a certeza de que, com ações que tais, tornamos o mundo um lugar melhor.
Neste mês de dezembro, quando tanto se fala em solidariedade e amor, a bondade humana deve ser praticada como reflexo de uma luz divina que deveria habitar em cada um de nós, inspirados no exemplo do Cristo Jesus, que nos ensinou a praticar o bem – bondade que o levou, inclusive, a perdoar aqueles que o crucificaram.
Todavia, que fique o registro definitivo para reflexão do leitor: a bondade não pode ser apenas inspiração; ela só faz sentido quando se converte em uma prática de vida, daí o chamamento que faço para que, nesse mês de dezembro – e ao longo de todo o ano, claro –, enquanto decoramos nossas casas e trocamos presentes com os entes queridos, não esqueçamos que o mais importante é ser bom, pois a bondade revoluciona e transforma a nossa vida e a do semelhante, tornando-a muito mais confortável e agradável.
É isso.
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