Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão, o precursor da organização policial militar maranhense

CORONEL CARLOS FURTADO*
“A grandeza de uma instituição mede-se pela honra de seus fundadores e pela lealdade dos que preservam sua memória.” — Carlos Furtado
Introdução histórica
O século XIX foi um período decisivo para a formação das estruturas políticas, sociais e militares do Maranhão. Após a consolidação da independência e a reorganização do Império, a província viveu um intenso processo de institucionalização de suas forças de segurança, marcadas pela necessidade de garantir a ordem, combater insurreições e preservar a autoridade do Estado.
É nesse contexto que emerge a figura do Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão, militar de origem maranhense, cuja trajetória se entrelaça com os primórdios da segurança pública organizada no Estado.
Segundo registros do Arquivo Público do Maranhão (Apem) e do Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (1852), Feliciano Falcão nasceu em São Luís, em 31 de maio de 1810, filho do militar português Manuel Antônio Falcão. Sua formação inicial deu-se sob rígida disciplina militar e profundo senso de dever — valores que o acompanharam por toda a vida.
Trajetória militar e política
O nome do Brigadeiro Falcão aparece associado às primeiras forças regulares de segurança da província. Documentos do Relatório da Presidência da Província do Maranhão (1848) mencionam sua atuação como comandante de forças policiais, destacando-se “por prudência, energia e exemplar senso de justiça”.
Em 3 de março de 1852, foi promovido ao posto de Brigadeiro, distinção conferida “aos oficiais de comprovada lealdade ao Império e aos princípios de ordem e disciplina”.
(Relatório do Ministério da Guerra, 1853, p. 142).
Sua carreira combinou a autoridade do comando militar com o senso administrativo do gestor público. Ao longo das décadas de 1840 e 1850, liderou operações de pacificação e reorganização das guardas municipais permanentes e criação da Força Pública — embrião da atual Polícia Militar do Maranhão.
Em correspondência ao então presidente da província, datada de 1854, o Brigadeiro Falcão afirmava:
“A segurança das vilas e freguesias depende menos da força bruta e mais da presença constante da autoridade, que deve ser o espelho da moral e do dever”.
(Carta do Brigadeiro Falcão ao Presidente da Província, Apem, códice 91, fl. 27.)
Essa visão revela um homem de pensamento avançado, consciente de que a função policial era, acima de tudo, um instrumento de civilidade e não apenas de coerção.
Contribuições à organização policial militar maranhense
O legado do Brigadeiro Falcão consolidou-se na reorganização das milícias provinciais e na criação de uma estrutura hierárquica que se tornaria a base da Polícia Militar do Maranhão.
Fontes da época mencionam que sob sua direção “foram uniformizados procedimentos, instituídos códigos disciplinares e reforçado o princípio da obediência e da honra”.
(Relatório da Província, 1856, p. 38).
Por sua conduta exemplar e pela capacidade de unir firmeza e humanidade, passou a ser reconhecido como o precursor da organização policial militar maranhense, inspirando sucessivas gerações de oficiais e praças.
Legado e Memória Institucional
O nome de Feliciano Antônio Falcão transcendeu sua época. No século XX, diversas homenagens foram prestadas em sua memória, especialmente por ocasião das comemorações do centenário da Polícia Militar do Maranhão.
Em editorial publicado no jornal O Estado do Maranhão (edição de 1952), lemos:
“O Brigadeiro Falcão é o símbolo do militar que compreendeu a missão da farda não como instrumento de poder, mas de serviço. Seu exemplo continua a nortear o caráter da corporação maranhense.”
Sua figura representa o elo entre a tradição e a modernidade — entre o tempo dos batalhões provinciais e o presente das forças estruturadas em princípios de legalidade, hierarquia e respeito à cidadania.
Conclusão
O estudo da trajetória do Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão permite compreender não apenas o nascimento de uma instituição, mas também o espírito que a anima desde o século XIX: o amor à ordem, o dever e a honra.
Resgatar sua memória é reafirmar o compromisso com os valores que sustentam a Polícia Militar do Maranhão — valores que, nas palavras deste autor, “mantêm viva a chama da dignidade e da lealdade que moldam a verdadeira alma militar”.
*Carlos Augusto Furtado Moreira é coronel veterano da Polícia Militar do Maranhão, presidente da Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares (Amclam) e da Academia de Letras dos Militares do Brasil (Almebras).
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