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“O amor e o humor salvam o mundo”

LUIZ THADEU NUNES E SILVA
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.           
Instagram: @Luiz.Thadeu                   
Facebook: Luiz Thadeu Silva
E-mail: [email protected]

“O tempo, esse escultor invisível que molda nossa existência, não é apenas o senhor das rugas e da efemeridade da beleza exterior, mas sobretudo o pedagogo da alma.

O tempo ensina, pela dor, que não basta sentir, é preciso elaborar, transformar o sofrimento em sabedoria. Nesse sentido, o pensamento é alquímico: transmuta a angústia em lucidez, o erro em aprendizado, a perda em consciência da finitude. As cicatrizes que carregamos no corpo e na alma são só registros de batalhas travadas, mas, sobretudo, são livros abertos para a leitura da própria condição humana. Cada cicatriz é uma sentença inscrita na carne do tempo, testemunho da vulnerabilidade e da resistência. É nesse arquivo silencioso que o pensamento se alimenta, pois não pensa quem apenas acumula fatos, mas quem ousa interpretar, compreender e transformar a experiência em sentido”, li dias atrás, em uma revista, e anotei. Era uma matéria sobre a passagem do tempo.

O tempo, assim, não é inimigo do pensamento, mas seu cúmplice. Se por um lado ele nos rouba a juventude e a força física, por outro amplia a organização de nossas reflexões, oferecendo-nos uma paleta mais vasta de cores existenciais. Pensar é aprender a tecer com essas cores, a reconhecer a harmonia oculta entre a alegria e a dor, entre a esperança e o desencanto, entre o nascer e o morrer.

Tenho escrito sobre a passagem do tempo, coisa que sempre me fascinou. Ultimamente, venho pensando que o tempo acelerou, ou pelo menos, tenho a ideia que está passando mais rápido, pelo volume de tarefas que faço. O ano passou rápido, já é outubro. Vejo lojas com enfeites natalinos; é o comércio já se ornamentando para as festas de final de ano, na esperança de vender mais, mercantilizando os princípios cristãs, cada vez mais esquecidos. Há tempos o Papai Noel substituiu o menino Jesus, que se fez carne para salvar-nos dos nossos pecados.

A nova religião do mundo é o consumismo; compra-se sem necessidade, acumulando o que não precisamos, gerando desperdícios e lixo.

Não é à toa que a indústria farmacêutica vende cada vez mais drogas para saciar uma sociedade ávida por frascos, ampolas, drágeas e comprimidos milagrosos, e resultados instantâneos. Se come muito, feito glutão, mas não se quer fazer dieta, e tome semaglutida (Ozempic/Wegovy), a tirzepatida (Mounjaro/Zepbound), a liraglutona (Saxenda) e o orlistate (Xenical). Se vive ansioso, em vez de desacelerar o ritmo, e nos entupimos de benzodiazepínicos, conhecidos como “sintomas de ansiedade” e com tarja preta e receita azul, incluindo clonazepam, alprazolam, lorazepam e diazepam. Em caso de depressão, amitriptilina (um tricíclico) e venlafaxina, que são frequentemente usados no tratamento da depressão grave e ansiedade. A mirtazapina também é citada como um dos mais eficazes, embora possa causar ganho de peso. A escolha do tratamento, que pode incluir lítio e cetamina. Com tanta droga no corpo, estamos nos tornando seres químicos.

Em contraponto a tudo isso, li sobre a atriz polonesa, naturalizada brasileira, Berta Loran, que morreu aos 99 anos, na semana passada. Judia, sobrevivente dos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, ambos na Polônia, tinha a alegria de viver. Em entrevista disse que “após tanto sofrimento, resolveu ser atriz cômica, pois o que salva o mundo é o amor e o humor”. Viva Berta Loran.

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