Futuro incerto para a ONU?

OSMAR GOMES DOS SANTOS
Juiz de Direito na Comarca da Ilha de São Luís (MA). Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, da Academia Literária do Maranhão (Alma) e da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras (Amcal)
A Organização das Nações Unidas nasceu em 1945, em um contexto mundial de reconstrução pós-Segunda Guerra e com objetivo de unir nações em torno de objetivos comuns para que erros do passado não se repetissem.
Prestes a completar 80 anos, a Organização enfrenta inúmeros desafios, com destaque para a limitação de receitas e a perda de capital político para resolução de questões essenciais.
Nascida como consequência de um mundo em guerra, adotou justamente uma posição de auxílio humanitário em campos de batalha mundo afora, com destaque para aquelas recorrentes no Oriente Médio e África.
Mas é importante ressaltar que sua atuação vai para além das tentativas de conter conflitos armados e dar proteção a civis. Há que se reconhecer o trabalho árduo realizado em áreas como educação, saúde, alimentação e outras agendas globais.
Justamente por conta dessas importantes pautas, um mundo sem a ONU seria um terreno global em constante instabilidade. Isso porque a paz não se faz apenas ao conter as guerras, mas promover o bem-estar e dar esperança para populações inteiras.
Por falar em agenda, temos aquela que é das mais importantes, que é a 2030. Essa pauta global é seguida por quase todas as nações, que empenham esforços a fim de avançar em 17 pautas essenciais para construção de um mundo melhor.
É esse trabalho, ao custo anual de bilhões de dólares, que ora se encontra ameaçado, pela falta, ou pelo menos, limitação de recursos, que já impactou em corte de gastos, como contratações e até plano de demissões.
A falta de repasses regulares obrigatórios por parte de seus Estados-membros, especialmente Estados Unidos e China, deixa a ONU em posição delicada e fragilizada. Mas não é a primeira vez que a Organização enfrenta tempo de “vacas magras”, como diz jargão popular.
Proposital submeter a ONU a essa condição? Alguns entendem que sim, como forma de reduzir autonomia, arrefecer discursos e ações que contrastem com interesses de grandes potências e ampliar a dependência a estas. A típica situação de ficar com o pires na mão.
Além do fator econômico, a Organização ressente de seu poder político, minado por contradições e falta de alinhamento em torno de questões cruciais para a paz mundial. Países com poder de veto em posições contrárias derrubam esforços para aprovar resoluções importantes e responsabilizar culpados.
Isso tem feito com que as assembleias realizadas não passem de encontros entre líderes mundiais, que falam, falam, falam e nada deliberam de concreto. Ah, para cada assembleia, um impacto de milhões no já combalido cofre da instituição.
“Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada”. Frase atribuída ao filósofo irlandês Edmund Burke, reflete bem a necessidade de adoção de medidas urgentes no cenário mundial atual e do somatório de esforços em favor de uma ONU fortalecida e autônoma.
Na complexa conjuntura global, de polarizações e acirramento de tensões, esse fazer bem depende de organismos como a ONU.
O papel da ONU é inegável em um momento de acirramentos e de uma corrida armamentista sem precedentes na história recente. Mas ela chega a um ponto crucial de sua história e seu modelo precisa ser repensado e reformulado, para que seja um farol a conduzir a construção da paz mundial.
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