
OSMAR GOMES DOS SANTOS
Juiz de Direito na Comarca da Ilha de São Luís (MA). Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, da Academia Literária do Maranhão (Alma) e da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras (Amcal)
Que lição podemos tirar do assassinato do ativista Charlie Kirk, ocorrida há pouco mais de uma semana nos Estados Unidos?
Para essa pergunta é necessário debruçar sobre o cenário político no qual estamos vivendo, não apenas local, mas de proporções globais, dada à nítida polarização ideológica vivenciada.
Polarização esta que não pretendo alimentar aqui, mas que é necessário discuti-la, sob pena de vermos o presente passar sem sabermos quais serão os pilares do futuro que bate à porta.
Fato que o jogo político alimenta posições, que ora se alinham, outros momentos se afastam e se confrontam. Nem mesmo na Grécia – de Aristóteles, considerado um dos maiores sábios e que afirmou ser o homem um ser político – havia unanimidade de ideias.
Falando em ideias, destaco que este é o único confronto que deve haver na cena política. O embate jamais deve debandar para o campo da barbárie, mas sempre na relação retórica de posições ideológicas.
A escritora britânica Evelyn Hall, ao discorrer sobre pensamentos do filósofo Voltaire, atribuiu a ele a expressão “posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.
Essa paráfrase à ideia de liberdade de expressão, apresentada em 1906, no livro “Os Amigos de Voltaire”, sintetiza bem o espírito de tolerância que deve marcar a política, notadamente nos tempos atuais.
Decerto que em algumas partes de globo o debate já não é algo do cotidiano de algumas sociedades. Porém, naquelas ditas democráticas, como aqui ou nos Estados Unidos, a proposta dialógica não pode dar lugar à barbárie.
Para citar essas duas democracias, na história recente, vimos episódios de extremismos sendo cometidos por lados diferentes, tendo como pano de fundo a falsa justificativa da defesa de seus valores, em detrimento do outro, que precisa ser aniquilado.
Na América, tivemos a invasão do capitólio, sucedida pelo assassinato de Kirki. Aqui tivemos de black blocs e outras manifestações violentas à invasão e depredação do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, no episódio do 8 de janeiro.
Em comum, lados politicamente opostos atuando nos extremos, deixando-se transbordar ao radicalismo que afasta da boa política e não aproxima de qualquer ideal de sociedade.
Isso porque jamais teremos uma sociedade uniforme, cunhada nos mesmos ideais e defensora das mesmas bandeiras. O que uns entendem como avanço de direitos, outros entendem como retrocesso.
Alguns querem mais liberdade, flexibilidade, mudanças. Por outro lado, há os que pregam o conservadorismo, manutenção de valores que entendem a base da sociedade.
Que o consenso advenha pura e simplesmente das ideias debatidas.
Não há certo ou errado, mas apenas visões, concepções, ideias diferentes de se olhar para a mesma sociedade. Embates que precisam ser travados dentro do jogo democrático.
Ora se ganha, conquista terreno, avança; noutro instante, é preciso saber retroceder, pisar no freio, compreender que o argumento não logrou êxito. Assim, é possível que a política aristotélica possa ser idealizada para o bem e a felicidade do homem.
Sobre a resposta para a pergunta feita no primeiro parágrafo, a morte do ativista nos ensina que a intolerância é um atalho perigoso para afirmação de nossos ideais e que a palavra e o equilíbrio seguem sendo as melhores armas no campo de batalha da política.
O conteúdo deste blog é livre e seus editores não têm ressalvas na reprodução do conteúdo em outros canais, desde que dados os devidos créditos.