Quando o amor vira saudade

LUIZ THADEU NUNES E SILVA
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
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Silêncio, uma mãe partiu. Quando uma mãe parte o mundo fica mais triste. Disse um poeta que “as mães não deveriam morrer nunca, poderiam ser eternas”. Infelizmente, não é assim.
Perdi minha mãe quando tinha 17 anos. Faz 49 anos que ela partiu, dormindo, de um infarto fulminante. O coração de minha mãe não aguentou. O tempo passou, e a saudade só aumenta. No outono da vida, velho, sou órfão de mãe. Carente do seu amor, de seu zelo, de seu cuidar, de seu olhar. O tempo, esse senhor impiedoso, que nunca para, levando tudo para frente, tenta me afastar de minha mãe. Minha memória, todos os dias, a traz de volta. Até hoje, quando algo não dar certo, quando tudo fica turvo, era no colo de minha mãe que gostaria de me abrigar. Ali estaria seguro.
Não há no mundo amor maior do que o de mãe. São elas que nos geram em seus ventres, são elas que nos protegem de todos os males. Dizem que o tempo arrefece a saudade; não é verdade. O tempo apenas nos ensina a seguir em frente, mutilado, sem sua presença, no caminhar necessário para o continuar da vida.
São as mães que colocam na mesa o prato favorito dos filhos, quando regressam.
São elas que guardam as fotografias de quando somos pequenos, sempre lembrando que nunca deixamos de ser criança para elas. Elas conhecem todos os nossos gostos. Somente as mães rezam todas as noites por suas crias, como se a oração pudesse protegê-los do mundo. Porque, no fundo do coração, uma mãe nunca deixa de se preocupar. Os filhos já adultos, elas aprendem a fazê-lo a partir da sombra. Do canto. Da oração em silêncio. É uma forma de amor invisível, mas que sustenta tudo.
Ser mãe de um filho adulto é aceitar que já não é o centro da vida dele…
E, mesmo assim, amá-lo como se ainda fosses.
Porque existe um amor que nunca desaparece — apenas aprende a esperar pacientemente. Esse é o amor de mãe. Em silêncio.
Há presenças que não precisam de palavras para fazerem sentido. Basta saber que estão ali, mesmo em silêncio, mesmo a distância, para que o peso dos dias difíceis se torne mais leve. As pessoas que amamos, e que nos amam, funcionam como âncoras silenciosas: não evitam a tempestade, mas impedem que nos percamos no meio dela. A mera existência delas na nossa vida suaviza os impactos, dá novo fôlego à esperança e devolve-nos a certeza de que não estamos sós, mesmo quando tudo parece desabar. É no afeto partilhado que encontramos refúgio. É na presença sentida que renascemos.
A verdade é que a vida tem uma habilidade invejável de desmentir nossas convicções. A certeza, essa senhora elegante que costuma nos acompanhar com ar de sabedoria, vira e mexe nos abandona na beira da estrada. Às vezes, ela até muda de lado e passa a ser exatamente a certeza que a gente mais temia, a que não queria, a que preferíamos nunca ter sabido. E quando ela chega, com a força cruel das constatações inevitáveis, tem o gosto amargo das palavras que evitamos, dos sinais que ignoramos, das intuições que sufocamos.
A verdade é que ninguém nos prepara para o silêncio que açoita quando uma mãe parte, deixando respostas nunca respondidas para trás…
Não é só o silêncio do quarto vazio, do lugar à mesa… Mas aquele que se instala suavemente no coração. Quando já não temos a quem pedir um conselho, a quem perguntar o que fazer…
Nesta hora, em que o amor atende pelo nome de saudade… Quero deixar meu abraço para Renato, Lereno e Rinaldo, – meu poeta amigo, e dizer que vocês tiveram o privilégio, a honra e a dádiva de terem a melhor mãe do mundo, presente de DEUS. Dona Gercina partiu, deixando de viver entre nós para viver em nós. Em todos aqueles que desfrutaram de sua companhia mansa, serena e sábia.
Parafraseando Santo Agostinho, digo: “A tristeza de perdê-la não diminui a alegria de tê-la”. Que DEUS console vossos corações: Renato, Lereno e Rinaldo.
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