São Luís, minha Ilha do Amor, faz 413 anos

O escritor Luiz Thadeu no Centro histórico de São Luís (Foto: Socorro Branco)
O bom de cruzar a soleira de casa e andar pelo mundo é conhecer lugares, pessoas, cores, sabores e odores diferentes. Após meu acidente, que me deixou sequelado, – só posso me locomover com muletas; tive o privilégio de pisar em 151 países em todos os continentes. Meus olhos viram o belo, minhas nari nas sentiram cheiros únicos, minhas glândulas gustativas experimentaram sabores, que só poderia conhecer saindo de casa, atravessando oceanos.
Estou fora do Brasil, e de longe, com o sentimento da saudade, posso melhor externar o amor que tenho por São Luís do Maranhão, minha Ilha do Amor.
Sou ilhéu com muita honra, prazer e gratidão. Sou da ilha dos caranguejos. Aqui todos somos juntos e misturados.
Em minhas andanças vi, senti e vivi muitas coisas boas, mas sem deslumbramento. Sei que tudo que vi, foi construído pelos locais; portanto não tem minha digital. Ao contrário de minha cidade, São Luís, onde nasci, fui criado, estudei, constitui família, onde moro e procuro usufruir de tudo que há de melhor. Aqui, sim, tem muito de mim.
Aqui nasceram meus filhos: Rodrigo e Frederico, e recentemente meu neto, Heitor.
Nascido no meio do século passado, vivi muitas coisas que hoje fazem parte de minhas memórias. São Luís, onde até o tempo é regido pelo movimento das marés, é um lugar aprazível. Bucólica, ainda mantém o clima interiorano, mesmo tendo mais de um milhão de habitantes. Terra de boa gastronomia, temos o pescado mais saboroso, a juçara mais apetitosa, o arroz de cuxá mais delicioso que comi na vida. Falo de comida e lembro de um personagem de Josué Montello, que em um almoço, após morar por um tempo em Paris, quis se “amostrar” para os comensais. Após dizer que Paris era isso e aquilo, pensando que estava “abafando”, ouviu da cozinheira da casa. “Lá em Paris tem peixe pedra?” “Não”, “Tem arroz de marisco?”, “Não”. “Tem refresco de murici e de tamarindo?” “Também, Não”.
“Me desculpe o doutor, mas um lugar que não tem peixe pedra, arroz de marisco, refresco de murici ou de tamarindo, não presta”. “Nunca que vou colocar meus pés nessa Paris”. Riso geral.
Esses dias, tomei um sorvete de coco, que o sorveteiro, andarilho, vende na caixa de isopor revestida de alumínio. Muito mais saboroso do que qualquer sobremesa sofisticada. Comprei bacuri e tomei o melhor suco do mundo; melhor que o vinho Romanée Conti, que custa milhares de reais. Recentemente, fui no Mercado das Tulhas, levar amigos que estavam turistando na Ilha. Encantaram-se com o que viram: doce de buriti, doce de espécie, cocada, juçara, peixe seco, camarão, tiquira. Verdadeiras iguarias. Ainda compro cuscuz na porta de casa. Compro os dois: de arroz e de milho, que adiciono leite morno. É de comer ajoelhado.
São Luís, única capital brasileira fundada por franceses, no dia 8 de setembro de 1612, invadida por holandeses, colonizada pelos portugueses, é singular e ao mesmo tempo plural. Moro na Ilha de Upaon-Açu, banhada pelo oceano Atlântico. Patrimônio Cultural da Humanidade. Cidade dos azulejos, capital do reggae, a Jamaica brasileira. Conhecida como Athenas brasileira pelo número de poetas e escritores que aqui nasceram, é em São Luís que ainda se fala o melhor português do Brasil.
Em andanças pelo centro da cidade, descobri uma Cafeteria, na praça João Lisboa. Logo virei habitués. Nada melhor do que sentar no Café, no final de tarde, e assistir ao entardecer: quando o astro rei se recolhe, dando lugar ao luar prateado. Maravilhoso contemplar os lampiões acessos, o mormaço, a calmaria dos transeuntes, após mais um dia que se encerra. Observar os desvalidos que lá perambulam.
Lembro do bonde que por ali passava. Lembro do meu saudoso pai, Luiz Magno, que trabalhava no centro, e tinha o Abrigo da praça João Lisboa como ponto de seu café predileto. Hoje, não existem mais nem o bonde, nem o abrigo e nem meu pai. Tudo ficou no passado, virou memória.
Parabéns, São Luís do Maranhão, pelos seus 413 anos de puro charme, magia, encantos e memórias. Viva a Ilha do Amor.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
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