Travessia segura para a Via Expressa

OSMAR GOMES DOS SANTOS
Juiz de Direito na Comarca da Ilha de São Luís (MA). Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, da Academia Literária do Maranhão (Alma) e da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras (Amcal)
A Via Expressa é uma obra de grande importância para a mobilidade urbana de São Luís, entregue pela então governadora Roseana Sarney, para servir como válvula de escape e alternativa à conturbada Avenida Jerônimo de Albuquerque.
Como o próprio nome sugere, deveria ser uma via de velocidade mais elevada, já que a proposta era dar fluidez ao trânsito, encurtando o trajeto entre áreas de grande circulação de veículos.
A obra foi entregue como planejado, mas, com ela, vieram as casas às margens da via e o consequente aumento do fluxo de pedestres que realizam a travessia diária. Tudo isso sem qualquer segurança e sem a necessária passarela.
Um acidente recente e fatal motivou a instalação de barreiras eletrônicas e a limitação da velocidade a 60 km/h. Um tanto paradoxal para uma via que nasceu com a proposta de ser “expressa”.
Ocorre que o simples fato de limitar a velocidade e instalar sensores para punir quem trafega acima do limite pouco altera o quadro verificado diariamente por quem circula pela via.
Vez por outra passo pelo local e constato situações de extremo risco. Recentemente, em intervalo de poucos segundos, vi duas crianças correndo de mãos dadas para realizar a travessia. Logo depois, um homem, que parecia ser o pai de uma menina, corria para alcançar o outro lado da Expressa.
Tudo isso em meio a veículos que, apesar da limitação, trafegam a mais de 80 km/h. Nos horários de pico, o fluxo é ainda mais intenso, obrigando as pessoas a esperar por longos minutos ou, então, a se arriscarem entre os automóveis.
É certo que as famílias que fixaram residência no entorno dificilmente deixarão suas casas. A tendência, ao contrário, é o aumento do número de casos e de riscos. Surge, então, a pergunta: o que está sendo pensado para garantir a travessia segura dessas pessoas?
Mais uma vez destaco a necessidade de nossa capital adotar um modelo de mobilidade mais moderno, alinhado com as tendências que buscam um trânsito rápido e, ao mesmo tempo, seguro.
Nessa proposta, a passarela se enquadra perfeitamente. Mas é preciso considerá-la como prioridade e ter vontade política para concretizar tal desiderato.
Há algum tempo, ouvi que as passarelas não eram instaladas por dois motivos: o primeiro, o suposto desuso por parte da população; o segundo, o custo, em torno de R$ 1 milhão cada.
Especulações à parte, ambas as justificativas não encontram base minimamente racional. A passarela garante a travessia segura e, se o cidadão estiver consciente da sua importância, certamente fará uso dela.
Quanto ao custo, confesso que, embora possa parecer elevado, é irrisório diante das vidas que já se perderam e daquelas que poderão ser salvas diariamente. Portanto, não se trata de gasto, mas de investimento no maior bem a ser protegido: a vida.
Cito a Via Expressa como exemplo, dada sua relevância. Mas a mesma realidade se aplica a inúmeros outros pontos de travessia na cidade.
Precisamos de um modelo de trânsito que seja compreendido e respeitado por motoristas e pedestres. Todos devem assumir suas responsabilidades para construirmos um trânsito mais seguro.
Enquanto isso não acontece, pessoas seguem arriscando suas vidas em meio aos veículos. Afinal, precisam ir às escolas, ao trabalho, às feiras.
“Passarela” deriva do verbo passar, significando passagem. Em toda e qualquer circunstância da vida, essa passagem deve ser traduzida em segurança.
E, por falar em atravessar, que esse ato seja sempre realizado sem surpresas. Não podemos esperar que outra tragédia aconteça para que medidas sejam finalmente adotadas.
Tragédias ocorrem todos os dias, seja por descuido, seja pela ausência de instrumentos adequados de mobilidade. Caem no esquecimento, passam, mas não para aqueles que se tornaram vítimas da violência no trânsito — cada vez mais acirrada.
Passagem segura para todos. Passarela já!
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