Festival de música marca celebração do Agosto Indígena no CCVM
Sétima edição do Indígenas.BR celebra a potência transformadora das musicalidades dos povos originários

Coletivo Mêntia Hityiti
Dos cantos sagrados dos Awa Guajá, que conectam humanos a seres celestiais, às poderosas vozes das mulheres Gavião-Kyikatêjê, que renasceram das cinzas das queimadas. Das melodias que organizam o mundo Waujá, no Xingu, aos cantos desenhados do Nixi Pae com Ibã Sales Huni Kuin do Acre. Na sétima edição do Indígenas.BR – Festival de Músicas Indígenas, o Centro Cultural Vale Maranhão trará um panorama de expressões sonoras que resistem, curam e reinventam futuros.
De 20 a 23 de agosto, uma programação que destaca a diversidade de músicas, línguas, danças, estilos e saberes dos povos originários ocupará o espaço, trazendo para o centro do debate temas urgentes relacionados aos direitos dos povos indígenas. As músicas indígenas apresentadas falarão de autonomia, de luta territorial e de transmissão oral entre gerações. Seja nas apresentações musicais, nas rodas de conversa sobre arte e resistência ou nos documentários que registram tradições preciosas: o que está em jogo é a própria continuidade dessas cosmovisões milenares.
Assinam a curadoria do festival em dupla, pelo terceiro ano consecutivo, a musicista e pesquisadora Magda Pucci e a jornalista e cantora Djuena Tikuna. Em sua sétima edição, o festival se consolida como um dos principais espaços de debate sobre cultura indígena no Brasil. “O CCVM tem muito prazer e alegria em oferecer casa para todas as etnias do Brasil. Desde os primórdios, as portas estiveram abertas para acolher os indígenas que precisavam de repouso, lugar para vender sua arte, discutir e contar sobre sua cultura e desafios. O festival veio para firmar ainda mais essa vocação e reafirmar o compromisso que assumimos permanentemente com os povos originários”, afirmOU Gabriel Gutierrez, diretor do Centro Cultural Vale Maranhão.
LANÇAMENTO DE ACERVO SONORO
A produção de um acervo sonoro que documenta cantos rituais e cotidianos dos Awá Guajá representa um marco na valorização do patrimônio cultural desse povo de recente contato, que habita as Terras Indígenas Alto Turiaçu, Caru e Awá, além de grupos em isolamento voluntário em Araribóia, todas no Maranhão. Donos de um modo de vida muito particular e de forte ligação com a floresta, eles construíram uma obra inédita, “Karawa Janaha: O Canto dos Karawara”, que registra a arte vocal Awá Guajá e traduz cantos entoados na língua de caçadores celestes, os Karawara.
O Canto dos Karawara é fruto de um trabalho de campo colaborativo realizado com as comunidades das aldeias Awá, Tiracambu e Juriti, no âmbito do subprograma de Fortalecimento Cultural do Plano Básico Ambiental Componente Indígena (PBA-CI), ligado ao licenciamento da Expansão da Estrada de Ferro Carajás (EFC), da Vale S.A., com acompanhamento da Funai e do Ibama, e implementação conduzida pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). A iniciativa visa preservar essas manifestações culturais e ecoar essas vozes dentro e fora das aldeias.
SABER QUE EMERGE DA GARGANTA
Nas culturas indígenas, a música não se limita ao som, é memória viva e ponte entre mundos. Para os povos Timbira, esse entendimento se revela na palavra hõcrepöj, que une o termo “hõ/jõ cre”, que significa garganta, e “pöj”, que seria aparecer, formando o conceito do “saber que emerge da garganta”. Essa concepção mostra que cantar é muito mais do que produzir melodias, é ativar conhecimentos ancestrais, fortalecer laços comunitários e dialogar com o cosmos.
Magda Pucci, cocuradora do evento, faz votos de que esta edição do festival seja um espaço onde as vozes indígenas possam fazer aparecer os saberes que a floresta ainda guarda. “E que todos nós possamos aprender a escutar não apenas com os ouvidos, mas com o coração aberto às muitas formas de conhecer e habitar o mundo”, finalizou.
SERVIÇO
O quê: Indígenas.BR – Festival de Músicas Indígenas
Quando: 20 a 23 de agosto
Onde: CCVM, localizado à Rua Direita, nº 149, Centro Histórico
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