“Velho, não. Entardecido, talvez”

LUIZ THADEU NUNES E SILVA
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
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Coisa boa é atenção e gentileza. Cheguei da Bahia, e encontrei um presente que me deixou feliz e grato; o livro “Pra vida toda valer a pena viver”.
Presente de Maria Auxiliadora Fonseca, que conheci recentemente, em um café em nossa casa. Irmã de Pedro Henrique Fonseca, médico maranhense radicado no Rio de Janeiro. Auxiliadora, Pedro e Mariza Garcia, três cururupuenses, pessoas de boa conversa e ótimo convívio, visitaram-me recentemente.
O livro escrito pela médica geriatra e gerontóloga Ana Claudia Quintana Arantes é um pequeno manual para envelhecer com alegria. Autora do best-seller “A morte é um dia que vale a pena viver”, ambos da editora Sextante, Ana Claudia prende o leitor desde a primeira página. Escreve com maestria e simplicidade sobre assuntos complexos.
“Envelhecer é um processo complexo, que não se limita à saúde física e envolve o bem-estar mental, as emoções e a sociedade”, ensina a autora, que propõe nove pilares para começar a construir hoje uma velhice boa, feliz e preenchida pela coragem de viver, recomendando que se respeite as limitações impostas pelo tempo.
Um dos melhores conceito do que é a vida, afinal? Li neste livro: “Vida é uma condição sexualmente transmissível, incurável, progressiva, podendo levar a diversas incapacidades e, em 100% dos casos, termina em morte. Absolutamente todos nós morreremos”. “O que é preciso fazer para tornar o corpo habitável, a mente sã e o espírito elevado? Como envelhecer bem?”, questões levantadas por Ana Claudia.
Começamos a envelhecer no instante em que nascemos. Envelhecemos um pouco a cada dia, de forma lenta e inexorável. Se tudo der certo, vamos driblando as intempéries, teremos uma vida longa e assim, nos tornamos velhos. E, como disse Woody Allen, renomado cineasta americano: “Nada contra o envelhecimento, já que não se descobriu uma forma melhor de não se morrer jovem”. Allen, aos 88 anos segue produtivo.
Envelhecer é uma dádiva restrita a poucos. A maioria ficou pelo caminho.
Há uma velhice que é bênção, pois carrega em si a travessia dos abismos, a escuta do silêncio, o cansaço fecundo das grandes interrogações. E, há uma juventude que é maldição, quando nasce da recusa de crescer, do horror à introspecção, da fuga desesperada da dor e da complexidade. É esta juventude pálida, travestida de modernidade, que hoje comanda o relógio do mundo, um tempo que gira, mas não avança, que sorri, mas não contempla. Estamos vivendo no cipoal do tempo, como a mitologia de Sísifo e a enorme pedra, condenada a rolar repetidas vezes sem avançar.
Os que chegaram no outono da vida sabem que a vida reside no retorno ao essencial, o vínculo humano genuíno; sabem que a vida se constrói em camadas, o tempo vivido com densidade simbólica. Redescobriram o valor daquilo que não pode ser apressado: o amor, a amizade, a contemplação, o pensamento. Talvez seja a única forma de reencantar a existência, sem cair na armadilha da ilusão, pois o tempo passa para todos.
A efemeridade nos desafia não apenas por sua presença constante, mas por sua pretensão de reconfigurar o que é humano. Resistir a ela é relembrar que, embora tudo passe, o modo como passamos por tudo isso faz toda a diferença.
A verdade é que o conceito de velho ficou velho. A grande conquista social nos últimos cem anos foi envelhecer sem medo: pleno, com metas, planos e projetos de vida. Enquanto há vida, há escolhas. Cada vez mais vemos, vivemos e vivenciamos em nosso entorno, pessoas que se encontram vivas, ativas, altivas e produtivas, sem se preocupar com a idade cronológica.
“O jovem, na flor da juventude, é instável e é arrastado em todas as direções pela fortuna; pelo contrário, o velho ancorou na velhice como em um porto seguro e os bens que antes esperou cheio de ansiedade e de dúvida os possui agora cingidos com firme e agradecida lembrança”, Epicuro.
“Velho, não. Entardecido, talvez.
Antigo, sim. Me tornei antigo porque a vida, tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei como um rio aguarda a cheia”, Mia Couto.
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