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Se não ilumina, elimina

LUIZ THADEU NUNES E SILVA
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.           
Instagram: @Luiz.Thadeu                   
Facebook: Luiz Thadeu Silva
E-mail: [email protected]

A gente chega numa certa idade e só pensa em encontrar alguém com a mesma paz de espírito e tranquilidade que a nossa. Alguém com quem a gente possa sair por aí “sem lenço e sem documento” a desfrutar da companhia, independente do lugar. Alguém que não interfira em nossa saúde mental e nos proporcione um relacionamento divertido e saudável. Alguém que entenda que o dinheiro é apenas um complemento na vida e não uma necessidade constante e cansativa. Alguém que a vontade de sair pra se divertir tenha a mesma intensidade da vontade de ficar em casa assistindo televisão e, se o sono bater, que a gente possa dormir abraçados no meio do filme e, se for preciso assistir tudo de novo pra lembrar, que o mundo não foi feito às pressas. Alguém que converse sobre suas imperfeições, que fale sobre seus medos e decepções e saiba rir de tudo isso. A gente chega numa certa idade e só pensa em encontrar alguém bem resolvido consigo mesmo, alguém que tenha vivido suas histórias e esteja curado de qualquer situação ruim que tenha passado. A gente chega numa certa idade e só pensa em alguém pra dividir nossos dias numa boa, sem crises e desgastes emocionais. Alguém que venha pra somar, que venha pra amar, pra adoçar a nossa vida, dando o seu melhor: atenção e afeto.

Quando entendemos que tudo passa tão rápido, e que nada é nosso, tudo fica mais leve. Nem o corpo que habitamos, nem as pessoas que amamos, nem os bens que acumulamos. Tudo nos é emprestado pela vida e está sujeito às leis da mudança e do fim. A verdade é que nos apegamos a muita coisa e esquecemos que até a própria vida é um sopro, breve, instável, passageiro. Quando finalmente entendemos isso, nasce a leveza, e com ela deixamos de possuir para valorizar e de prender para amar. A impermanência, longe de ser uma tragédia, é o lembrete mais profundo de que cada instante é um presente e autêntico.

Vivemos sob uma ilusão silenciosa, porém devastadora, a de que o cansaço advém primordialmente do excesso de tarefas, da carga de trabalho, das horas extenuantes de atividade produtiva. No entanto, a experiência mais íntima e honesta da existência revela um paradoxo incômodo, o que mais exaure o espírito não é o labor diário, mas a ausência de sentido que frequentemente o acompanha. O que fatiga o corpo não é a intensidade da vida, mas o vazio cotidiano, o automatismo repetitivo, o horizonte sem transcendência.

Há uma fadiga que não se alivia com repouso, porque não é do corpo que emana. É um esgotamento psíquico, uma lassidão da alma, um enfraquecimento silencioso da vontade de viver. Essa fadiga brota do contínuo adiamento de si mesmo, da renúncia aos próprios sonhos em nome de uma existência funcional, mas espiritualmente estérea. Trabalha-se muito, mas vive-se pouco. Executam-se tarefas, acumulam-se metas, cumpre-se o calendário da eficiência, mas tudo isso se dá num palco, onde a profundidade foi soterrada por uma rotina que, embora estável, é essencialmente vazia. Estamos cansados, assoberbados, exauridos de afazeres, deixando passar o melhor da vida. Portanto, se possível, elimine o que não serve, e tente aproveitar os dias que lhe restam da melhor forma possível. De preferência na companhia de gente leve e bacana.

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