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O Rio de Janeiro visto pela pintora inglesa Marianne North (1830 – 1890)

PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA

Em pleno inverno norte-americano, durante uma visita que fez ao pintor Frederic Church, Marianne North entrou em contato pela primeira vez com a paisagem tropical e foi tocada pelo anseio de visitar esses países. Nesta visita ela foi apresentada às obras do seu anfitrião que representavam a natureza luxuriante dos trópicos e partiu para o Rio de Janeiro em agosto de 1872, com o intuito de continuar a sua coleção de estudos de plantas tropicais iniciadas na Jamaica.

Chegou na cidade no mês seguinte e já fica extasiada com a baía de Guanabara, que acha simplesmente linda e “…certamente é a paisagem mais adorável do mundo…” devendo Nápoles e Palermo se contentarem, segundo a viajante, com um segundo lugar em termos de beleza natural.

Hospedou-se no Hotel dos Estrangeiros, situado onde hoje é a Praça José de Alencar no Flamengo, e, em poucos dias, confessa se sentir em casa no Rio. Arrumou um quarto grande e arejado e do alto do hotel tinha uma visão do Pão de Açúcar, do Corcovado e parte da baía, trazendo a ela um grande prazer em estudar as mudanças do tempo neste cenário.

A cidade lhe pareceu aparentada com a Espanha e a Sicília, com casas muito coloridas, avarandadas de diversas maneiras; os telhados projetados em calhas e lambrequins muito ornamentados e coloridos. Chamou-lhe a atenção também o hábito dos moradores de pendurar panos espalhafatosos e flores brilhantes nas varandas e janelas, além de macacos e papagaios que gritavam para os passantes.

As ruas corriam em linha reta do mar para as encostas dos morros. As lojas lhe causaram boa impressão, mas os preços das mercadorias importadas principalmente da Europa eram exorbitantes. Para ela o que havia de mais precioso para um estrangeiro era os produtos naturais, que resume dizendo: “Até seus insetos são pedras preciosas.” E destaca os beija-flores como sua grande tentação.

Visitou o Jardim Botânico várias vezes, tornando-se amiga do então diretor, o austríaco Carl Glasl, cuja administração prolongou-se de 1863 a 1883. A ida para lá já lhe oferecia espetáculos maravilhosos representados pelos jardins de Botafogo, que eram para ela uma interminável delícia e as florestas, que podiam ser chamadas assim em contraste com as matas europeias com pouca diversidade, que aqui ela encontrava tanto nas formas como nas cores. Nas suas visitas ao Jardim Botânico desenhou primeiro a Aleia das Palmeiras Imperiais, mas chamou-lhe também a atenção o Pandano, com suas raízes aéreas; a cânfora, os bambus, a jaqueira e várias outras que não especifica, embora tenha as achado interessantes. Destacou que o Jardim era um local predileto para piqueniques, onde mesas e bancos erram arrumados sob as touceiras de bambus e outras árvores.

Frequentou o Mercado da cidade, provavelmente o do Largo do Paço, que achou maravilhoso, destacando os peixes das mais diversas formas e as laranjas que eram vendidas o dia inteiro.

Notou também a onipresença do trabalho escravo. As escravizadas eram ensinadas por suas donas a bordar, fazer renda, doces, etc. e as mandavam vender pelas ruas. Achou alguns bordados muito bons.

Esteve no Corcovado, para onde subiu a pé e cujo caminho lhe ofereceu maravilhas e belezas infinitas.

Visitou também Paquetá, achando a ilha adorável, cujas praias eram orladas de coqueiros e outras palmeiras graciosas. Havia poucas casas pertencentes a comerciantes do Rio e várias cabanas habitadas por pescadores e fabricantes de cal.

No final de outubro deixou a cidade encaminhando-se para Minas Gerais e ao chegar na Serra da Estrela, lançou ainda um olhar para o Rio e diz que é a vista mais bonita que já viu, cuja beleza era inexprimível.

Como outros viajantes, o que mais lhe chamou a atenção foi a natureza, a qual dedicou boa parte do seu tempo e mereceu do seu pincel ótimos registros.

FONTES:

BANDEIRA, Julio – A viagem ao Brasil de Marianne North 1872 – 1873, Rio de Janeiro, Editora Sextante, 2012.

NORTH, Marianne – Lembranças de uma vida feliz, tradução de Ana Lucia Almeida Gazzola e Julio Jeha, Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 2001.

Rio de Janeiro, sábado, 28 de junho de 2025, às 14:10 horas.

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