A História do Rádio no Maranhão

CLÉSIO MUNIZ*
Se alguém um dia quiser escrever um livro sobre a história da radiofonia no Maranhão, terá que me ouvir e me destinar um capítulo inteiro da obra. Estive na gênese da chamada fase dourada do rádio AM, que se estendeu entre as décadas de 60 e 70, quando ter um receptor colado ao ouvido era quase um ato religioso e locutores recebiam tratamento de divindades.
Programas de sucesso como “Quem Manda é Você” e “Alegria na Taba” funcionavam como plataformas de lançamento para o estrelato. Comandei o primeiro programa da rádio Educadora, destinado ao homem do campo, “Sertão da Minha Terra”, e senti na pele o gosto da fama ainda muito jovem, aos 21 anos. As pessoas buscavam esse contato mais próximo com os locutores, especialmente o público feminino.
A paixão pelo rádio me pegou ainda criança. Filho de José Mariano Muniz e de Luzia Gama Muniz, nasci em Pedreiras, mas passei os primeiros anos em São Luís. Depois mudei-me para Monção, devido ao trabalho de meu pai. Aos 14 anos retornei a São Luís para estudar. Em 1964 comprei meu primeiro rádio de pilha.
“Sertão da Minha Terra” deu à Rádio Educadora o suporte de que precisava para liderar a audiência na Baixada Maranhense. Levado ao ar às primeiras horas da manhã, era o despertador das populações rurais.
Antes de chegar à Educadora, passei pela Rádio Gurupi, onde apresentei o programa musical “Parada de Sucesso”. Aliás, minha passagem pela Gurupi é marcada por um fato curioso. Por meio de José Pires Saboia, consegui um emprego de repórter de ronda policial do jornal O Imparcial, mas o rádio me fascinava. Um dia, Evandro Sarney, ao ouvir minha voz, me escalou para apresentar o “Grande Jornal Falado Gurupi”. No dia seguinte, tornei-me locutor do noticiário, iniciando minha trajetória como radialista.
Na Educadora, ganhei papel de relevo, não apenas por comandar o “Sertão da Minha Terra”, mas por um episódio de cunho político. Nos anos sombrios da ditadura, a rádio se impunha como uma trincheira de resistência ao regime militar. As missionárias Doroty e Francy escreviam editoriais com duras críticas aos militares, que eu lia no ar.
No dia 06/09/1967, véspera do Dia da Independência, li um duro manifesto que questionava a própria essência da data. O tempo fechou. Tanques do Exército cercaram a rádio com ordem para me prender. Escapei pulando o muro da rádio e me escondi na lancha São Sebastião.
Dias depois, fui intimado pelo Serviço de Investigação Federal para prestar esclarecimentos. Expliquei que apenas lera o texto, cumprindo minha obrigação de funcionário da emissora. O militar disse que compreendia meus argumentos, e que o problema não era o teor do editorial, mas a forma como fora lido.
Da Educadora para a Timbira foi uma questão de tempo e oportunidade. Em 1969, passei a apresentar “De Olho no Mundo”, um resumo do noticiário internacional. Os estúdios da Timbira ficavam no último andar do edifício do BEM, e após o trabalho, encontrava-me com amigos como José Chagas, Carlos Cunha e Bandeira Tribuzzi.
Devo a esse trio o ingresso no curso de Direito, em 1972, que mudaria minha trajetória e me faria abandonar o rádio. Os amigos me aconselharam a fazer faculdade e seguir carreira na advocacia ou no Ministério Público.
Antes, em 1970, transferi-me para a Rádio Difusora, onde também fiz história. Ao lado de nomes como Bernardo Coelho de Almeida e Fernando Souza, narrei o célebre “Difusora Opina”. Também apresentei o primeiro telejornal do Maranhão, o “Nível 4”.
Depois da Difusora, ainda passei pela Rádio Ribamar, onde fiz um programa de notícias com Moreira Serra. Ali escrevi a última página de minha trajetória no rádio.
Além do rádio, aventurei-me pela vida pública, antes de me tornar promotor de justiça, cargo em que me aposentei nos anos 90. Fui procurador regional da Funai e delegado de polícia civil.
Como delegado, protagonizei um episódio envolvendo o governador Nunes Freire e o presidente Ernesto Geisel. Nunes Freire queria a prisão de seu secretário de finanças e me escolheu para a missão.
Já no governo Castelo, elaborei o parecer que viabilizou a retomada das obras da Ponte Bandeira Tribuzzi.
Minha história também integra o livro “Faces da Cidade”, de Nonato Reis, a quem agradeço a sensibilidade e relevância histórica.
*Promotor de Justiça Aposentado do Maranhão e titular da cadeira nº 15 da Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares (Amclam), patroneada pelo cantor e percussionista José de Ribamar Viana “Papete”.
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