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Cães recrutas

JOSÉ DE RIBAMAR MALHEIROS*

Era o ano de 1986.O sol ainda cochilava sobre São Luís quando um grupo de policiais militares, liderados pelo Capitão Malheiros, embarcou no Aeroporto Marechal Cunha Machado, com destino a São Paulo. A missão era formar os primeiros adestradores de cães da Polícia Militar do Maranhão. O que parecia ser uma viagem de rotina, na verdade, era o início de um capitulo inédito e corajoso na história da corporação.
Durante semanas, esses homens mergulharam no universo do adestramento de cães policiais. Aprenderam comandos, técnicas de busca, contenção e acima de tudo – a construir confiança com os novos parceiros de trabalho: cães farejadores.

Ao final do curso, a tropa retornaria a São Luís com cinco novos recrutas. Não usavam farda, mas exibiam bravura no olhar: Astor e Tobiu, imponentes pastores alemães de capa preta; King e Onix, dois dobermans enérgicos e atentos; e Grécia, uma rottweiler de presença respeitável.

A jornada de volta foi uma operação à parte. Os cães foram cuidadosamente acomodados em caixas de transporte e levados na caçamba de um caminhão até o aeroporto de Campinas-SP. Lá, uma aeronave de carga da Força Aérea Brasileira com voo marcado para São Luís já os aguardava.

No momento em que foram embarcados no porão da aeronave, os latidos começaram fortes, quase como protesto. Mas, assim que tudo foi ajeitado e a decolagem foi autorizada, o silêncio se impôs – um silêncio tático, quase cerimonial, digno de quem já compreendia o peso da missão.

O voo até São Luís foi tranquilo. No entanto o que aguardava a tropa no desembarque foi tudo menos comum. No pátio do aeroporto, uma multidão se reunia; repórteres com microfones e câmeras, curiosos com olhos brilhantes, crianças em bico de pé e dezenas de policiais militares em forma, ansiosos pela chegada dos novos combatentes. O capitão Malheiros desceu da aeronave com passadas firmes, mas foi nos olhos dos cães que se via o verdadeiro espírito da ocasião.

Tobiu farejou os ares maranhenses, Astor manteve o olhar firme, atento aos sons. Grécia marchou com elegância. King latiu marcando presença, Onix observava tudo com ar quase cerimonial. Um a um, foram apresentados ao público sob aplausos e flashes – os primeiros integrantes do canil da PMMA.

Naquela manhã, não se tratava apenas de uma recepção. Era o nascimento do canil e de uma nova era na corporação. Aqueles cinco cães não eram mascotes; eram patrulheiros, farejadores, companheiros de combate. Comandados por homens como o capitão Malheiros, constituiriam um legado de bravura, fidelidade e serviço.

Hoje, seus nomes talvez não estejam em placas ou estátuas, mas na memória da PM do Maranhão, Tobiu, Astor, King Onix e Grécia sempre serão lembrados como os heróis de quatro patas.

*Acadêmico da Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares (Amclam), titular da cadeira nº 17, patroneada pelo Cel. Alberto Corrêa Maia. JRMalheiros, poeta, escritor, advogado, coronel veterano da Polícia Militar do Maranhão.

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