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Nervosismo, implicações médicas sociais

RUY PALHANO
Psiquiatra, Membro da Academia Maranhense de Medicina e Doutor Honoris Causa – Ciências da Saúde – EBWU (Flórida EUA).

O nervosismo é um estado emocional frequentemente vivenciado em situações de pressão, conflito ou incerteza. Embora seja parte normal da experiência humana, quando recorrente ou intenso, pode trazer prejuízos significativos tanto para a saúde física quanto mental, além de impactar a vida social e profissional dos indivíduos. Apesar de ser comumente confundido com ansiedade ou estresse, o nervosismo possui características próprias que o diferenciam de condições psiquiátricas mais complexas.

Clinicamente, o nervosismo não é reconhecido como um transtorno mental por si só em manuais psiquiátricos como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) ou a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças). No entanto, ele pode ser um sintoma presente em diversas condições, incluindo o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobias específicas, transtorno do pânico e transtorno de ansiedade social. O nervosismo é, essencialmente, uma resposta fisiológica e psicológica a situações percebidas como ameaçadoras ou estressantes, desencadeando uma reação do sistema nervoso simpático.

Os sintomas mais comuns incluem palpitações, sudorese excessiva, tremores, sensação de nó na garganta ou no estômago, dificuldade para se concentrar, irritabilidade e até a percepção de que algo ruim está prestes a acontecer. Em termos fisiológicos, o nervosismo ativa o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, que leva à liberação de cortisol e adrenalina, hormônios responsáveis pela resposta ao estresse. Essa resposta é parte do mecanismo de “luta ou fuga”, evolutivamente projetado para nos proteger em situações de perigo.

Enquanto um nível leve de nervosismo pode ser útil em determinadas circunstâncias, como antes de uma apresentação importante ou durante um exame, quando persistente ou exacerbado, o nervosismo pode interferir no bem-estar emocional e na capacidade de uma pessoa em realizar suas tarefas cotidianas.

Do ponto de vista clínico, o nervosismo crônico pode ser um precursor ou sintoma de transtornos mais graves. A ansiedade generalizada, por exemplo, é uma condição em que o nervosismo é persistente e desproporcional em relação às circunstâncias vivenciadas. Essa situação pode causar uma série de problemas à saúde, desde distúrbios digestivos e hipertensão até doenças cardiovasculares e redução da imunidade.

Outras implicações clínicas incluem o impacto negativo sobre a qualidade do sono. Pessoas que sofrem de nervosismo crônico frequentemente têm dificuldade para relaxar, o que pode levar à insônia. A privação de sono, por sua vez, amplifica a resposta ao estresse, criando um ciclo vicioso que agrava ainda mais os sintomas.

Além disso, o nervosismo crônico pode resultar em sintomas psicossomáticos, ou seja, manifestações físicas resultantes de causas emocionais. Esses sintomas podem variar desde dores de cabeça e problemas gastrointestinais até dores musculares e crises de tensão. Muitas vezes, o tratamento dos sintomas físicos não é eficaz até que a causa emocional subjacente seja identificada e tratada adequadamente.

O nervosismo, especialmente quando crônico, não afeta apenas a saúde física e mental do indivíduo, mas também suas relações interpessoais e seu desempenho social e profissional. Em ambientes de trabalho, por exemplo, o nervosismo pode levar à queda no rendimento, dificuldades de concentração e procrastinação. Esses fatores, somados à irritabilidade e à falta de paciência, podem prejudicar o relacionamento com colegas e superiores.

No âmbito das relações pessoais, o nervosismo pode gerar conflitos, pois pessoas nervosas podem ser mais reativas ou impacientes, o que pode afastar familiares e amigos. Em situações sociais, como eventos ou interações em grupo, o nervosismo pode se manifestar como timidez excessiva ou comportamento de evitamento, levando ao isolamento social.

Tratar o nervosismo exige uma abordagem multifacetada, que pode incluir tanto intervenções psicológicas quanto médicas. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes no tratamento de estados emocionais como o nervosismo, pois ajuda o indivíduo a identificar e modificar padrões de pensamento que contribuem para a resposta nervosa.

Outra abordagem terapêutica é o treinamento em habilidades de relaxamento, como exercícios de respiração profunda, relaxamento muscular progressivo e meditação mindfulness. Essas técnicas ajudam a controlar a ativação fisiológica associada ao nervosismo, promovendo uma sensação de calma e bem-estar.

Em casos mais graves, o uso de medicamentos pode ser necessário. Ansiolíticos e antidepressivos, sob orientação médica, são utilizados para controlar a ativação do sistema nervoso simpático e diminuir os sintomas de ansiedade e nervosismo. No entanto, o uso desses medicamentos deve ser sempre supervisionado por um médico, devido aos seus possíveis efeitos colaterais e ao risco de dependência em alguns casos.

O nervosismo, apesar de ser uma resposta emocional natural a situações de pressão ou ameaça, pode ter implicações significativas para a saúde e a vida social do indivíduo quando se torna crônico ou exacerbado. A identificação precoce dos sinais e sintomas é essencial para que medidas adequadas de tratamento e prevenção sejam adotadas, minimizando o impacto negativo desse estado emocional na vida pessoal e profissional. A combinação de terapias psicológicas, técnicas de relaxamento e mudanças no estilo de vida pode ajudar a controlar e prevenir o nervosismo, promovendo uma vida mais equilibrada e saudável.

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