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RODA DE CONVERSAS: Grupo Grita não para de agitar Anjo da Guarda: prepara Escola de Arte e o seu Jubileu de Ouro

No sentido horário: Carl Pinheiro, Oliveira, Léia, Wharles Lemos, Herbert, Josiel, Zezé Lisboa e Simoney Cunha, na roda de conversas em preparo para a Escola de Arte e 50 Anos do Grita

Com a participação de Herbert de Jesus Santos (jornalista, poeta, prosador e pesquisador), Josiel da Paz (foi ator do Grupo Grita, sociólogo e morador do Anjo da Guarda), Léia Pimenta e Carlos Oliveiros Pimenta (Oliveira, irmãos e, como Herbert, militantes do legendário Clube de Jovens da Madre de Deus, do fim para o começo das décadas de 1960/70), realizou-se das 16 às 18h, de 11 de setembro passado, promovida pelo Grupo Grita, no Teatro Itapicuraíba, a Roda de Conversas com o tema Anjo da Guarda sua História e Tradições, e lema: das Chamas, Nasce um Anjo. O evento, presenciado por alunos de diversos cursos promovidos pelo Grupo Grita, teve a mediação de Zezé Lisboa, atriz, sócia-fundadora do Grupo Grita e arte-educadora.

Contemporâneos de fatos que antecederam à origem do Anjo da Guarda, eles falaram das suas recordações, começando por Josiel da Paz assinalando que 17 famílias vieram, primeiramente, após o fogo nas palafitas do Goiabal, perto da Madre de Deus, e que passaram por um sufoco desde que chegaram, faltando tudo para as suas necessidades básicas, como água potável, para morarem em casas que apenas tempos depois teriam melhores condições. Herbert realçou que o incêndio, assistido por ele, ali, estudante do Liceu, se deu na noitinha de 14.10.1968, consumindo perto de 80 casebres de palha, cujos flagelados ficaram abrigados, precariamente, num prédio onde funciona a Febem, perto da quitanda do popular Zé Albino, até seguirem no dia 28.10., duas semanas depois, para iniciarem a formação do bairro.

“Eu era ativista do Clube de Jovens da Madre de Deus, atuante, cioso e festivo, na comunidade, que providenciou arrecadação de roupas, cobertores, sapatos, e uma peça Se o Anacleto Soubesse, encenada no Teatro da Igreja de São Pantaleão, com o dinheiro da venda dos ingressos para os afetados entregue ao presidente da Associação de Moradores do Bairro, Dico Barata, incansável nos auxílios possíveis, quanto tivemos apoio do Clube de Jovens Católicos de São Pantaleão, e a Igreja, Estado e a Prefeitura cada qual se apresentou para atenuar o padecimento dos atingidos pelo sinistro”! Leia e Oliveira confirmaram as agruras e a solicitação do Clube de Jovens do bairro, quando a Barragem do Bacanga, em abril de 1970, destruiu a Praia da Madre de Deus, e seus residentes ali com os da Tabatinga e da Rampa Manoel Nina, foram para o Anjo da Guarda, e que o Clube pediu na Febem, em vão, que aqueles removidos, com a maioria de famílias de pescadores, ficassem na margem do Rio Bacanga na cercania do Tamancão, para facilitar o acesso aos seus trabalhos na maré.

Herbert retomou a conversa: “Falo de cadeira, pois, em 1968, acompanhei os primeiros trasladados, em caminhões que vinham com eles pelo Maracanã, como vi que não adiantou Léia e Raimundo Teodoro de Carvalho (então, acadêmico de Medicina, com um parente num órgão influente do governo) solicitarem, junto à Cetrap (Companhia Estadual de Transferência de População), criada às pressas, a remoção daquela gente deslocada pela barragem para mais perto! Em 1970, porque minha casa paterna era vizinha da Capela de São Pedro primordial, que foi demolida, acompanhei a minha mãe e irmãos menores, e ficamos na Rua Canadá, Q. 16,, C. 37, num barraco de palha, morando eu também na residência dos meus padrinhos e pais de criação, na Rua do Apicum, preparando-me para o Vestibular da Ufma e concursos para o serviço público! Nós, removidos, apelidamos o Anjo da Guarda de Estrangeiro, por causa das suas vias com nomes de países de todos os continentes, e, inclusive, como  se deu o fim do pagamento dos terrenos, tudo no meu 11.º livro publicado, Um Terço de Memória, Entre o Anjo da Guarda e Capela de Onça, e os Heróis do Boi de Ouro (A História de Fato e de Direito do Bairro Anjo da Guarda).”!

Ao fim das explanações dos convidados, com mediação de Zezé Lisboa, as perguntas dos moços estudantes giraram em mais conhecimentos sobre o incêndio do Goiabal e os primeiros tempos (tormentosos) dos remanejados no Anjo da Guarda, respondidas por Josiel, Léia, Oliveira e Herbert, que assim encerrou: “Assisti à chegada dos jovens Gigi Moreira, Cláudio Silva e Zezé Lisboa para fazer a revolução cultural do Grita; deixei o bairro, com o meu casamento, e, em São Luís, nunca o perdi de vista, ajudando-o no possível, como jornalista, que nem na primeira Via-Sacra, em 1981, que foi, literalmente, um teatro”!

A proveitosa roda de conversas teve ainda a participação de integrantes de proa do Grupo Grita, além de Zezé Lisboa: Wharles Lemos, secretário, Carl Pinheiro, tesoureiro, e Simoney Cunha, presidente.

Chegando aos poucos, com o término das suas aulas, alunos do Grita perguntaram mais sobre o incêndio do Goiabal, os tempos de mais sofrimento dos removidos e sobre o pagamento dos terrenos

PROJETOS ESCOLA DE ARTE E 50 ANOS DO GRITA

O Grupo Grita surgiu em 14 de julho de 1975 e em 1977 se incorporou à dinâmica da comunidade do Bairro do Anjo da Guarda, com uso da metodologia de teatro popular. As principais fontes inspiradoras foram a Federação de Teatro Amador do Estado do Maranhão (Fetama)  e  a  Confederação  Nacional  de  Teatro  Amador (Confenata), e  o  Centro Comunitário Católico do Anjo da Guarda, sempre com uma metodologia que estabelece o teatro como mecanismo de transformação social.

O grupo vem de um processo com os comunitários através de inúmeros projetos desenvolvidos, em que se pontificou a sua monumental Via-Sacra. Grupo Grita: Uma Escola de Arte (2ª edição) é um projeto que visa à realização de três oficinas modulares, nas áreas de dança (com 30 alunos), música (com 20 alunos) e teatro (com 30 alunos), totalizando 90 jovens e adultos da comunidade e de bairros pertencentes ao Distrito Itaqui-Bacanga que assegura o funcionamento dessas atividades por um ano de forma contínua.

O Projeto O Anjo que Acolhe as Artes e Grita: 50 anos, em 2025, tem como objetivo efetuar uma pesquisa histórica de resgate da memória do Anjo da Guarda (São Luís/MA/Brasil), sede do Grupo Grita, com intuito de criar/produzir uma dramaturgia e músicas inéditas (marca do grupo), culminando com um espetáculo teatral, que circulará por várias cidades do Maranhão, em espaços como teatros, escolas e/ou praças que tenham medidas de acessibilidade, em comemoração aos 50 anos do Grupo Grita.

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