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Texto do Pr Hamilton Rocha (IBC – Calhau) – Publicado na PG do dia 07/07/2019

A PRIMEIRA PEDRA

João 8:1-11

Pr. Hamilton Rocha

    Certos críticos costumam insinuar que Jesus se mostrou demasiadamente tolerante com as mulheres. Referem-se ao tratamento dado pelo Mestre à mulher samaritana, à mulher pecadora e, por último, à mulher adúltera, objeto da nossa reflexão.

    Depois de passar a noite no Monte das Oliveiras, Jesus chegou muito cedo ao templo, onde passou a ensinar. A manhã calma foi interrompida por uma dramática e delicada situação: uma mulher fora surpreendida em adultério. Os escribas e fariseus trataram logo de deixar o Senhor em situação extremamente embaraçosa. Eles queriam que Jesus se pronunciasse, mas nosso Senhor se recusou a fazê-lo.

    Jesus compreendeu que a vítima que eles procuravam não era a esposa infiel, mas Ele próprio (v.6). Condenando a mulher, Jesus seria considerado inimigo do povo humilde e desprezado; se não a condenasse seria inimigo da lei de Moisés (Deuteronômio 22:23,24);  condenando a mulher, Jesus estaria contra a si mesmo, pois pregara sempre o amor e o perdão; deixando de condená-la, continuaria contra si mesmo, pois sempre condenara a luxúria. Era, portanto, uma trama bem urdida.

    Ao Sinédrio (tribunal judaico) faltava competência para a aplicação da pena capital. Os romanos tinham cassado aos judeus o “jus gladii” (o direito de punir com a espada) (João 18:31).

    Adúlteros eram eles também, com a diferença de que contra eles inexistia o flagrante. Onde estava o adúltero? Tholuck, teólogo alemão do século XIX, afirmou que nos tempos de Jesus, com a grande dissolução dos costumes, “proeminentes rabinos viviam amasiados”. Além do mais, no ensino de Jesus, adultério não era apenas o ato da conjunção carnal, mas a intenção já configurava o pecado (Mateus 5:28). Na mesma tábua onde se lia “Não matarás”, lia-se também “Não cobiçarás” (Êxodo 20:13,17).

    Jesus inclinou-se a escrever no chão. O que ele escreveu não sabemos. Tal gesto, entretanto, indica que o Senhor não quis nem falar nem ver, tal a repugnância que aquilo lhe causava. Sua repulsa não poderia ter encontrado melhor linguagem que a do silêncio.

     Segundo o Direito Processual dos hebreus cabia às testemunhas atirar as primeiras pedras (Deuteronômio 17:7). Ninguém quis atirar a primeira pedra. Que força misteriosa foi aquela que os teria expulsado da presença de Jesus? Sem dúvida alguma, a consciência. Não houve a necessidade do libelo (peça de acusação). A consciência dispensa formalidades. Cristo fê-los sentar no banco dos réus. Inverteu o jogo. Jogada de mestre. Mas, tendo condenado tacitamente os acusadores, por que Jesus não quis condenar expressamente a acusada? A resposta é simples: Ele não veio para ser juiz (Lucas 12:14).

    Paul Tournier afirmou que “diante de Jesus não há duas categorias humanas, os culpados e os justos. Só há culpados”. Como um psicoterapeuta extraordinário, o Senhor Jesus suscitou culpa naqueles que não a experimentavam. Trouxe a culpa do inconsciente ao nível da consciência. Tornou consciente a culpa reprimida. Retiraram-se mais culpados do que antes.

    Jesus se recusou a declarar a sentença condenatória. Cristo apagou a culpa consciente nela, oferecendo-lhe tempo para sua reabilitação (v.11).

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