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Carlos Lula critica Braide e diz que o eleitor deverá apoiar quem tiver melhores propostas para São Luís

O deputado Carlos Lula critica a gestão do prefeito Eduardo Braide e analisa o atual cenário da sucessão em São Luís


Mesmo tendo desistido do projeto de disputar a Prefeitura de São Luís, nas próximas eleições, o deputado Carlos Lula (PSB) acompanha atentamente toda a movimentação dos pré-candidatos que desejam entrar no jogo da sucessão do prefeito Eduardo Braide (PSD).
Frequentemente, Carlos Lula tem ocupado a tribuna da Assembleia Legislativa para apontar graves problemas na gestão municipal. Ele faz críticas a Braide e adverte que a atual administração enfrenta diversos desafios críticos que podem influenciar a percepção dos eleitores que irão às urnas no próximo dia 6 de outubro.
Na análise do deputado, a insatisfação com a atual gestão pode abrir espaço para candidatos que apresentem propostas concretas e viáveis para resolver as questões mais cruciais.
“A sucessão em São Luís dependerá da capacidade dos candidatos de convencer os eleitores de que possuem as soluções necessárias para melhorar a cidade”, afirma Carlos Lula.
Ele acrescenta que “a eleição em São Luís promete ser um reflexo intenso das necessidades e insatisfações locais, com uma ênfase na avaliação da gestão atual e nas propostas de melhoria dos candidatos”. Sobre os problemas e soluções urgentes e eficazes que a cidade de São Luís precisa, o deputado fala nesta entrevista:
Jornal Pequeno – Qual o cenário que se tem, no momento, para as eleições municipais de outubro no Maranhão?
Carlos Lula – O cenário eleitoral se desenha de maneira interessante e desafiadora. Embora as eleições municipais não sigam necessariamente a mesma lógica das eleições nacionais, é inegável a influência do presidente Lula em nosso estado. Temos observado um crescimento notável do PSB e da aliança PT/PCdoB.
Paradoxalmente, apesar de sermos um estado fortemente identificado com Lula, a tendência é que a direita acumule vitórias na esfera municipal, similarmente ao que ocorreu nas eleições anteriores para o Legislativo estadual e federal. A esquerda, em suas várias vertentes – popular, classista ou socialista – não pode simplesmente lamentar a falta de estrutura e recursos.
Com um eleitorado fortemente lulista no Maranhão, é fundamental que o campo progressista possa se reposicionar no cenário político e eleitoral. Abandonar modelos de organização que não são mais sustentáveis e, com criatividade, desenvolver novas formas de engajamento popular que se afastem também dos métodos mais tradicionais de fazer política.
O desafio é criar novas formas de mobilização social, com agendas claras e que atendam aos anseios da população. A saída é pela reconstrução de nossa base social e parece que esquecemos essa lição.
JP – Como seria hoje a disputa com o bolsonarismo?
Carlos Lula – Estamos vivendo um paradoxo: a disputa com o bolsonarismo, que ataca a democracia e o sistema delineado pela Constituição de 1988, empurrou o campo progressista para o papel de defensor do “sistema”. Curiosamente, cabe à direita atualmente o papel de “insurgente”.
Portanto, se queremos um crescimento orgânico e não apenas de números, é crucial que a esquerda adote uma postura inovadora e pró-ativa, ajustando-se aos novos tempos e buscando formas de engajamento que compreendam o momento em que vivemos, ao mesmo tempo em que defenda os valores democráticos e constitucionais que têm sido a base da nossa sociedade.
JP – O senhor se posiciona contrário a alianças com bolsonaristas para as próximas eleições?
Carlos Lula – Sou contrário a alianças com radicalismos e com quem não possui compromisso claro com a democracia e a pluralidade de ideias de nossa sociedade. Portanto, posiciono-me contrário a alianças com bolsonaristas radicais neste próximo pleito. Essa decisão baseia-se em princípios fundamentais e na coerência com os valores que defendemos.
O bolsonarismo mais radical tem demonstrado, repetidamente, uma postura antidemocrática e desrespeitosa em relação às instituições e aos valores delineados pela Constituição de 1988. Suas práticas e retórica frequentemente atacam direitos humanos, promovem a intolerância e buscam deslegitimar o processo democrático. Formar alianças com esse grupo significaria trair esses princípios fundamentais e comprometer nossa integridade política.
JP – Isso impede uma aliança tática com o PL em uma ou outra cidade?
Carlos Lula – Acredito que não. Essa aliança é possível, desde que esse acordo se faça com compromissos claros de defesa da ordem democrática e de uma agenda de melhorias sociais. Assim, uma aliança com bolsonaristas radicais poderia causar confusão entre os eleitores e enfraquecer a nossa base de apoio, que é majoritariamente progressista.
Nossos eleitores esperam de nós uma postura firme na defesa da democracia, dos direitos humanos e das políticas sociais que sempre foram nosso alicerce. Colaborar com aqueles que atacam esses princípios seria um desserviço à nossa causa e à confiança que nossos eleitores depositam em nós.
Por esses motivos, é essencial manter uma posição clara e coerente, reafirmando nosso compromisso com os valores democráticos e progressistas e buscando alianças que fortaleçam esses ideais, em vez de comprometê-los.
JP – De maneira geral, qual sua impressão sobre a atual conjuntura da sucessão em São Luís: Eduardo Braide, Duarte, Yglésio, Wellington do Curso etc?
Carlos Lula – A atual conjuntura da sucessão em São Luís está marcada por uma competição intensa entre candidatos com perfis diversos. Em grandes capitais como São Luís, as eleições tendem a refletir com maior intensidade o cenário nacional, influenciadas por questões políticas mais amplas e tendências emergentes no país.
Mas, para candidatos que buscam a reeleição, a principal pergunta é se a cidade está satisfeita com a gestão atual ou se merece mais. A administração municipal enfrenta diversos desafios críticos que podem influenciar a percepção dos eleitores.
JP – De um modo geral, qual sua análise quanto à gestão do prefeito Eduardo Braide?
Carlos Lula – Na educação, aproximadamente mil crianças estão fora da sala de aula devido à falta de vagas, o que evidencia um problema grave de gestão e planejamento educacional. Na saúde, os Socorrões não são espaços de dignidade, não há um centro de reabilitação ou uma maternidade municipal, além de uma grande parte da população sem cobertura de atenção básica.
Apenas 39% das gestantes realizam pelo menos seis consultas de pré-natal. Somente 13% das mulheres tiveram coleta de citopatológico na atenção primária em 2023, um procedimento essencial para a prevenção do câncer de colo de útero.
Entre as crianças, 25% não foram vacinadas contra doenças como difteria, tétano e coqueluche. De cada quatro, uma não foi vacinada. O sistema de transporte público em São Luís continua caótico e não apresentou melhorias significativas, afetando a mobilidade urbana e a qualidade de vida dos cidadãos.
JP – Esses problemas irão atrapalhar o projeto de reeleição do atual prefeito?
Carlos Lula – Esses problemas estruturais são pontos críticos que os eleitores provavelmente levarão em consideração ao decidir seu voto. A insatisfação com a atual gestão pode abrir espaço para candidatos que apresentem propostas concretas e viáveis para resolver essas questões.
A sucessão em São Luís dependerá da capacidade dos candidatos de convencer os eleitores de que possuem as soluções necessárias para melhorar a cidade.
Em resumo, a eleição em São Luís promete ser um reflexo intenso das necessidades e insatisfações locais, com uma ênfase na avaliação da gestão atual e nas propostas de melhoria dos candidatos. A cidade precisa de soluções urgentes e eficazes, e os eleitores estarão atentos a quem pode oferecê-las.
JP – Qual sua avaliação sobre o desempenho político e administrativo do governador Carlos Brandão?
Carlos Lula – Essa é uma excelente pergunta porque, este ano inclusive, enquanto houve o imbróglio do TCE, fui acusado de agir como oposição. É importante esclarecer que faço parte do governo Brandão, sou da base aliada do governador e assim permanecerei enquanto seu governo não se distanciar dos princípios, valores e pautas que o elegeram.
Refiro-me a um governo alinhado a princípios que comungo e compactuo, em referência a um projeto político que se desenhou no Maranhão a partir de 2015, com o ex-governador e hoje ministro do STF Flávio Dino.
Como todo governo, há erros e acertos. No geral, há uma composição equilibrada, e o governador demonstra um interesse em manter o estado no rumo certo, tanto do ponto de vista fiscal quanto no ordenamento de políticas públicas.
Este ano, as eleições municipais vão dar o tom do tamanho desta composição. Minha avaliação não é muito diferente do que os analistas já consolidaram em todo o mundo: quanto maior a base aliada, mais difícil consolidar o projeto.
Mas acredito que, com determinação e foco, o governo conseguirá cumprir sua plataforma. Há pessoas qualificadas na gestão, e cito, por exemplo, o secretário de Educação e vice-governador, Felipe Camarão, que tem feito um trabalho de continuidade no que diz respeito à formulação e execução das políticas públicas de educação em nosso estado. A diminuição do indicador de analfabetismo acima da média nacional é só um exemplo.
Acho que podemos melhorar bastante ainda, com uma marca de gestão que seja exemplo para as gerações futuras. Por exemplo, quando fui secretário de saúde, houve uma marca expressiva de gestão: a regionalização dos serviços de saúde. Isso é um legado que fica para além do mandato individual e é o que efetivamente muda a vida das pessoas. Se investirmos em ampliar a participação popular, seja na educação, seja na cultura, seja na assistência social, tenho certeza de que colheremos bons frutos junto à sociedade civil, que é para quem os governos são feitos.
JP – E sobre o desempenho político e administrativo do presidente Lula?
Carlos Lula – O Brasil vive um período de reconstrução da relação institucional do Governo Federal com as unidades federativas. O presidente Lula tem acertado em retomar as conversas e as políticas públicas urgentes que o país necessita. Se pegarmos um exemplo prático, como essa tragédia no Rio Grande do Sul, o apoio do governo tem sido fundamental. Não há uma nota na imprensa sobre falas desastrosas ou sobre brigas entre o governador e o presidente.
Há um esforço conjunto de reconstruir o estado do Rio Grande do Sul. Isso significa que não haverá divergências? De forma alguma. Mas sinaliza uma mudança completa no tratamento do Governo Federal, principalmente no que toca nosso arranjo federativo. Algo impensável no governo anterior, agora nos enche de orgulho, apesar de toda dor e tristeza. Então, sim, há inúmeros acertos na condução do ministro Haddad e da equipe econômica, mas não é um cenário simples. Minha avaliação é de que o governo Lula pode melhorar em alguns pontos sensíveis, mas daí também temos que ponderar os desafios que existem no diálogo com a Câmara e o Senado.
JP – O que mudou na política do Maranhão com a ascensão de Flávio Dino ao STF?
Carlos Lula – A ascensão de Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal trouxe mudanças significativas. Primeiramente, sua saída da cena política estadual abriu espaço para uma nova dinâmica de liderança e alianças. Flávio Dino foi uma figura central no cenário político maranhense e nacional, reconhecido por suas políticas progressistas e pela articulação de uma ampla coalizão de esquerda. Seu governo trouxe um momento virtuoso para o nosso estado.
Com sua ida para o STF, houve uma redistribuição de poder e influência entre os partidos e lideranças locais. A saída de Dino também desencadeou uma busca por novos líderes que possam manter a coesão da base progressista e continuar seu legado de políticas públicas focadas em inclusão social e desenvolvimento econômico. É natural que, nesse momento, seja o governador Carlos Brandão o artífice desse projeto, encarregado de dar continuidade às conquistas iniciadas por Dino.
Flávio Dino está fora da política, mas se engana quem acredita que ele não influencia a sociedade e as eleições, uma vez que ele possui um grande legado. Além dos benefícios concretos na saúde, na educação e nas inúmeras obras entregues, Dino operou uma transição necessária na política maranhense, deixando claro que a administração pública não pode conviver com uma cultura familiar-oligárquica de proceder. Ele inaugurou um novo modo de fazer política e governar. A política existe para benefício das pessoas, não para benefício próprio da classe política. Isso não pode ser esquecido.
Portanto, a presença de Flávio Dino no STF fortalece a representação do Maranhão em uma das mais altas instâncias do Judiciário brasileiro, o que pode influenciar positivamente as políticas públicas e a defesa dos interesses do estado em nível nacional. Sua experiência e visão progressista continuarão contribuindo para decisões importantes que afetem não apenas o Maranhão, mas todo o Brasil.
JP – Com o atual cenário da política, que esboço já se pode ter para a sucessão do governador Brandão em 2026?
Carlos Lula – Acredito que o governador Carlos Brandão sairá para se candidatar ao Senado em 2026, o que torna natural que o vice-governador Felipe Camarão assuma o Governo do Estado. Sendo um governador do PT, a dinâmica das eleições no Maranhão será fortemente influenciada pelo cenário nacional.
A polarização nacional que marcou as últimas eleições deve continuar a ser um fator decisivo em 2026. O embate entre grupos políticos de esquerda e direita tem se intensificado, refletindo-se nas políticas públicas, nas redes sociais e no discurso político geral. Essa polarização será um elemento crucial nas eleições maranhenses, especialmente com um governador do PT no comando.
Temos de lembrar que a política brasileira está cada vez mais marcada pela polarização e pela fragmentação partidária. E essa polarização se intensifica à medida que os extremos políticos ganham mais espaço e voz, enquanto o centro político perde relevância. Essa dinâmica cria um ambiente eleitoral onde a disputa se dá principalmente entre candidatos que representam visões diametralmente opostas.
Com Felipe Camarão no comando, o alinhamento do governo estadual com a administração federal do PT será um fator decisivo, até porque Lula é um grande eleitor no estado do Maranhão. Se o governo federal estiver em alta popularidade, isso poderá beneficiar ainda mais Camarão, proporcionando um ambiente favorável para a continuidade das políticas progressistas e sociais implementadas no estado. Por outro lado, o campo oposicionista ainda não tem uma candidatura clara. Quem irá representar o bolsonarismo no estado do Maranhão? Acredito que esse seja o grande questionamento para as eleições de 2026.
JP – Por fim, qual sua expectativa em relação ao desempenho do PSB nas próximas eleições em todo o Maranhão?
Carlos Lula – A expectativa em relação ao desempenho do PSB nas próximas eleições no Maranhão é bastante positiva. Desde as eleições de 2022, o PSB demonstrou um crescimento significativo, elegendo o governador do estado, um senador e estabelecendo a maior bancada de deputados estaduais na Assembleia Legislativa do Maranhão. Esses feitos colocaram o PSB em uma posição de destaque no cenário político maranhense.
A tendência é que o partido continue a crescer e solidificar sua influência, potencialmente tornando-se o maior partido do estado. No entanto, para que esse crescimento seja sustentável e benéfico a longo prazo, ele precisa ser orgânico. Isso significa que não se trata apenas de aumentar o número de filiados ou eleitos, mas de garantir que todos os que chegam ao PSB compreendam e se identifiquem com sua história, suas bandeiras e suas crenças.
O PSB tem uma trajetória marcada por lutas em prol da justiça social, da igualdade e do desenvolvimento sustentável. Seus novos integrantes precisam estar alinhados com esses valores e dispostos a trabalhar em prol desses objetivos. A expansão do partido deve estar associada ao fortalecimento de suas bases e à promoção de políticas públicas que reflitam suas ideologias.
Em resumo, a expectativa é que o PSB continue sua trajetória ascendente nas próximas eleições, mas é crucial que esse crescimento seja acompanhado de um compromisso profundo com os princípios e valores que fundamentam o partido, garantindo que sua expansão seja tanto numérica quanto qualitativa.

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