Mestre Iguarajara e os 40 anos do Bloco Akomabu
Cedo demais para esquecer: em janeiro de 1987, Iguarajara Costa Santos assumiu a condição de mestre da Bateria do Bloco Akomabu que, neste ano de 2024, completa exatos 40 anos de existência.
Na época, Iguarajara era um adolescente de apenas 17 anos de idade. E foi com uma impressionante vibração que ele comandou a bateria do bloco, saindo à frente dos tocadores de atabaques, cabaças, ganzás e agogôs. Neste ano de 1987, o carnaval de rua de São Luís ganhou um brilho e um ritmo todo especial.
Até hoje, é preciso reconhecer, Iguarajara foi um dos melhores percussionistas que já passaram pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA). Ele saiu pela primeira vez no bloco no carnaval de 1986, e já como mestre de bateria.
Dono de uma profunda intimidade com vários ritmos musicais, ele era um exímio tocador de tambor de crioula, tambor de mina, cura, caixa do Divino Espírito Santo, boi de zabumba, boi da ilha, sotaque de Pindaré e tantos outros.
Nascido no Rio de Janeiro, no dia 25 de março de 1969, Iguarajara veio com sete anos de idade para São Luís, e num terreiro de mina de pessoas de sua família, localizado na Travessa Padre Anchieta, no tradicional bairro Vila Passos, ele começou a conviver com o som dos atabaques, agogôs e do tambor de crioula.
Neto de Mãe Mundica Lalá (uma famosa curadeira de São Luís) e filho de sua sucessora, Mãe Alice Costa Santos, Iguarajara sempre participava de rodas de samba. Depois, tocou em alguns bares até que, no ano de 1985, participou de dois shows de Roberto Ricci no Teatro Artur Azevedo.
No terreiro de sua avó (depois passado para sua mãe), Iguarajara aprendera a tocar tambor da mata e, depois, tambor de crioula.
Em novembro de 1985, ele passou a assistir às reuniões do CCN, então realizadas numa das salas da Igreja dos Remédios, na Rua das Hortas. Começaram, no Salão do Adapi (próximo à hoje Praça da Bíblia e ao antigo Canto da Fabril), os ensaios do bloco, numa época em que o mestre da bateria era Sabará.
Discreto, Iguarajara chegou aos ensaios e começou a sentir os ritmos, revelando logo depois seu talento em matéria de percussão. Com a saída de Sabará, Iguarajara assumiu a condução da bateria que levaria o bloco às ruas do Carnaval de 1986.
Tive a chance de realizar várias entrevistas com Iguarajara. Ele dizia que percussão foi uma coisa que não aprendeu com ninguém. “Isto para mim”, afirmava ele, “é um dom, é uma coisa de mim mesmo. Mas foi depois que comecei a ser militante do CCN que fui realmente me envolver com esse lance de percussão. O afoxé, que peguei de ouvido, é um ritmo que não conhecia antes de entrar no CCN. Mas todos os ritmos que sei não aprendi com ninguém. A única coisa que aprendi foi a usar o ouvido com Roberto Ricci. Engraçado é que eu tocava os ritmos, mas não tinha o ouvido. Nunca sacava o som que eu mesmo estava traduzindo. Foi uma coisa que aprendi mesmo foi com o Roberto Ricci”.
Apesar de tudo, Iguarajara, sempre humilde, ainda se considerava um aprendiz: “Nunca fui convencido com meus ritmos, porque sei que sempre há alguém que toca melhor”, afirmava ele.
Companheiro de percussão de um músico muito jovem, que na época se apresentava apenas como Paulo Henrique, Iguarajara dizia ainda que os ritmos que mais gostava eram a cura e o tambor de crioula. E no afoxé o que ele mais admirava era o ritmo que tinha a bateria do Ilê Aiyê da Bahia.
Iguarajara dizia que ainda não sabia tocar instrumentos de corda e sopro. Ele confessava ter muita vontade de aprender a tocar cavaquinho. Com grande sensibilidade musical, ele assimilava facilmente qualquer ritmo.
“Nunca peguei um pau de chuva na minha vida”, afirmou ele, certa vez, “mas sei que o dia que pegar eu toco perfeitamente bem”.
O pai de Iguarajara, ‘Seu’ José Antônio Costa, tocava tambor de mina, apenas. E a sua madrasta, a mãe-de-santo Maria de Lourdes Costa, era a chefe de um terreiro situado na Rua Paulo Frontim, denominado “Uma Luz no Meu Caminho”, do qual Iguarajara chegou a ser o abatazeiro-guia. Para quem não sabe, Iguarajara era primo de outro músico brilhante, Eliezer, atual mestre da bateria do Akomabu.
Pois bem, resolvi escrever esta singela crônica, nesta primeira quarta-feira de 2024 – dia 3 de janeiro – para prestar uma singela homenagem a quatro pessoas muito importantes no Movimento Negro do Maranhão:
Viva Mestre Iguarajara.
Viva Mestre Sabará.
Viva Mestre Eliezer.
Viva Mundinha Araújo, nossa eterna matriarca do CCN e do Akomabu.
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